As bibliotecas são nobres fontes que jorram o precioso conhecimento acumulado ao longo dos milênios pela humanidade. Nos livros encontramos muito mais do que informações, palavras e gravuras, com eles podemos viajar e conhecer um lugar novo, uma figura histórica ou até mesmo nos conectar com o divino.
Nesta leitura te transportaremos para dentro da Biblioteca Episcopal, onde você poderá encontrar a história materializada em obras que pertenciam e já passaram pelas mãos dos Bispos e Arcebispos da Arquidiocese de Mariana.
Sobre as extensas estantes, mais precisamente 106, os mais de 11 mil livros estão divididos em 51 categorias, dentre elas Direito Canônico, Liturgia, Botânica, Filosofia, Mariologia, História da Igreja, Educação, Artes. Há de todos os tipos, pequenos, grandes, enormes, grossos, de capa dura e dourada, manuscritos, novos e muito antigos, como o exemplar “Terentius”, que tem exatos 504 anos.
Foi impresso em Veneza, na Itália, pela gráfica “Aldine Press” de Aldus Munutius, conhecido por ser pioneiro em resgatar escritos raros dos gregos e disseminá-los no formato que hoje conhecemos como livro de bolso. Entre os impressos pela família Manúcio estão as peças de Terêncio — grande dramaturgo e poeta — que compõem este exemplar.
O livro “Terentius” tem quase a idade do Brasil, ao tocá-lo despertam inquietações: nestes cinco séculos, a quem ele pertenceu? Por quantas mãos ele passou, ou até mesmo como foi sua jornada de mais de nove mil quilômetros da cidade italiana até Mariana? São fatos que talvez nunca saberemos.
A Biblioteca dos Bispos, antigo Museu do Livro, hoje se encontra na Cúria Metropolitana, no antigo Palácio dos Bispos. Apesar de não estar aberta à visitação, o acervo passa por higienização pelas mãos de Edilene Silva e Geralda Sabina.
Com delicadeza, apreço e atenciosidade, elas mantêm sob cuidado o antigo patrimônio intelectual dos prelados que por aqui passaram, e consideram o trabalho “muito especial” por saberem que os livros pertenceram aos bispos.
Outro exemplar que merece destaque é o Missal Romano do ano 1755 de Dom Frei Domingos da Encarnação Pontével. Este Bispo conduziu a Arquidiocese de Mariana entre os anos de 1779 e 1793, período marcado pela Inconfidência Mineira, a qual teve ao menos oito padres do clero como inconfidentes.
Traçando uma linha temporal, neste mesmo seguimento de livros litúrgicos, há 225 anos separando o Missal de Dom Frei Domingos e um Missal de Dom Geraldo Lyrio Rocha, datado do ano de 1985.
Dentre os milhares de livros, muitos deles não tem alguma pista que denuncie a qual eclesiástico pertencia. Edilene confidencia que ao limpá-los fica imaginando de quem eram determinados exemplares e afirma ser “um privilégio ter em mãos livros maravilhosos de, por exemplo, Dom Viçoso”. À medida que o trabalho de conservação é realizado, surpresas aparecem.
“Cada livro, cada página é um mistério. A gente encontra cartas, recibos, santinhos, lembranças de primeira comunhão, ordenação, dentre outras coisas”, destaca Geralda.
Um dos achados foi uma carta datada de 1 de abril de 1815, escrita por “Benjamim J. Santos”. Em suas linhas, Benjamim avisa a seu amigo Cândido sobre o atraso da entrega dos breviários solicitados pelos dois. A carta também informa a Cândido que Benjamim se tornou seminarista no mês anterior.
“Houve dia 30 de Março ordenação de 22 seminaristas, sendo 1 Diácono, 7 Subdiáconos, 8 Seminaristas, sendo eu um dos 8, e 6 [ilegível]”, escreveu.
Naturalmente, livros comuns tem seu grande valor por carregarem consigo o conhecimento, mas esta não é uma biblioteca qualquer. A Biblioteca Episcopal tem uma literatura valiosa, não só por ter pertencido a bispos, mas por ser verdadeiramente parte dos 280 anos de história da Arquidiocese de Mariana.
Texto e fotos: Paulo César Gouvêa/Arquidiocese de Mariana
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