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, 04 de julho de 2024

“O sentido espiritual do Natal ocupa o coração da vida cristã”, afirma Padre Lucas Muniz

20 de dezembro de 2023 Arquidiocese

Na próxima segunda-feira, 25 de dezembro, a Igreja celebra a primeira vinda do Senhor: o Natal. Mas qual é o seu sentido espiritual?

Em artigo, o Diretor Espiritual do Seminário São José, Padre Lucas Muniz Alberto, explica o sentido do Natal e convida a cada um de nós a preparar o coração para viver este tempo de renascimento, esperança, paz e amor. 

O sentido espiritual do Natal

“O Verbo se fez carne e habitou entre nós (Jo 1, 1)”. Com essas palavras, inauguramos o tempo da graça e da salvação para a humanidade. No Verbo que se faz criança está a esperança de todo ser humano, Ele que vem para iluminar a todos (cf. Jo 1, 9). Faz-se necessário acolhermos esse grande dom do Pai, aderindo à perene novidade que Jesus vem nos trazer. Diante do grande mistério da Encarnação do Verbo, precisamos a todo instante resgatar o seu sentido autêntico, mergulhando sempre mais no essencial desse momento central da história da salvação. 

Quando pensamos no Natal, podemos, contaminados pelas ideologias comerciais e pelas tradições que a sociedade vai abraçando, esvaziá-lo de seu autêntico sentido e reduzi-lo a um feriado ou momento de confraternização com abundância de comida, bebida e troca de presentes. O Natal é muito mais: é a festa da esperança, do amor e da misericórdia de Deus por seu povo!

Na vida litúrgica da Igreja, o Natal é preparado pelo tempo do Advento e celebrado até a festa do Batismo do Senhor, recordando os principais acontecimentos da infância de Jesus. O Advento é marcado pela alegre expectativa da chegada do Salvador. A Igreja retoma nas profecias do Antigo Testamento as promessas do envio do Messias para salvar e libertar o povo de Israel e toda a humanidade. Vê-se a grande necessidade de conversão para preparar o coração para a chegada do Senhor que não somente nos visita, mas vem habitar entre nós. 

O Natal acontece nos corações que, disponíveis, se colocam a acolher a salvação. Todos os aparatos exteriores devem ser expressão da feliz expectativa pela vinda do Salvador, mas não podem ser contemplados como se fossem a sua essência. Para compreendermos bem a espiritualidade do Natal precisamos de três atitudes fundamentais: acolhida, humildade e gratidão.

O Natal é autêntico quando Jesus Cristo é acolhido nos corações. O Verbo se encarna no ventre imaculado de Maria para salvar a cada ser humano da condenação do pecado e da morte eterna. Sem a acolhida e a permissão para que o Verbo se encarne em nossa existência, sem experienciarmos a força salvadora do Senhor, sem a nossa adesão, Cristo não nascerá em nós. Ele veio para iluminar a todo ser humano, mas nem todos o acolheram (cf. Jo 1, 11). 

Acolher o Verbo em nós significa termos a mesma disponibilidade de Maria, que diz sim ao projeto de Deus para sua vida; ter a coragem de José em acolher a missão que Deus lhe confiara de, na terra, ser o guardião do Salvador; requer de nós uma constante saída de nós mesmos e a renúncia das nossas vontades para abraçar o querer de Deus. Significa, por fim, o acolhermos em todos os modos de sua presença entre nós: na Eucaristia, na Palavra e nos irmãos e irmãs, especialmente, nos mais pobres.

Outra atitude fundamental é a humildade. Sem essa disposição do coração, que nos faz conscientes de quem somos e o tanto que de Deus precisamos, não vivenciaremos a riqueza desse tempo. A humildade é a porta pela qual acessamos o coração do Natal, porque é revestido de humildade que o Senhor vem a nós! Ele, o Todo-poderoso, se “reveste da nossa humanidade” (cf. Fl 2, 7), escolhe o caminho da simplicidade e não o do espetáculo. Jesus nasce num local de extrema pobreza: o presépio, porque não havia lugar na hospedaria (Lc 2, 7). Desde o início, Jesus Cristo anuncia que o seu caminho é da humildade e da pequenez. Somente despidos de nossas vaidades, orgulhos, disputas por poder, ganâncias e ambições desmedidas seremos capazes de experimentar o verdadeiro Natal. 

A terceira atitude necessária é a gratidão. O Natal revela o infinito amor de Deus por nós, que mesmo diante das constantes infidelidades de seu povo não deixa de amá-lo e de querer a sua salvação! É Deus quem nos dá o verdadeiro e melhor presente que é o seu único Filho: Jesus Cristo. Na experiência pessoal da gratidão, funde-se o encontro de Deus com sua criatura e aí acontece a salvação. Que saibamos agradecer o amor, a misericórdia, a ternura, a compaixão, a solidariedade de Deus para nós manifestada naquela pequenina criança que “chora entre as palhas”. Diante da gratidão nasce um compromisso de fidelidade, de abraçar o caminho novo apresentado por Jesus, na constante atenção à sua Palavra, no nosso seguimento de discípulos-missionários. 

Trazendo essas três atitudes interiores, seremos capazes de viver o Natal em seu mistério e importância para a vida cristã. Somos convidados a nos preparar para a festa da Salvação, primeiramente, pela participação ativa na Liturgia, nas Celebrações Eucarísticas, realizando a Leitura orante da Palavra de Deus, passo a passo rumo à Solenidade do Nascimento do Senhor, por meio de uma consciente celebração do sacramento da Reconciliação. 

O sentido espiritual do Natal ocupa o coração da vida cristã. Além disso, marca o início de um novo tempo, o cumprimento de todas as promessas de Deus. Não se trata de mais um Natal, mas é o Natal! É no hoje de nossa existência que Jesus nasce e atualiza todo o mistério de vida e salvação.

Vivamos na fé e na alegria o Natal do Senhor, a fim de que não seja mais um feriado ou mero dia de festa, mas seja, de fato, graça de Deus para todos nós, dia de vida e salvação e se estenda por todos os dias de nossa existência, iluminando a vida de todos que de nós se aproximarem!

Citações Bíblicas: Bíblia tradução CNBB.  Edições CNBB, Brasília, 2018.

Artigo do Padre Lucas Muniz Alberto, publicamente originalmente na edição nº 329 do Jornal Pastoral.

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Imagem: Jonas Reis