Foto: Vatican Media
A Igreja Católica vive, desde outubro de 2021, o processo sinodal convocado pelo Papa Francisco para a realização do Sínodo dos Bispos 2021- 2023. No atual momento, todas as pessoas são convidadas a participar da fase de escuta. Na Arquidiocese de Mariana, esse momento tem sido vivenciado por meio das escutas nas paróquias e comunidades, bem como por meio do formulário on-line.
Para ajudar a refletir sobre a importância desse tema e do processo sinodal, o Departamento Arquidiocesano de Comunicação (Dacom) compartilha o artigo escrito pelo Vigário Geral da Arquidiocese de Mariana e Pároco da Paróquia Santo Antônio, em Itaverava (MG), Monsenhor Luiz Antônio Reis Costa, na edição nº 323 do Jornal Pastoral.
O Concílio Vaticano II (1962-1965) tornou-se a inspiração e a motivação para uma série de experiências sinodais desenvolvidas nos últimos cinquenta anos. São práticas sinodais que se deram nos mais diferentes níveis: na atuação dos Papas, nas dioceses, nas comunidades e outras instituições e iniciativas eclesiais. Em nosso contexto, tais experiências partiram das assembleias, conselhos, consultas e outras formas de participação. Muitas delas são experiências iniciais e frágeis, outras foram marcadas por limites e ambiguidades, o que – apesar dos pesares – não lhes tira o valor e o mérito e enseja um renovado empenho de aperfeiçoamento, discernimento e purificação.
Ponto de partida irrenunciável é a desafiante tarefa de escutar. Escutar o maior número possível de pessoas, não somente os que estão engajados nas variadas atividades pastorais, mas aqueles que são os frequentadores habituais das nossas celebrações bem como os que se afastaram e os que nunca se aproximaram da Igreja. Tais pessoas costumam ter a coragem de dizer coisas que aqueles que “vivem na Igreja” talvez nem lhes ocorresse mais mencionar. Escutar não somente o que gostaríamos de ouvir, mas principalmente o que as pessoas querem realmente falar. Ouviremos disparates e delírios? Certamente. Mas também muitas verdades e uma série de desabafos.
Não são poucos os que desconfiam de uma oferta de escuta. Duvidam que a sua palavra seja realmente levada a sério ou que, no fim, a sua contribuição seja tida como relevante. Nosso sofrido povo acumula experiências frustrantes de ser falsamente ouvido, de criar expectativas que dão em nada. Um dos organizadores do próximo sínodo, o Cardeal Mário Grech, em recente relatório ressaltou esta preocupação: “o medo e reticência se dão entre alguns grupos de fiéis e do clero. Também se percebe certa desconfiança dos leigos que duvidam de que a sua contribuição será realmente levada em conta”. Mobilizar pessoas e convocar uma escuta tão ampla é uma das tarefas mais desafiantes que se pode assumir. É um compromisso de realmente levar a sério o que foi ouvido. E as vozes que ressoarão, brotarão de um mundo dividido no qual a própria Igreja está inserida e cujas tensões e dramas atravessam também os membros da Igreja. Há muita beleza oriunda do Evangelho, há a permanente ação do Espírito, mas não só. Ideologias, interesses, programas políticos, pressões de grupos organizados “à esquerda e à direita” se mostrarão. Grande escuta clamará por grande discernimento.
Escutando a tudo e a todos, o principal jamais poderá ser esquecido: escutar a Cristo que fundou e conserva a Igreja, e nela vive porque a Igreja é o seu corpo (1 Cor 12,27). Uma escuta que excluísse o Senhor e a fidelidade à sua Palavra já não seria escuta eclesial, mas simples pesquisa de opinião pública com finalidades nebulosas e até desviantes. Escutar não é fácil. Nunca foi. E agora não será diferente. Todavia a dificuldade deve ser corajosamente enfrentada. Certamente existem muitas coisas que o Espírito Santo quer hoje dizer a Igreja; “quem me dera que meu povo me escutasse!” (Sl 80, 13).
Para refletir: A escuta proposta pelo Sínodo demandará espírito de iniciativa, criatividade e respeito pelos interlocutores. Como você e sua comunidade imaginam ou planejam essa importante atividade?
Por: Monsenhor Luiz Antônio Reis Costa
*Texto originalmente publicado na edição nº 323 do Jornal Pastoral. A publicação é especial sobre o Sínodo 2021-2023 e traz diversos textos sobre o assunto. LEIA AQUI
Para responder ao questionário on-line de escuta, acesse: www.arqmariana.com.br/noticia/escuta-do-sinodo/