O 23º Grito dos Excluídos, realizado em Congonhas nessa quinta-feira (7), questionou os direitos perdidos pelo povo brasileiro e a utilização de barragens de rejeito no atual modelo de mineração. Milhares de pessoas participaram da caminhada levando faixas, cartazes e dizendo palavras de ordem.
“Vivemos tempos difíceis. Direitos e avanços democráticos estão ameaçados. Celebrado aos pés do Senhor Bom Jesus, o Grito dos Excluídos deve nos estimular a continuar lançando as redes nas águas profundas de nossa realidade dura e sofrida; a nos despertar para a solidariedade; a nos encorajar para a organização popular; a renovar nossa esperança; a alimentar nosso compromisso cristão na luta por uma sociedade justa, fraterna e solidária”, disse o arcebispo de Mariana, Dom Geraldo Lyrio Rocha.
Com o objetivo de valorizar a vida e anunciar a esperança de um mundo melhor, construindo ações a fim de fortalecer a classe trabalhadora nas lutas populares, o evento teve como tema “Por direitos e democracia, a luta é todo dia”.
Para Silene Gonçalves, da Escola de Fé e Polícia, o Grito é um momento das lideranças e movimentos eclesiais se reunirem e questionar que independência o Brasil vive. “O dia é da pátria, mas, a maioria das pessoas ainda estão excluídas. Estamos aqui para questionar os nossos direitos que estão indo embora e para lutar por outras formas de governo”, ressaltou.
A marcha de protesto e esperança inciou na praça em frente à Matriz de Nossa Senhora da Conceição e seguiu até o Santuário do Bom Jesus, onde o arcebispo celebou a missa e foi realizada a leitura da Carta Compromisso. Vários padres da arquidiocese participaram da celebraram.
O vigário episcopal da Região Pastoral Mariana Oeste, padre Geraldo Souza, disse da alegria em acolher o Grito dos Excluídos. “Com muita alegria para a nossa região, mais precisamente para a cidade de Congonhas, acolhemos todos nestes dia. Vamos nos colocar aos pés do Bom Jesus e pedir a Ele que abençoe as nossas lutas e nos faça perseverante na caminhada”, afirmou padre Geraldo.
Barragens
Carregando cruzes, que simbolizavam as vidas perdidas com o rompimento da barragem de Fundão, em novembro de 2015, as barragens de rejeito e o atual modelo de mineração na região, principalmente nas cidades de Mariana e Congonhas, foi outro ponto de protesto e reflexão durante a caminhada.
“A barragem de Congonhas se torna ameaçadora, pois fica a 200 metros do povoado. Hoje as pessoas estão com medo, sempre lembrando do que aconteceu em Mariana. É preciso que os órgãos ambientais fiscalizem e defendam a vida do povo”, afirmou padre Paulo Barbosa.
O assessor da Dimensão Sociopolítica, padre Marcelo Santiago, ressaltou que todos devem ser solidários com os atingidos da Bacia do Rio Doce, de Regência a Mariana, e com o povo de Congonhas. “Exigimos que sejam ressarcidos financeiramente pelas empresas responsáveis com este crime socioambiental. Solidarizamos, também, com a população de Congonhas diante da proposta de alteamento da barragem de rejeito. Trazendo o medo de que aconteça aqui, o que aconteceu em Mariana. Insistimos na democratização das decisões e nos direitos das comunidades em dizer não aos projetos de mineração que afetam fortemente a suas vidas e o seu futuro”, disse.
Dia de jejum e oração
O 23° Grito dos Excluídos se incluiu na proposta da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), onde o dia 7 de setembro, data que marca a Independência do Brasil, seria um Dia de Oração e Jejum pelo país.
“Para que não pensemos que, apenas com nossas forças seremos capazes de construir uma nova sociedade, acolhamos a proposta da CNBB de celebrar hoje um dia de oração e jejum pelo Brasil. O Reino de Deus, que queremos ver implantado nesta terra, é dom de Deus e fruto do esforço humano. Com o Bom Jesus, depositamos nossas preces, no coração misericordioso do Pai, implorando que nos ajude com sua graça, a vencer as tormentas do momento presente e conceda paz, justiça, alegria, verdadeiro desenvolvimento e condições dignas de vida e exercício pleno da cidadania a todo o povo brasileiro”, disse Dom Geraldo.
Ao final da missa, a coordenação da Dimensão Sociopolítica realizou uma homenagem a Dom Geraldo pelos os seus 50 anos de ministério presbiteral. O arcebispo agradeceu o carinho e atenção.
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Veja as fotos do 23° Grito dos Excluídos