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Reflexões sobre o documento de Puebla marcaram a II Semana Dom Luciano em Barbacena

27 de agosto de 2019 Arquidiocese

Reflexões sobre o documento da 3ª Conferência do Episcopado Latino-americano, realizada em Puebla, marcaram a última noite da II Semana Dom Luciano em Barbacena. O encontro promovido no Centro Regional de Pastoral, contou com a presença de cerca de 40 pessoas, do diretor do Instituto de Filosofia do Seminário São José, padre Euder Daniane Canuto Monteiro, do vigário paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Assunção, em Barbacena, padre Fabiano Milione, e do seminarista Filipe Egg.

Padre Fabiano Milione, primeiro palestrante da noite, apresentou as cincos partes presentes no documento. A primeira delas foi a visão pastoral da realidade da América Latina. Segundo ele,  é missão da Igreja levar a Boa-Nova a todos os homens e para cumprir bem essa missão é necessário conhecer a história do povo latino-americano. “Na primeira parte do documento encontramos a visão dos pastores sobre a realidade da América Latina. O povo da América Latina é um povo cheio de angústias, mas, também, cheio de esperanças”, disse.

Nesta primeira parte, o documento sublinha com quem se parece o rosto do Cristo Sofredor na América Latina e chama a atenção para os direitos humanos. Padre Fabiano disse que é preciso assumir com o povo, as angústias que brotam da falta de respeito à dignidade humana. Citando São João Paulo II, ele destacou que “a Igreja, por autêntico compromisso evangélico, deve fazer ouvir sua voz denunciando e condenando estas situações, sobretudo quando os governantes e responsáveis se dizem cristãos”.  O presbítero acrescentou que os bispos assumiram com o povo as angústias que brotam da falta de respeito e dignidade humana.

Na segunda parte do documento é apresentado o desígnio (ou vontade) de Deus sobre a realidade da América Latina. “É preciso anunciar a verdade sobre Cristo. Anunciar que Ele participou da vida de seu povo, das esperanças e angústias. Anunciar que o Espírito Santo faz brotar em nós dons e carismas. Anunciar a verdade sobre a Igreja, povo de Deus. Anunciar a cada comunidade, como comunidade eclesial. Comunidade que são de convivência na liberdade e na sociedade”, disse padre Fabiano.

Ele explicou que a terceira parte do documento retrata sobre a evangelização na Igreja da América Latina – comunhão e participação. Neste trecho, o texto pontua o papel da família e das Comunidades Eclesiais de Base. “As Comunidades Eclesiais de Base são muito importantes para a vida eclesial na América Latina. Nelas há maior entrosamento entre as pessoas, todos se conhecem pelo nome. Elas acolhem a Palavra de Deus. Elas fazem revisão de vida. Elas refletem sobre a realidade à luz do Evangelho. Elas valorizam o compromisso com a família. Elas se interessam por nossas lutas no trabalho e nas organizações comunitárias”, disse.

A quarta parte, Igreja missionária a serviço da evangelização na América Latina, destaca a opção preferencial pelos pobres e os jovens. O padre explicou que da Conferência de Medellín a Conferência de Puebla agravou-se ainda mais a situação da pobreza e até da miséria. “O compromisso evangélico da Igreja deve ser como o de Cristo. Quando a Igreja quer saber como ela deve agir, basta ver uma coisa: ver como Jesus agia, e, portanto, como Jesus agiria agora”, disse.

Sobre os jovens, padre Fabiano afirmou que eles devem sentir-se que são Igreja. “A Igreja confia nos jovens. Por isso Puebla deseja uma pastoral da juventude que leve em conta a realidade social dos jovens. Que ajude os jovens a crescerem na vida cristã. Que oriente a opção vocacional dos jovens. Que lhes ofereça elementos para serem agentes da mudança social. Que lhes apresente os canais eficazes para a participação ativa na Igreja e na transformação da sociedade”. Sobre a última parte do documento, padre Fabiano disse que o texto afirmar que a Igreja deve ser de comunhão, servidora e missionária.   

40 anos de Puebla

Padre Euder Canuto foi o segundo palestrante da noite. Ele iniciou sua fala destacando que a Conferência de Puebla foi realizada em “um contexto bastante delicado quando posicionamentos bastante divergentes pairavam na Igreja e na sociedade”. “Após 10 anos de Medellín a situação social e política piorava. Regimes militares e modelos econômicos que acentuavam a miséria e a dependência. A separação entre ricos e pobres era ainda mais crescente. Isso ameaçava e fortalecia ainda mais o desejo também crescente de justiça e libertação que se desenvolvia na consciência popular e eclesial da América Latina na perspectiva de se permanecer na esteira de Medellín”, disse.

