Com gritos de “vida em primeiro lugar”, em defesa do Rio Paraopeba, contra a mineração predatória, entre outros, dezenas de pessoas das diversas cidades da Arquidiocese de Mariana participaram do 30° Grito dos Excluídos e Excluídas na manhã do sábado, 7 de setembro.
A manifestação, realizada em Congonhas (MG), reuniu membros das pastorais sociais, Comunidades Eclesiais de Base (Cebs), catequistas, movimentos populares, sindicalistas, autoridades civis e a Folia de Reis Sagrada Família de Acaiaca (MG). Sacerdotes e seminaristas da Arquidiocese também estiveram presentes.
O ato teve início em frente à Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, quando os presentes participaram de momentos de animação e falas sobre o lema do 30º Grito dos Excluídos e Excluídas: “Todas as formas de vida importam. Mas quem se importa?”.
Participando pela primeira vez do ato nesta Igreja Particular, a Irmã Passionista Arlene Simões pontua que o lema proposto para 2024 provoca à reflexão sobre a vida como dom de Deus e chama a atenção para o seu cuidado não somente na Igreja, mas também na vivência da sociedade.
“Esta é a forma que a gente tem de manifestar que a gente se importa com a vida: participando do Grito dos Excluídos e Excluídas. Trazendo o nosso grito, juntando as nossas forças, nós mostramos que a vida se importa, sim”, disse a religiosa que é também assessora da Dimensão Sociopolítica na Região Mariana Sul.
Defensor de uma Igreja encarnada na realidade do povo, Padre José Geraldo da Silva, mais conhecido como Padre Juquinha, afirma que o ato, que ocorre anualmente desde 1995, é uma forma de revigorar as forças.
“Nós vivemos no mundo marcado pelo fascismo, com tanta violência, com tanto desprezo aos pobres e, sobretudo, à vida dos nossos irmãos e irmãos encarcerados, que muitas vezes estão deixados de lado. Então, esse Grito, para nós, é um momento de fortalecer a nossa fé, de caminhar junto com o Papa Francisco e lutar, ainda mais, por uma Igreja Libertadora”, frisa Padre Juquinha.
Na ocasião, a juventude da Arquidiocese de Mariana também esteve representada. Para Giovanni Santiago, a participação dos jovens no Grito é essencial, pois é também um espaço de atuação da Pastoral da Juventude (PJ), da qual faz parte Paróquia Santa Efigênia, em Ouro Preto (MG).
“Já tivemos campanhas como a do ‘Enfrentamento ao ciclo de violência contra os Jovens’ e ocupar espaços em que podemos lutar juntos a outras pessoas que também estão nessa luta para com os excluídos é importante”, defende.
Comentando sobre o lema de 2024, Giovanni ainda criticou à degradação ambiental e as queimadas que assolam todo país.
“Uma frase que acho muito pertinente dizer é ‘Vidas Negras importam’ e dizer que, sim, vidas negras importam, mas estender a ‘todo tipo de vida importa’. Seja vida animal, humana e da natureza em si, visto que estamos passando por um momento complicado com o avanço das queimadas na nossa região, um verdadeiro crime ambiental que fere inteiramente a vida da fauna e da flora”, argumenta.
Sob o sol quente e o ar seco, devido às queimadas que atingem a região, os peregrinos caminharam cerca de um quilômetro em direção à Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, onde, aos pés do Bom Jesus, elevaram suas preces e súplicas em favor da vida e da Casa Comum.
“Congonhas é o lugar da romaria, é onde está o Bom Jesus. O Bom Jesus é Aquele que acolhe a todos, a começar dos pequenos, dos mais necessitados. Nada mais eloquente do que o amor do Bom Jesus para incluir aqueles que são excluídos e excluídas”, explica o Coordenador Arquidiocesano da Dimensão Sociopolítica, Padre Marcelo Moreira Santiago, o porquê de a cidade dos profetas ter sido escolhida para acolher o ato nesta Igreja Particular.
Comemorando, em 2024, 30 anos de luta e resistência, o Grito dos Excluídos e Excluídas foi desde o princípio abraçado pela Arquidiocese de Mariana. “São 30 anos de caminhada, de resistência, de luta, de fé, de esperança, de mobilização popular e nós queremos dizer que, sim, todas as formas de vida importam, a começar dos mais sofridos e necessitados, da vida humana e da vida do planeta”, recorda Padre Marcelo.
Segundo ele, o lema deste ano também chama a atenção para os danos causados à vida, como a destruição ao meio ambiente, a violência e as desigualdades sociais. Ainda, faz uma súplica, na perspectiva do Evangelho e da cidadania, para o cuidado com a Casa Comum, a dignidade humana e a justiça social, visando uma sociedade do bem-viver.
“Nós queremos também fazer o clamor, um grito forte, para todos aqueles que entendem, infelizmente, que as ‘várias formas de vida não importam, quem se importa?’. Nós nos importamos e queremos que outros mais se importem: segmentos da sociedade, os governos constituídos […]. É na linha das obras de misericórdia, das bem-aventuranças, que nós dizemos, sim, a essa causa [em favor da vida]”, reforça o Coordenador Arquidiocesano da Dimensão Sociopolítica.
Com a sua primeira edição realizada durante o pastoreio de Dom Luciano Mendes de Almeida como Arcebispo Metropolitano de Mariana, o nome e a presença do Servo de Deus foram evocados durante o ato.
Com gritos de “Dom Luciano vive na luta do povo!”, os peregrinos recordaram a vida e ministério do doce e bom pastor de Mariana. “Tudo aquilo que ele nos ensinou, graças a Deus, a gente procura reavivar aqui, no Grito dos Excluídos e Excluídas”, disse, emocionado, Padre Juquinha.
“Ele, para nós, é um grande mestre, pois nós, da nossa Arquidiocese de Mariana, fomos muito agraciados por tê-lo conosco durante 18 anos e nós não podemos deixar sua memória morrer. E, aí, o grito, para nós, também tem esse significado da gente reviver a luta de Dom Luciano e colocar em prática tudo aquilo que ele não nos ensinou e participou aqui conosco”, completou o presbítero.
Após mais alguns momentos de fala e animação na Praça da Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, os peregrinos do 30º Grito dos Excluídos e Excluídas participaram da santa missa junto aos demais romeiros do 243º Jubileu de Congonhas.
A celebração eucarística foi presidida pelo Arcebispo Metropolitano de Mariana, Dom Airton José dos Santos, e concelebrada pelos demais presbíteros presentes, incluindo o Reitor da Basílica, Monsenhor Nedson Pereira de Assis, e Padre Marcelo Moreira Santiago.
Na homilia, refletindo sobre o evangelho de Mateus (25, 31-46), que retrata as obras de misericórdia, Dom Airton lembrou que tudo está conectado e que o cuidado com a Casa Comum é também cuidar e amar ao próximo.
“Hoje, ouvindo esse trecho do Evangelho que fala do julgamento final, nós temos que nos perguntar: fome, tristeza, desamor, violência, de quem é a culpa disso? Como nós estamos trabalhando para que isso não aconteça? […] Todos nós temos que ter responsabilidade e lutar para que os dias sejam melhores. […] Tudo isto está conectado: a natureza, o ser humano, aquilo que Deus fez a sua imagem e semelhança, que somos nós, a nossa vida. Tudo está ligado uma coisa na outra e tem consequência”, ponderou Dom Airton.
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Texto e fotos: Thalia Gonçalves/Arquidiocese de Mariana