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, 21 de dezembro de 2024

Presépio: Uma tradição familiar que vira coleção

19 de dezembro de 2024 Arquidiocese

Um dos presépio de Rodrigo Gomes, feito de borracha.

Montar um presépio em casa, às vésperas do Natal, já é uma tradição de toda família católica. Geralmente, ele é montado no primeiro domingo do advento e desmontado no dia 6 de janeiro, data em que a Igreja celebra a Solenidade da Epifania do Senhor.

A palavra é de origem latim, Praesaepe, que significa curral ou estribaria, local onde o Menino Jesus nasceu. Um Deus, todo poderoso, que nasce no meio de pessoas simples, humildes e no meio da natureza, a Casa Comum (Papa Francisco, Laudato Si, 2015).

A grandeza de Deus, representada na fragilidade de uma criança, ensina a cada ser humano o verdadeiro caminho, a única verdade e a preservação da vida, desde sua concepção até o declínio natural.

Um dos presépios da coleção do Padre Lucas Germano, feito de barro.

Sua origem baseia-se no ano de 1223, quando São Francisco de Assis, montou o primeiro presépio em uma gruta, na Itália, para explicar alguns camponeses locais como o Menino Deus tinha nascido.

No Brasil, a cena montada pela primeira vez foi em 1552, pelo Padre Jesuíta, José de Anchieta, para explicar aos índios e colonos portugueses o nascimento de um Deus.

Um dos presépios de dona Salete de Freitas, feito de madeira.

Na composição do presépio, cada figura contempla uma importância. Os animais e o local representam a natureza que está a serviço de Deus e do ser humano e simbolizam a simplicidade e a humildade.

Depois de Maria e José, os pastores da região foram os próximos a saberem do nascimento do Menino e visitam-no. Naquela época, a profissão de pastor era uma das menos reconhecidas. Seu nascimento ali mostra que Ele é um Deus dos pobres, dos vulneráveis e frágeis.

O anjo é o mensageiro de Deus, que comunica a Boa Notícia, representa o céu, por isso, ele segura uma faixa que diz: “Gloria in excelsis Deo”, que significa: Glória a Deus nas alturas.

A estrela significa a luz de Deus, que guia o três Reis Magos até Jesus, a qual, também guia toda humanidade em direção a Deus.

Os Reis Magos, Belchior, Gaspar e Baltazar, homens que conheciam a astronomia, a medicina e a matemática, representam a ciência, que reconhece Deus como Salvador e dono de toda verdade. Segundo São João Paulo II, “a verdadeira ciência nos leva à fé”, pois revela a grandeza da criação.

O ouro, o incenso e a mirra são os presentes que os Reis Magos ofereceram ao Recém-Nascido. O ouro significa a realeza, naquela época, esse presente era dado apenas aos reis. O incenso, presente dado aos sacerdotes, significa a divindade e sua fumaça simboliza as orações que se elevam ao céu. Sendo assim, os Reis Magos reconhecem que o Menino é um Deus. A mirra, como sinal profético, revela o sofrimento pelo qual a Criança passará, mas também a sua vitória sobre o mal e o seu triunfo na eternidade.

São José, o pai adotivo de Jesus, um homem simples e humilde, acolheu Maria e aceitou ser pai do Filho de Deus, deu-lhe um nome, e o ensinou uma profissão. Um exemplo a ser seguido.

Maria, a escolhida para ser a mãe do Filho do Altíssimo. Através dela que a humanidade pôde conhecer a salvação. Ela confiou nos planos de Deus e de seu “sim” a Ele, com isso, ela nos ensina que os planos de Deus são confiáveis e assertivos.

O Menino Jesus, um Rei de verdade, humano e divino ao mesmo tempo. Assumiu a condição humana para anunciar o Reino do Céu e dizer que a morte não é fim. Um Deus perfeito, sem pecado, que morreu pelos pecadores, mas deixou um legado: “amai uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13, 34).

 “Sendo Ele de condição divina, não Se prevaleceu de Sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-Se aos homens” (Filipenses 2, 6-7).

Um dos presépios da coleção de Dona Marisa Simão, feito de crochê.

Dessa forma, constitui-se o presépio, que conta como foi a vinda de Jesus na terra, e, por isso, várias pessoas da Arquidiocese de Mariana, mantém essa tradição, como forma de evangelização, seguindo o exemplo de São Francisco de Assis.

