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Coordenador arquidiocesano de pastoral fala sobre a Campanha da Fraternidade 2017

19 de janeiro de 2017 Arquidiocese

A Campanha da Fraternidade (CF) 2017 terá como tema “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida” e o lema “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2.15). Em entrevista ao Departamento Arquidiocesano de Comunicação (DACOM) o coordenador arquidiocesano de pastoral, padre Geraldo Martins, fala sobre a importância da CF e sobre a sua realidade na Arquidiocese.

Leia a entrevista na íntegra:

DACOM: Como o tema “Fraternidade: Biomas brasileiros e defesa da vida” e o lema “Cultivar e guardar a criação” serão trabalhados nas regiões diocesanas?

Padre Geraldo: É comum as regiões oferecerem encontros de formação para as lideranças das paróquias que as compõem. Nesse encontro, discutem-se também ações concretas que as comunidades podem realizar na vivência do tema da Campanha da Fraternidade. Os agentes que participam desta formação nas regiões tornam-se multiplicadores e animadores da Campanha em suas respectivas paróquias. Em nossa arquidiocese, os Roteiros para os Grupos de Reflexão prestam relevante serviço ao abordar o tema da CF, ajudando, assim, nossas comunidades a tomarem consciência de seu conteúdo.

DACOM: Como esse tema e lema se enquadram na realidade da Arquidiocese?

Padre Geraldo: Em primeiro lugar, o tema nos ajuda a compreender o que são biomas e sua importância no nosso ecossistema. Em segundo lugar, vai nos levar a descobrir qual é o bioma de nossa região, como ele é considerado pela população e quais as implicações que ele provoca em nossa vida. Além disso, o tema e o lema, numa linha de continuidade com as campanhas anteriores, provocam-nos em nosso compromisso na defesa de toda a criação, preservando o meio ambiente na direção da “ecologia integral”, como nos ensina o papa Francisco.

DACOM: Quais ações serão propostas para a Arquidiocese na realização da Campanha da Fraternidade 2017?

Padre Geraldo: A Arquidiocese não possui uma equipe que se encarrega pela dinamização da Campanha da Fraternidade em nível arquidiocesano. Isso é feito nas Regiões Pastorais que animam as paróquias e comunidades a colocarem em prática as sugestões apresentadas pelo Texto Base da CF, além de outras que surgem de acordo com a nossa realidade. Daí a importância de identificarmos bem o bioma no qual vivemos. A Arquidiocese incentiva de maneira forte o empenho das comunidades na Coleta da Solidariedade que, a cada ano, tem mostrado um resultado muito positivo. No ano passado, por exemplo, a Coleta na Arquidiocese somou cerca de R$ 130 mil.

DACOM: Haverá processo de formação próprio da Arquidiocese ou será a ser seguido o modelo nacional? De que maneira?

Padre Geraldo: Como disse acima, a formação se dá nas Regiões e nas paróquias a partir do material oferecido pela CNBB como o texto-base e o DVD, além de outros materiais produzidos por grupos distintos. Para as escolas, grupos de jovens e de famílias também são oferecidos materiais próprios. Tudo isso favorece a ampliação da reflexão e o alcance do debate do tema que não é exclusivo dos católicos, mas diz respeito a toda a sociedade. Em nível arquidiocesano, são oferecidos os Roteiros de Reflexão que aprofundam o tema a partir do texto-base da CF publicado pela CNBB.

DACOM: Quais as reflexões a se fazer a cerca do texto base da campanha, na qual a proposta principal é a diversidade de cada bioma e as relações da vida e  cultura de todos os povos?

Padre Geraldo: O esforço será o de alcançar o objetivo da CF que é despertar nas pessoas a responsabilidade pelo cuidado com a criação e com a vida e a cultura dos povos, claro, sempre iluminados pelo evangelho. O texto-base da CF funciona como uma lanterna que joga luz a iluminar nossos caminhos num tema que nem sempre dominamos que é a questão dos biomas. A maioria de nós não tem ideia de quantos e quais são esses biomas, tampouco conhecemos sua história e como deve ser nossa relação com eles na perspectiva de sua preservação para a promoção da vida em todas as suas expressões. Daí, também, a importância de sabermos a relação que eles têm com as culturas de nossos povos. Ao fazer a leitura da realidade a partir do tema abordado, iluminando-a com a Palavra de Deus e da Igreja, o texto base desperta-nos para nosso compromisso cristão de trabalhar por uma sociedade justa e fraterna. Mostra-nos que não é possível dissociar a fé da vida.

