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, 22 de dezembro de 2024

Dom Geraldo Lyrio Rocha: um pastor que deixou marcas profundas

25 de outubro de 2024 Arquidiocese

Em sua história quase tricentenária, a Arquidiocese de Mariana foi conduzida por santos pastores que, à luz de Nosso Senhor Jesus, cuidou do rebanho que lhe foi confiado na Igreja Primacial de Minas Gerais. Dentre eles, está Dom Geraldo Lyrio Rocha, quinto Arcebispo Metropolitano de Mariana.

Falecido em julho de 2023, Dom Geraldo esteve à frente desta Igreja Particular por 11 anos. Recordando o seu legado, em 26 de julho deste ano, por ocasião de um ano de sua morte, foi homenageado pela Arquidiocese com a abertura do “Memorial dos Bispos”, que reverencia sua memória.

Dom Geraldo durante a celebração da Semana Santa de 2018, em Mariana (MG). Foto: Arquivo Arquidiocese de Mariana

Para conhecer um pouco mais sobre a trajetória de fé do prelado, o Departamento Arquidiocesano de Comunicação (Dacom) conversou com José Carlos Lyrio Rocha, irmão de Dom Geraldo. Confira na íntegra:

Dacom: Como foi a experiência de fé e religiosidade em sua família? Dom Geraldo em algum momento, ainda na infância, manifestou o desejo de seguir a vocação sacerdotal?

José Carlos: O nosso ambiente familiar muito contribuiu para que Geraldo tivesse fortalecida a sua vocação para o sacerdócio, pois papai e mamãe nos deram exemplos da sua profunda religiosidade. Foram participantes ativos das atividades da Paróquia de São José, em Fundão (ES), sendo ainda integrantes da Liga Católica e do Apostolado da Oração. Foi nesse clima que Geraldo desenvolveu a sua vocação.

Suas primeiras manifestações verbais de que queria ser padre ocorreram quando ele tinha em torno de cinco anos. Ainda criança, [Dom Geraldo] gostava de celebrar “missas” e fazer “procissões”, exigindo dos que participavam comportamento adequado nessas ocasiões, sob pena de ser excluído quem não estivesse compenetrado.

Mas vale a pena reproduzir o que Geraldo disse na entrevista que concedeu, em 2022, por ocasião dos 70 anos de fundação do Seminário Nossa Senhora da Penha: “Acho que Deus me chamou quando ainda estava no ventre materno, porque nunca quis ser outra coisa a não ser padre”.

Essa declaração nos remete ao Salmo 22, 9-10: “contudo, tu és quem me fez nascer; e me preservaste, estando eu ainda no seio de minha mãe. A ti me entreguei desde o meu nascimento; desde o ventre de minha mãe, tu és o meu Deus”. De fato, Geraldo nasceu para o sacerdócio e a isso se dedicou exclusivamente durante toda a sua existência.

A Arquidiocese de Mariana conheceu Dom Geraldo Lyrio Rocha como Arcebispo. Como ele era no dia a dia, nos laços familiares, como irmão e amigo?

Ele foi uma pessoa muito especial, porque era alegre, sereno, conversava de forma descontraída e gostava de contar casos divertidos. Além disso, tinha profundo conhecimento, não só de questões relacionadas à religião, mas sobretudo à História do Brasil e do mundo. Os almoços dominicais com ele eram “temperados” por tudo isso, o que tornava a conversa muito proveitosa para todos que o cercavam.

Dom Geraldo e irmãos. Da esquerda para a direita, Luciano, Ronaldo, José Carlos, Rosa Maria e Dom Geraldo. Foto: Arquivo José Carlos Lyrio Rocha.

