Foto: Cândida Maria
“Quando uma mulher cuida da outra, nenhuma está sozinha” e “Seja uma mulher que levanta a outra”. Essas mensagens, escritas em cartazes na ambientação do salão que acolheu o evento, contemplam o espírito do que foi o 9º Encontro de Mulheres da Arquidiocese de Mariana. Realizado nos dias 03 e 04 de março, em Ponte Nova (MG), Região Mariana Leste, o evento reuniu aproximadamente 190 mulheres, advindas de todas as cinco regiões pastorais desta Igreja Particular.
Tendo iniciado na noite de sexta-feira, dia 03, as participantes do Encontro, juntamente com a comunidade local, participaram da Santa Missa de abertura na Igreja Matriz de São Pedro, pertencente à paróquia anfitriã. A celebração foi presidida pelo Pároco e Vigário Episcopal da Região Mariana Leste, Padre Luiz da Paixão Rodrigues, e concelebrada pelo Assessor Arquidiocesano da Dimensão Sociopolítica, Padre Geraldo Martins, e do Colaborador Paroquial, Cônego João de Souza Oliveira, Opraem.
Durante a acolhida às participantes, Padre Luiz da Paixão recordou que o Encontro ocorre sempre durante a Campanha da Fraternidade, estando em comunhão com a CF, e que, em 2023, trouxe o lema: “Você tem fome e sede de quê?”.
“A resposta está muito clara e a Campanha da Fraternidade deste ano nos lembra que fome, em nosso país, é uma triste realidade que dói e mata. O povo tem fome: fome de pão, fome de comida, fome de emprego, de moradia, de saúde, de educação. O povo tem fome, e o Mestre nos diz: ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’. ‘Mulher, você tem sede de quê?’. Tem sede de água potável e gratuita, sede de justiça, de liberdade, de respeito, sede de vida. Hoje clamamos: Não à injustiça, não ao feminicídio, não ao preconceito e ao racismo. Não à fome e ao desperdício. Não à miséria e à ambição. Fome e sede sim: mas de justiça, de partilha e comunhão”, disse Padre Luiz da Paixão.
Além disso, o sacerdote aproveitou a oportunidade para deixar uma mensagem de encorajamento as presentes. “Mulheres, agradecemos a vocês que nos ensinam o valor da ternura e da luta, da alegria e da indignação, da profética teimosia, do amor pela vida, do incansável desejo de amar e serem amadas. Diante dos muitos desafios, não desanimem, não entrem os pontos, não se deixem dominar, não cedam à violência e à opressão. Lutem pela Vida, pela Dignidade e para saciar toda fome e sede”, enfatizou.
Com a palavra, ao final da celebração, o Assessor Arquidiocesano da Dimensão Sociopolítica, Dimensão responsável pela organização do evento, lembrou algumas figuras bíblicas femininas, como as parteiras narradas no livro de Êxodo, a viúva de Sarepta, a Rainha Ester e Maria, mãe de Nosso Senhor, que, para ele, são modelos de promoção e defesa da vida. Ainda, ele provocou dizendo: “não tenham medo de dizer do quê vocês têm fome e sede”.
“Eu diria ainda, vocês têm fome e sede de uma participação mais igualitária na nossa Igreja, de poder estar nas instâncias de decisão — quem diz isso não sou eu, é o Papa Francisco —. […] Fome e sede de uma participação efetiva na Igreja, participando das decisões, orientando, ajudando. Vocês têm fome e sede do fim do feminicídio, da violência contra às mulheres, de um respeito pela dignidade. Ao trazer aqui a nossa palavra da nossa Arquidiocese, nós queremos reafirmar a confiança que temos, o respeito que devemos. Queremos também pedir perdão, pelas vezes que nós as ofendemos, não as respeitamos, não nos solidarizamos com vocês, sobretudo, nós, do ministério ordenado, que agimos considerando-as muito mais como funcionárias do que como participantes ativas da missão pela dignidade batismal que cada uma tem na vida da Igreja. Nós queremos reafirmar: vocês são importantes, imprescindíveis e indispensáveis na vida da nossa Igreja, na vida da nossa sociedade”, sublinhou o Padre Geraldo Martins dirigindo-se às mulheres.