DACOM: Pensando nas contribuições eclesiais de cada bioma e as perspectivas de São João Paulo II, Bento XVI e o Papa Francisco, principalmente por meio dos conhecimentos adquiridos pela leitura do texto da “Laudato Si”, qual a expectativa para a realização dessa campanha no próximo ano?

Padre Geraldo: Vivemos um momento delicado em nosso país, com uma crise política e econômica que parece não ter fim. A ideia de um desenvolvimento a todo custo, desligado do respeito à vida humana e à vida do planeta, desafia-nos a todo instante. Algumas reformas propostas pelo atual governo incidem diretamente em questões ligadas ao tema da Campanha da Fraternidade como é o decreto presidencial que estabelece novas regras para demarcação e homologação de terras indígenas. Diante disso, a expectativa é que a CF ajude a população brasileira a ter um olhar mais crítico para as propostas que defendem um desenvolvimento que sacrifica o meio ambiente, desrespeita a vida e idolatra o dinheiro, o mercado e o lucro. Nada pode se sobrepor à vida e à dignidade humana.

DACOM: Considerando o vasto território da Arquidiocese de Mariana, quais os principais desafios enfrentados ao lidar com as diversidades dos biomas?

Padre Geraldo: Os desafios são muitos e se multiplicam de acordo com cada região. Em áreas de minério, por exemplo, o desafio é fazer a população perceber o ônus que recai sobre seus ombros a partir da exploração do minério pelas grandes empresas. A degradação do meio ambiente, a ameaça às comunidades próximas destas áreas e o lucro exorbitante das mineradoras precisam estar sempre na pauta de discussão dos que só têm olhos para ver o “bônus” gerado pelas empresas. Ainda que existam bônus, a quem eles mais favorecem e a que preço? Esta pergunta que precisa ser feita permanentemente. Em regiões mais agrícolas, temos o desafio do uso do agrotóxico cujas consequências danosas, sobretudo, à vida humana são difíceis de medir. Há, ainda, o problema do desmatamento, das queimadas, da escassez de água, da monocultura. Tudo isso está ligado à questão dos biomas e, às vezes, a gente nem se dá conta. Por isso, é importante recordar o papa Francisco ao afirmar que nós, os seres humanos, “não somos meramente beneficiários, mas guardiões das outras criaturas”. Esta, talvez, seja a grande lição proposta pela CF-2017: tomar consciência da interdependência entre as criaturas como lembra o Catecismo da Igreja Católica no número 2418.

DACOM: Para a Arquidiocese, a Campanha de 2017 segue o contexto relacionado ao meio ambiente e consequentemente reforça o cuidado com o Rio Doce e as áreas afetadas pelo rompimento da barragem. Como o senhor vê a importância dessa discussão?

Padre Geraldo: A preocupação com a preservação do meio ambiente já era discutida na província eclesiástica de Mariana (composta pelas dioceses de Mariana, Itabira/Coronel Fabriciano, Governador Valadares e Caratinga) antes mesmo do crime ambiental provocado pelo rompimento da barragem de Fundão. O rastro de destruição deixado pela atividade mineradora em nossa região obriga a Igreja a posicionar-se de forma profética em defesa dos que mais sofrem com isso. A CF-2017 fortalece nossa reflexão e inspira nossas ações na direção de combater tudo aquilo que signifique ameaça ao meio ambiente, à vida e à dignidade humana. O desastre tecnológico, como alguns têm chamado o rompimento da barragem de Fundão, obriga-nos a definir e cobrar ações que efetivamente recuperem a bacia do Rio Doce e que a preservem de novos crimes como esse. Refletir e viver a CF-2017 sob o cenário do que ocorreu no distrito de Bento Rodrigues, município de Mariana, com consequências ainda incalculáveis ao longo de toda a bacia do Rio Doce, será oportunidade de todos tomarmos consciência de nossa corresponsabilidade política, social e religiosa na promoção e defesa da vida que se manifesta em toda a criação.

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