A primeira Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe dedicou o dia 25 de novembro, quinta-feira, à depuração do convite que Deus e Jesus fazem à Igreja para sua missão, numa perspectiva sinodal, no continente. De acordo com o padre Luís Miguel Modino, membro da Equipe de Comunicação do evento, é possível dizer que a sinodalidade está se tornando um compromisso firme da Assembleia Eclesial, baseado na escuta, que “não tem o propósito de marketing religioso”, mas “implica entrar com os pés descalços nos corações que se abrem e se expressam”, como disse o secretário-geral do Conselho Episcopal Latino Americano (Celam), dom Jorge Eduardo Lozano, em sua saudação no início dos trabalhos.
Para ajudar a pensar sobre o que acontecerá depois do próximo domingo, 28, quando a Assembleia será encerrada, sobre como conseguir que os párocos sejam motivados pela Assembleia Eclesial e pelo caminho sinodal proposto por Francisco, os cardeais Marc Ouellet e Mario Grech, a irmã Liliana Franco e Mauricio López, refletiram sobre o caminho sinodal, no qual o progresso é feito na medida em que ele é vivido e praticado. Uma sinodalidade que não pode ser separada da missão, como lembrou o cardeal Grech, advertindo contra “aqueles grupos e seitas cristãos que promovem uma compreensão individualista e íntima da fé”.
O sonho de uma Igreja sinodal decorre do fato de que “o Papa acredita no Espírito Santo e quer que aprendamos a ouvi-lo melhor em todos os níveis da Igreja”, afirmou o cardeal Ouellet, que ressaltou que “uma Igreja sinodal é uma Igreja que caminha na fé”. Uma sinodalidade que é “um processo, um itinerário de encontro e de conversão”, no qual é necessário “colocar-nos no lugar da humildade, para reconhecer nosso pecado”, nas palavras da irmã Liliana Franco. Não podemos esquecer que “a sinodalidade é inerente ao ser da Igreja”, nas palavras de Mauricio López, algo que “não depende de nós, é uma experiência de graça”.
Mais uma vez, a coletiva de imprensa, que na quinta-feira contou com a presença do cardeal Mario Grech, Emilce Cuda, da irmã Birgit Weiler e do padre Juan Luis Negrón, com a presença de dezenas de jornalistas, a maioria deles em modo virtual, como é norma todos os dias, ajudou a refletir sobre a realidade, neste dia marcado pelo Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra a Mulher, tema já presente desde a oração da manhã.
Também foram abordadas questões relacionadas ao trabalho, ao clericalismo, à participação dos leigos na vida da Igreja, ao cuidado da casa comum e, naturalmente, à sinodalidade, dada a presença do Secretário do Sínodo dos Bispos. A capacidade de organização dos povos do continente, algo nascido da fé e da periferia, foi um dos elementos abordados por Emilce Cuda.
O abuso de poder, algo nascido do clericalismo, é algo que não ajuda na jornada sinodal, que cresce quando a co-responsabilidade é fomentada, o sentimento de que todos são ouvidos. Na América Latina, algo repetido nos últimos dias por alguns dos convidados, sente-se “o sonho de uma Igreja mais sinodal, mas também de uma praxe mais sinodal”, como reconheceu o cardeal Grech, que apelou à compreensão e assumindo que “no Povo de Deus todos devemos aprender, e cada um começa sua jornada em um ponto diferente”.
Para esta sinodalidade, o padre Juan Luis Negrón afirmou a necessidade de humildade, porque “não se pode estar numa experiência sinodal se não for com uma humildade autêntica, sincera, honesta, consigo mesmo, com o povo e com Deus”.
Ao abordar a questão ecológica, Emilce Cuda afirmou que “defender a casa comum não é uma opção econômica ou política, é uma opção de fé, daqueles que levam a sério o chamado para cuidar da Criação”. É uma questão de dar vida à reflexão, porque “não queremos mais documentos, queremos colocá-los em prática”, de acordo com Birgit Weiler.
Entre os testemunhos dos membros da assembleia, muitos dos quais provocam emoções naqueles que os escutam, podemos destacar a voz dos jovens, que pediram à Igreja uma linguagem mais adaptada às suas necessidades, mais prática do que teórica, que diz pouco ou nada aos jovens que muitas vezes a veem como um sistema de algoritmos.
Um Deus vivo que perdura para sempre, cujo Reino não será destruído, é o ensinamento que o cardeal Alvaro Ramazzini descobriu na Palavra de hoje. O cardeal o comparou ao poder do rei, cujas mãos estão atadas por suas próprias leis. Um poder humano e limitado comparado com o poder de Deus, que é o vencedor. Diante disso, ele se perguntava sobre o verdadeiro significado da história.
Em um momento em que a linguagem apocalíptica está presente na liturgia, o bispo de Huehuetenango pediu uma reflexão sobre realidades desconhecidas, tais como a pandemia. Ele perguntou sobre o verdadeiro significado da história em relação aos outros, colocando o discernimento espiritual, ao qual o Documento de Aparecida chama onde “somos chamados a discernir os sinais dos tempos”, um espírito presente nesta Assembleia, que deveria ser o de descobrir o que Deus nos pede em cada uma das realidades que cada um vive.
Estes sinais dos tempos estão presentes na mudança climática, na violência contra as mulheres, nos fenômenos migratórios, acontecimentos que deveriam nos levar a nos perguntar o que eles nos dizem. Como discípulos de Jesus Cristo, devemos nos sentir desafiados, chamados à conversão pastoral, à escuta, à luta pela justiça e pela verdade em relação a Deus, enfatizando a importância da caridade, do amor, porque será o teste no julgamento no final de nossas vidas.
Às vezes, os gestos nos ajudam a vislumbrar imagens do que esperamos. Neste sentido foi significativo, ainda mais nesta Assembleia que busca avançar no caminho da sinodalidade, ver como as mulheres abençoaram os bispos e cardeais no final da celebração, pedindo a bênção e misericórdia de Deus para os pastores da América Latina e do Caribe. Que Ele os olhe com ternura feminina cheia de vida. E que Ele lhes conceda a paz, a fraternidade e a alegria da sinodalidade missionária.
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Texto: CNBB Com informações do padre Luís Miguel Modino, membro da Equipe de Comunicação Assembleia Eclesial
Fotos da coletiva de imprensa são do padre Júlio Caldeira
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