O primeiro dia do encontro foi encerrado com um momento de confraternização e partilha entre as participantes.
O segundo dia do evento foi marcado pela reflexão do tema e lema do 9º Encontro de Mulheres da Arquidiocese de Mariana. A programação foi aberta com a oração, momento em que, durante a recordação da vida, foram lembradas as mulheres que, em sua maioria, atuaram nas pastorais e movimentos na Arquidiocese que faleceram nos últimos anos. Em seguida, foram realizadas duas palestras: “Mulher: força e perseverança no cuidado com a vida”, proferida por Sheilla Lourdes de Oliveira Forza, e “Tem sede e fome de quê”?, com a participação de Bruna Monalisa.
As conferencistas, de modo geral, por meio das suas falas reforçaram sobre a importância da união feminina, por meio das lutas e sonhos coletivos, destacaram a necessidade das mulheres ocuparem cada vez mais os espaços públicos, especialmente, os de poder e serem as autoras das suas próprias histórias. Já durante a tarde, foram realizadas as oficinas do Encontro, momento importante para o diálogo, ouvir as histórias de luta e resistências das mulheres e reflexão sobre os direitos femininos.
De maneira poética, o evento foi encerrado com a realização da plenária, quando as participantes apresentaram sobre o que foi discutido e trabalhado em cada oficina Em seguida, houve a oração e bênção de envio.
Expressando a alegria da Região Mariana Leste e, em especial, a Paróquia São Pedro de Ponte Nova em sediar o Encontro, a Coordenadora Local do Evento, Dilma Martins Ferraz Oliveira, destacou a participação expressiva de todas as regiões no Encontro. “É muito gratificante, muito bom mesmo, a gente está assim, olhando no olho de cada uma, e sentindo ardendo o coração [de alegria]”, disse.
Após dois anos acontecendo de modo on-line em razão da pandemia, a 9ª edição do Encontro de Mulheres foi marcado pelos reencontros. Para Dilma, ao olhar a Igreja Matriz cheia durante a abertura do evento e saber quantos abraços poderiam ser dados durante os dois dias foi um momento de felicidade. “A gente estava com saudade desse calor humano, [de estar] com tanta mulher bacana de todos os cantos da Arquidiocese. Então, foi como se fosse o primeiro encontro”, frisou.
Segundo Dilma, uma palavra que resume o Encontro é gratidão. “É gratidão, é amor, é tudo saber que a gente deu conta de acolher. Foi muito gostoso mesmo. A gente estava preocupado com isso, com aquilo, mas no fim, tudo se multiplicou, tudo saiu maravilhoso. Todo mundo feliz e voltando para casa com vontade de que esse encontro continuasse por pelo menos mais uns dois dias”, destacou a Coordenadora local, agradecendo a todas as pessoas envolvidas na organização do evento.
Participando pela primeira vez do evento, Lourdes Maria da Silva de Senhora de Oliveira (MG), Região Mariana Centro, compartilhou que o Encontro a fez perceber que “a Igreja apoia também as mulheres que estão em situação de vulnerabilidade, abrindo espaços e apoiando para que elas possam se unirem e se fortalecerem. Com isso, a mulher passa a ter visibilidade na sociedade, ganhando forças para atuar em todas as áreas sociais, antes ocupadas apenas pelos homens”.
Para a Assessora leiga da Pastoral da Juventude (PJ) na Região Mariana Sul, Alessandra Neves Mrad, o Encontro de Mulheres é “um momento único que a gente vive todo ano, e ficamos dois anos sem poder ter o presencial, e assim é uma forma da gente estar confraternizando e fazendo também uma denúncia das nossas realidades, compartilhar as nossas alegrias, conquistas e sonhos”.