Ele também lembrou que o discurso inaugural da Conferência, realizado pelo Papa João Paulo II, lembrou o valor histórico de tal conferência para a Igreja na América Latina, ressaltando que a mesma havia sido convocada ainda pelo Papa Paulo VI, confirmada pelo seu predecessor imediato, que morreu com apenas 33 dias de pontificado, João Paulo I, e confirmada por ele.

Sobre as opções pastorais de Puebla, padre Euder explicou que elas são fundadas pelo  tripé doutrinal proposto pelo Papa no seu discurso inaugural. “A verdade sobre Cristo (cristologia), a verdade sobre a Igreja (eclesiologia) e a verdade sobre o homem (antropologia), como se pode constatar nos números 170-339, e sobre o princípio básico da dignidade da pessoa humana, que, à luz do Evangelho, se manifesta no chamado a todo ser humano para ser e viver como filho de Deus e irmão dos outros e “senhor” do mundo (DP, 322), a mesma tomou como firme decisão a opção preferencial pelos pobres conforme os números 1134 a 1165 e a opção preferencial pelos jovens conforme os números 1166 a 1205”, disse.

Segundo o presbítero, nos dias de hoje, após 40 anos de Puebla, é preciso olhar para a realidade à luz dessa bonita experiência do passado eclesial. “Devemos nos predispor a aprender com a nossa história que a Igreja tem como seu fundamento primeiro e último a Revelação e, por isso, deve ser o Cristo, o horizonte de sentido para o qual caminhamos e ao mesmo tempo o norte de nosso peregrinar. Desviar-se de Cristo Homem e Deus é desviar-se de si mesmo e do cristianismo. É por causa do Evangelho e por causa de Cristo que a Igreja deve se ocupar também das questões sociais e não o contrário. Na verdade, ao se encarnar Cristo nos deu uma grande lição de que veio para oferecer ao homem uma salvação integral que perpassa, portanto, a realização da pessoa humana na sua dignidade de filhos de Deus e a sua glorificação no céu (DP 1141)”, disse.

Rostos da desolação

O seminarista Filipe Egg apresentou os rostos da desolação destacados pela Conferência de Puebla. Em sua fala, ele explicou sobre os termos ‘opção’ e ‘preferencial’ para falar sobre os pobres.

“Para uma melhor compreensão me utilizo da explicação do padre Luiz Cechinato que nos ajuda a entender os termos ‘opção’ e ‘preferencial’. A ‘opção’ significa escolha, tomada de decisão entre duas coisas. Quanto a palavra ‘preferencial’ será mais fácil entendermos se a compararmos com aspectos do trânsito. Sabemos que via preferencial é aquela rua que dá a quem está nela o direito de passar primeiro, enquanto o outro, da outra rua, deverá esperar para passar logo em seguida. Nesse sentido a Igreja deseja começar a evangelização pelos pobres para depois chegar aos ricos. Assim é preferencial aos pobres e não exclusiva. Pobre não é somente aquele que não tem dinheiro, mas aquele que não tem voz e vez na sociedade. Entre os pobres se encontram os indígenas, agricultores, marginalizados, entre tantos outros que aqui lembramos. Os pobres carecem do indispensável para a existência e não tem vez na sociedade.

Sofrem injustiça pelos mecanismos de opressão e falta de sensibilidade de muitos. Percebemos isso quando nossos olhos estão voltados para Cristo, pois vem dele a resposta da opção preferencial pelos sofredores e pobres”, disse.

Filipe também destacou o rosto do índio, que ainda sofre nos dias de hoje. “O índio continua sendo extirpado de nossa sociedade tecnológica e corre o risco de ser extinto. Ele clama a cada um de nós por responsabilidade. Mas o que estamos percebendo é a moderna tecnologia aumentando em progressão exponencial o consumo humano de reservas naturais. O que estamos vendo é o progresso do homem estendendo-se como avanço de poder a poder, cujo efeito é embriagar o ser humano de que ele poderá tomar as rédeas da evolução a qualquer instante”, disse.

Para a participante, Lícia Maria Monteiro, o encontro foi maravilhoso. “Gosto muito de estudar as coisas da Igreja e esse encontro foi muito proveitoso neste sentido. Espero que outros momentos como esse sejam realizados pela faculdade. As explicações da noite foram muito proveitosas”, disse.