Dona Salete de Freitas, da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Conselheiro Lafaiete (MG), conta que já confeccionou mais de 400 presépios para outras pessoas e, em sua casa, tem em torno de 10, além disso, ela faz exposição no Museu Antônio Perdigão, em salões paroquiais e em estabelecimentos comerciais.

Essa inspiração para colecionar presépios, vem da infância. Sem muitos recursos, ela brincava com o que tinha disponível, como: pedras, galhos, espigas de milho etc. Com o tempo, percebeu que poderia utilizá-los para criar algo, e assim nasceram os presépios. Inicialmente em cuias e com madeira, depois com peças mais detalhadas. Sendo que, cada peça é única e não há como reproduzi-las novamente.

Para ela, “o significado de tudo isso é a fé! Agradeço muito a Deus por tudo que tenho conquistado. E tento retribuir de várias formas. E os presépios é uma delas. Onde tenho a oportunidade de levá-lo ao máximo possível de casas e famílias”, conta.

Alguns presépios da coleção de Dona Salete de Freitas, da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Conselheiro Lafaiete (MG).

Rodrigo da Conceição Gomes, da Paróquia Santo Antônio, em Barbacena (MG), traz em sua memória afetiva de infância os momentos de novena e preparação para o Natal, em que ajudava a montar o presépio na igreja onde frequentava. “Éramos humildes e naquele tempo era difícil adquirir um presépio para a casa. Esses momentos sempre despertaram em mim o desejo de ter o meu presépio para montar em casa. E ao começar a trabalhar e a conquistar as minhas coisas, já na juventude, pude adquirir o meu, que era uma coleção importada de louça, que monto há anos com muito carinho”, destaca.

Atualmente, Rodrigo tem em torno de sete presépios, a maioria completos e outros só com a Sagrada Família e os animais e todos montados na sala, na copa e na varanda de sua casa. Isso representa para ele a fé e a religiosidade que seus pais lhe passaram e que sempre nutriu.

Os presépios são de porcelana, resina e borracha e ele se alegra com as visitas à prestigiá-los.

Parte da coleção de presépios de Rodrigo da Conceição Gomes, da Paróquia Santo Antônio, em Barbacena (MG).

Quem tem uma coleção de presépios também é o Padre Lucas Germano, da Paróquia Nossa Senhora da Assunção, em Barbacena (MG). Ele fala que, desde muito cedo, acompanhava sua mãe no Grupo de Pastorinhas e Pastorinhos que cantava na época de Natal, visitando os presépios e conduzindo a Imagem do Menino Jesus. Aos poucos foi despertando em si a vontade de ter mais presépios, então, adquiriu uns e ganhou outros.

“A época de Natal sempre foi muito marcante, daí o desejo de colecionar. Hoje tenho 33 presépios e fazem parte da preparação para o Natal. É uma devoção que nos conduz ao Mistério da Encarnação do Verbo Divino”, observa.

Segundo Padre Lucas, para organizá-los melhor, eles ficam em várias partes da casa, sendo os menores juntos a uma estante. E este ano, ele montou um na parte externa da casa, de modo que, quem passa em frente, visita-o também.

Um pouco da coleção de presépios de Padre Lucas Germano. Ele monta em várias partes da casa e um na parte externa para que as pessoas o visitem.

Dona Marisa Simão, da Paróquia Nossa Senhora da Assunção, também em Barbacena, tem, em sua coleção, 366 presépios. Ela ressalta que grande parte é só a Sagrada Família, principal exemplo de vida para ela. Muitos são confeccionados em grão de arroz, pintado na cabeça de alfinete, talhado em palitos de fósforo, esculpido em peça de ébano, de vidro, de acrílico, de cristal, de pedra sabão, de mármore, de papel, de madeira, de bola de árvore de Natal, de vela, de bucha, de papel marchet, de borracha, de gesso e de resina.

Ela começou a fazer sua coleção quando se casou, em 1978, quando comprou seu primeiro presépio, daí em diante, não parou mais de adquiri-los.

Os presépios representam para ela fé e muita devoção. “A Sagrada Família, sempre foi o modelo que eu queria para minha família, e a diversidade de material usado para representá-la começou a me encantar e, cada vez mais, eu queria comprar um diferente”, ressalta.

Montados pelos cômodos da casa, quem a visita tem a oportunidade de apreciar sua ornamentação única e fazer uma prece a Deus.

Parte da coleção de presépios de Dona Marisa Simão, da Paróquia Nossa Senhora da Assunção, em Barbacena.

Texto: Clau Magalhães/Dacom/Arquidiocese de Mariana