“Os jovens são a esperança da Igreja”, lembrou o Diácono Tanus Henriques durante sua apresentação na edição da Semana Dom Luciano, realizada em Conselheiro Lafaiete, Região Pastoral Oeste, na noite da última quinta-feira (22). “A Igreja tem o compromisso de anunciar aos jovens uma mensagem de libertação plena. Instrução religiosa insuficiente leva à frieza da fé e, às vezes, até ao ateísmo”, continuou.
Após uma breve explicação do Documento final da 3ª Conferência Episcopal Latina-America, realizada em Puebla, no México, o diácono aprofundou os pontos que merecem atenção. “Se a Igreja não tiver atenção com o jovem, ele vai se afastar, passar a não acreditar mais […] É preciso educar o jovem na fé e levá-lo a conversão para se comprometer com Cristo.”
Ele apontou a espiritualidade autêntica e apostólica, “fundada na oração, no conhecimento da Palavra de Deus, na vida eucarística e no amor filial a Maria Santíssima” como meio para este processo: “temos que mostrar essas riquezas que são próprias da Igreja e estão à disponibilidade deles”, disse.
Ensinar a não se acomodar, formar senso crítico quanto aos meios de comunicação social, educá-los para o amor autêntico entre homem e mulher e para uma vida sexual de pureza e santidade também foram pontos citados pelo diácono. “A gente, às vezes, até pensa: isso é impossível nos dias de hoje, mas nós somos evangelistas da esperança, nós temos esperança sim e podemos retomar e valorizar os valores morais”, afirmou.
Arquidiocese
O pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, de Congonhas, padre Paulo Barbosa, abordou a relação do documento com a realidade da Arquidiocese. Ele também expôs as visões que ajudam a entendê-la. “Puebla nos ajuda a pensar, sobretudo no pensamento de Dom Luciano, trazendo essa reflexão para perto de nós: existe pecado individual, pecado pessoal sim, mas existe pecado social também. Enfrentamos as injustiças, a injustiça institucionalizada, colocada como um peso opressor do povo. Portanto, nós temos essas visões que ajudam a pensar Puebla, com atualidade na realidade atual”.
Padre Paulo também reforçou a importância de não servir a dois senhores. “Pra muita gente hoje o que manda é o dinheiro, o mundo, a economia, o desenvolvimento econômico acima de qualquer possibilidade humana. E Dom Luciano muitas vezes denunciava isso, como também na Doutrina Social da Igreja, os documentos todos falam que não se pode ficar submetido ao lucro, ao dinheiro. É preciso que a pessoa humana esteja acima disso por causa da sua dignidade”, expôs.
Como mensagem final, o padre pediu para que os participantes continuassem a estudar o tema. “É importante a gente continuar aprendendo, estudando, refletindo este documento e nos envolvendo na ação sociotransformadora; lendo aquilo que a Arquidiocese está oferecendo e participando dos momentos importantes da nossa caminhada”, disse, referindo-se aos próximos eventos que irão acontecer no próximo mês: Grito dos Excluídos, em Congonhas, no dia 7 de setembro, e Fórum Social Pela Vida, de 26 a 29 de setembro, em Barão de Cocais.
O Rosto de Nossos Dias
O Seminarista Oldair Jonnes Ribeiro encerrou a noite apresentando o relato de duas pessoas que foram atingidas pela barragem Fundão, em novembro de 2015. “Hoje minha família está toda doente, todos têm depressão, meu marido nem dirigi mais, mal fala comigo, eu tomo um monte de remédios para depressão, meus três filhos mais novos não querem sair de casa só ficam no quarto, minha filha mais velha tem síndrome do pânico, as vezes tem medo até de nós’”, leu Oldair, mantendo em anonimato a sua fonte.
“O Rosto de nossos dias” dá nome ao texto do seminarista, que é fruto do seu estágio pastoral junto à comunidade de Bento Rodrigues, que, em sua maioria, participa da Comunidade Santa Cruz, da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Mariana. “Ao ver meu nome como o seminarista que acompanharia a comunidade de Bento Rodrigues vi minhas orações serem respondidas por Deus. Então comecei de forma assídua visitar os atingidos e ter várias conversas. Nesta experiência de conversar com eles consegui entrar e ver como é grande a dor dos atingidos”, relatou.
O seminarista analisou as duas situações expostas pelos atingidos à luz do documento de Puebla. “Ao escutarmos os dois relatos colocando em questão o documento de Puebla, certamente traçaríamos um novo rosto. Um rosto de pessoas que foram arrancadas, de suas próprias histórias, é o rosto de pessoas que não tem casa por causa de empresas que não se preocuparam com as vidas nem com as histórias daqueles que moravam próximo as barragens. É muito certo que se Dom Luciano estivesse em nosso meio fisicamente seria um rosto no qual ele identificaria o Cristo e não teria medo de defender, e gritar por justiça”, disse.
Avaliação
Alerta é a palavra que marcou o evento para José Marques, da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, de Congonhas, e Maria Bethânia Reis Meijão, da mesma paróquia. Os dois consideraram o aprendizado proveitoso e com a intenção clara de conscientizar a população. “Foi excelente, nos educa, nos alerta pra trabalhar com a comunidade, na justiça pelo bem social, para cobrarmos mais dos nossos governantes, que tem que ser cobrados. E ficarmos atentos na mineração”, disse José.