Como sugestão para as próximas edições, Alessandra, que também atua na PJ do Regional Leste 2, apontou para a necessidade de se rever o formato do encontro, que tem início na sexta-feira, a fim de proporcionar que a juventude possa estar mais presente. “Geralmente, os jovens que trabalham ou estudam não conseguem vir. Então, de repente, colocar esse encontro no sábado e domingo para ver se a gente consegue uma participação maior da juventude”, opinou.
Além de alcançar todas as cinco regiões desta Igreja Particular, o Encontro de Mulheres também atravessou as fronteiras diocesanas recebendo mulheres vindas de outras dioceses como Marinete da Silva Morais, da Diocese de Itabira (MG) e Assessora Leiga da Pastoral Afro-Brasileira do Regional Leste 2.
“Eu achei relevante a atuação da Arquidiocese neste trabalho, até porque nós precisamos parar para poder pensar o ser mulher na Igreja, o ser mulher na sociedade, o ser mulher na família. Historicamente, achei que os temas foram relevantes, muito significativos, até porque os temas fazem provocações acerca até mesmo do lugar da mulher”, comentou Marinete sobre a importância do evento, parabenizando a Arquidiocese por esse trabalho realizado.
Estando presente desde a primeira edição do Encontro de Mulheres, realizada em Barbacena no ano de 2015, a Contato Arquidiocesana Sinodal e Presidenta do CNLB do Regional Leste 2, Leci Nascimento, compartilhou sobre as inquietações que motivaram a organização do evento. “Primeiro, a gente tem a consciência de que a mulher sempre foi excluída; ela também faz parte do grupo das minorias. Triste a gente perceber isso, mas é uma constatação nossa. Essa foi uma constatação também há dez anos, quando a gente percebeu isso e entendeu que seria muito interessante nos reunimos e conversamos enquanto mulheres sobre os nossos desafios, as nossas alegrias, as nossas dores, mas também as nossas conquistas”, explicou.
“O que eu percebo ao longo desses nove anos é o quanto nós crescemos, enquanto mulheres; quanto nós crescemos a nossa consciência da luta, da importância da gente ocupar os espaços. A gente naquela época não podia nem falar numa mulher na política, hoje, embora o número ainda seja muito pequenino, nós já temos representantes… isso já são conquistas nossas”, ponderou Leci.
Leci ainda compartilhou sobre a presença e a atuação das mulheres na Igreja: “Nós percebemos que nós podemos estar na Igreja não somente como colaboradoras, mas como corresponsáveis também. Nós também podemos assumir espaços que são de poder, não porque a gente quer mandar, mas porque a gente também tem consciência e condição de assumir responsabilidade e de dividir essas responsabilidades […]. Então, toda essa consciência, nós fomos adquirindo de uma forma maior sobre a importância da nossa luta ao longo desses encontros. Então, eles são fundamentais”.
Contato Arquidiocesana Sinodal e Presidenta do CNLB do Regional Leste 2, Leci também chamou a atenção para os obstáculos que ela teve que enfrentar e enfrenta ao ocupar esses espaços por ser uma mulher preta, especialmente, em momentos em que ela era a única. “Hoje, é uma alegria quando a gente vê uma Pastoral Afro-Brasileira forte, que caminha a passos largos dentro da nossa Arquidiocese, com tantas outras mulheres pretas fazendo e construindo história junto. Não é uma mais, são muitas as mulheres que estão aí e mostram que são capazes. Para mim, é uma gratidão que eu tenho imensa a Deus poder estar aqui e fazer parte da Comissão das Mulheres da Arquidiocese”, concluiu.
Fotos: Cândida Maria, Thalia Gonçalves e Paróquia São Pedro, em Ponte Nova (MG)
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