Quanto aos laços familiares, Geraldo foi marcante na vida de todos os nossos parentes e amigos, não só pela maneira afável de ser, mas também pela sua disponibilidade nas horas difíceis e para celebrar casamentos, inclusive dos irmãos, batizados, crismas e primeira comunhão de sobrinhos e sobrinhos-netos. Além disso, com a sua memória prodigiosa, ele se lembrava, infalivelmente, dos aniversários de todos e, pelo menos, um telefonema dele já era esperado.

Em julho, na mesma data em que completou um ano do falecimento de Dom Geraldo, a Arquidiocese de Mariana abriu o “Memorial dos Bispos” reverenciando a memória de Dom Geraldo. Como a família acolheu esta homenagem? O que acharam do espaço que, durante o pastoreio de Dom Geraldo, foi sua residência?

Foi muito gratificante para a nossa família receber essa surpreendente homenagem feita pela Arquidiocese de Mariana em reverência à memória do nosso mano Geraldo, pelo que seremos eternamente agradecidos, e que consolida os nossos laços com essa cidade. Além disso, tornar a então residência arquiepiscopal no “Memorial dos Bispos” ratifica a importância que a Arquidiocese de Mariana dá à preservação da história dessa Igreja Particular.

Dom Airton e José Carlos ao lado da placa alusiva em homenagem a Dom Geraldo, na inauguração do Centro Cultural Dom Frei Manoel da Cruz. Foto: Paulo César Gouvêa/Arquidiocese de Mariana.

Na mesma data, também aconteceu o lançamento do livro “A vida se faz História – Dom Geraldo Lyrio Rocha: Memória e Testemunho”, que reúne entrevistas de Dom Geraldo aos seminaristas da Arquidiocese de Mariana. Para o senhor, como essa obra pode ajudar a preservar as histórias e ensinamentos deixados pelo seu irmão?

Nesse livro, Geraldo teve a oportunidade de contar a sua trajetória, nas mais diversas funções e situações. O leitor pode perceber muito bem que ele se sustentava na fé em Deus e nas orações para levar adiante a missão que desempenhava, bem como evidência o que ele representou para a Igreja e para todos aqueles que, de uma forma ou de outra, com ele conviveu.

Embora leigos, acreditamos que essa obra possa servir de referência para os que escolheram seguir a vocação para o sacerdócio e até mesmo para os que exercem ou venham a exercer as enormes responsabilidades do ministério episcopal.

José Carlos realizando seu discurso durante o lançamento do livro “A vida se faz História – Dom Geraldo Lyrio Rocha: Memória e Testemunho”. Foto: Paulo César Gouvêa/Arquidiocese de Mariana.

Ressaltamos, porém, que o profundo conteúdo das respostas dadas, certamente sob à luz do Espírito Santo, se deve ao elevado nível dos questionamentos que lhe foram feitos pelos seminaristas, razão pela qual parabenizamos os entrevistadores.

Externamos os nossos agradecimentos à Arquidiocese de Mariana, na pessoa de Dom Airton José dos Santos, e aos organizadores da obra: Monsenhor Celso Murilo Souza Reis, Padre Darci Fernandes Leão e Padre Robson Cunha Chagas.

Na sua avaliação, qual foi o principal legado deixado por Dom Geraldo Lyrio Rocha?

Geraldo deixou marcas profundas em todos os que com ele conviveram. Sua fé inabalável em Deus, e a sua devoção a Maria, o tornaram uma pessoa tranquila, mesmo diante de situações difíceis, razão pela qual adotava aquela máxima que o caracterizava: “no fim dá tudo certo”.

Geraldo sempre será lembrado pela sua serenidade, alegria, atenção para com os necessitados da sua presença nos momentos de dificuldades, mas, especialmente, pela sua intensa dedicação à Igreja, a qual serviu até o final da sua vida, tendo realizado plenamente o seu ministério, pois veio a falecer quando estava em missão evangelizadora na distante Diocese de Altamira, no Pará, o que dá ainda mais sentido ao seu lema episcopal: “Faze a Obra de um Evangelista”.

Texto: Thalia Gonçalves