Uma caminhada por justiça, uma caminhada pela garantia de direitos. Assim foi a Marcha dos Atingidos pela barragem de Fundão na tarde desta terça-feira, 5 de novembro, no Centro de Mariana. Centenas de pessoas, atingidas de toda a bacia do Rio Doce, participaram do ato, que foi organizado pelo MAB Minas Gerais. No caminho, várias falas e gritos de ordem lembravam que poucas coisas foram feitas nesses quatro anos.
“São inúmeras audiências que não chegam aos acordos que os atingidos querem. Por isso, é muito importante, nessa caminhada, que o povo de Mariana lembre que toda a cidade é atingida. Todos precisam se unir na mesma luta, na mesma fé e no mesmo compromisso de solidariedade, de justiça e de paz”, disse padre Geraldo Barbosa, que acompanhou o ato.
Para a atingida Elaine de Sousa participar das atividades do dia 5 de novembro tem duas vertentes. “Esse dia tem um lado triste. São quatro anos e poucas coisas foram resolvidas. Mas, também tem um lado alegre. Aqui podemos reencontrar outras pessoas, ouvir suas histórias e ganhamos forças para continuar na luta”, disse.
Fé e esperança
A caminhada foi encerrada por uma celebração no Santuário de Nossa Senhora do Carmo. A missa foi presidida pelo arcebispo de Mariana, Dom Airton José dos Santos. Na homília, Dom Airton lembrou que essa é uma celebração de fé e de esperança.
“Hoje, celebramos uma memória importante para a nossa arquidiocese. O quarto ano do rompimento da barragem de Fundão. Não é apenas para lembrar do acontecimento. Mas, olhando para o que aconteceu, contemplarmos o futuro e podermos continuar trabalhando para que os direitos que foram retirados, as vidas que foram ceifadas, sejam valorizadas e esses direitos sejam conquistados”, disse o arcebispo.
Dom Airton completou que este é um momento de fé. “Momento de colocar diante de Deus as nossas esperanças. Se estamos aqui, os que vieram de vários lugares, estamos porque a nossa esperança nos garantiu isso. É Jesus Cristo a nossa esperança. Cristo é aquele que nos reúne, que não nos deixa perder a memória. Não podemos esquecer, não podemos deixar de lado as coisas que são significativas. Apesar da tristeza e da dor que muitos de nós carregamos e vamos carregar. Que nós sejamos irmãos entre nós, que nós sejamos fraternos, saibamos nos ajudar, nos acompanhar, para que nenhum se sinta desanimado”, afirmou. O arcebispo também ressaltou que desde o primeiro momento a arquidiocese se fez presente acolhendo e apoiando os atingidos.
Toda a celebração foi preparada pelas comunidades de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo. No final da missa, as 19 vítimas foram lembradas em um ato de compromisso de paz realizado pelas comunidades.
Para o padre Alex Martins, que acompanha os atingidos, celebrar a missa neste dia 5 é muito significativo para todos que foram atingidos pela avalanche de lama. “Em primeiro lugar celebramos a memória do nosso povo, a história da vida de milhares de pessoas que foram expulsas de suas comunidades e que tiveram o seu modo de vida profundamente modificado por causa da lama criminosa do dia 5 de novembro de 2015. Isso não pode cair no esquecimento. É preciso fazer memória. Em segundo lugar, celebramos a esperança de um povo que luta para ter seus direitos garantidos, pessoas que lutam por indenizações, reparações e compensações. Pessoas que esperam não uma vida de luxo, mas apenas a vida simples, vivida com dignidade, em sua casa, com sua família na sua comunidade. Para nós celebrar a fé em Jesus Cristo é renovar no coração essa esperança, é renovar a força e continuar lutando, acreditando e confiando que Deus está ao lado dos que sofrem injustiça e que jamais abandona o desvalido”, disse o presbítero.
Para o militante do MAB, Tiago Alves, essas iniciativas reforçam a jornada de luta por direitos humanos e a defesa permanente que o MAB defende. “O nosso esforço, não só do MAB, mas de todos que defende a vida, a vida em abundância, é construir a esperança. Uma forma de fazermos isso é com os nossos encontros e atividades”, disse.
O coordenador da assessoria técnica da Cáritas Regional, Gladston Figueiredo, que também participou da celebração, afirmou que o esforço da Cáritas em Mariana, nesses 3 anos de assessoria técnica e 4 anos de crime, tem sido o esforço de representar a Igreja em Saída. “Aquela Igreja que nos propõem o Papa Francisco, ao lado do povo, ao lado dos que sofrem, ao lado dos atingidos. Nestes dias, fazendo a memória do rompimento, nós fizemos atos nos três territórios (Mariana, Bento e na zona rural) mostrando a luta e a resistência deste povo”, destacou.
Ao longo do dia, outras celebrações em memória ao rompimento foram realizadas no distrito de Gesteira e em Barra Longa.