terça-feira

, 04 de fevereiro de 2025

Campanha da Fraternidade 2025: Por uma conversão integral

03 de fevereiro de 2025

Aproxima-se o precioso tempo quaresmal, momento oportuno em que a Igreja nos convida a intensificarmos a nossa prática de oração, esmola e jejum, como um caminho penitencial de conversão e de busca pela santidade. Todos os anos, a Igreja no Brasil, por meio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), escolhe um tema e um lema para a Campanha da Fraternidade, com o objetivo de despertar a consciência do povo de Deus para alguma determinada situação que toca toda a sociedade, levando em consideração o bem comum.

Neste ano, dentre tantos acontecimentos que nos dispersam e dividem nos âmbitos político, social e religioso, a Igreja interpela a todos os homens “de boa vontade” (Lc 2, 14) à contemplação de toda a criação divina, e assim meditarem os 800 anos da composição do cântico das criaturas, de São Francisco de Assis, e os 10 anos da publicação da Laudato Si, do Papa Francisco. Neste contexto e espírito, a Igreja no Brasil volta os olhares para a temática da ecologia integral, com o tema: “Fraternidade e ecologia integral” e o lema “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1, 31), através do qual, a Igreja Católica pretende, neste tempo penitencial, nos despertar para a consciência de uma conversão ecológica, enquanto tarefa e compromisso de todos.

Salvaguardando essas informações introdutórias, creio que em nosso coração podemos nos deparar com a seguinte questão: “O que o tema da ecologia integral tem a ver com a proposta de conversão quaresmal?” Para respondermos tal questão creio que o primeiro passo é devolver ao nosso coração o olhar de Deus que, ao criar todas as coisas, “viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). Sim, estimado leitor, tudo o que Deus cria é bom e todo o universo é obra do infinito amor divino. Ainda no relato do livro do Gênesis, após criar todo o cosmos, encontramos o homem em estado de nudez (Gn 2,25) que, na linguagem bíblica, quer sinalizar o equilíbrio, isto é, a harmonia existente entre o homem e a mulher, também em sua relação com Deus e com a criação. Assim, tudo o que Deus faz é bom e está em perfeita harmonia, e este é o grande projeto do Criador.

No relato bíblico, após o homem abusar de sua liberdade (Gn 3), na rejeição a Deus e na escolha pelo mal, o próprio Senhor procura pelo homem que, envergonhado, se esconde do Criador (Gn 3, 9). Ainda no texto bíblico, Deus pergunta pelo homem que, ferido pelo medo e a morte, não reconhece sua culpa, pelo contrário, a terceiriza: Adão não assume o erro e culpa Eva (Gn 3, 11-12), que por sua vez, responsabiliza a serpente (Gn 3, 13). Neste ponto, a Palavra de Deus revela-nos que o pecado instaura em nós uma desarmonia com o Criador, com o nosso semelhante, e com toda a criação. O pecado, dessa forma, nos faz inimigos de Deus, distantes do próximo e indiferentes à criação.

Outrossim, para além dos textos bíblicos que nos revelam a desarmonia causada pelo pecado, também não se pode negligenciar toda a crise socioambiental presente: desmatamentos, desastres ambientais, ciclones, ondas intensas de calor, inundações, secas e tantas outras facetas desta grande crise proporcionada pela interferência predatória do homem que negligencia sua tarefa e missão de cuidar e proteger a casa comum. Vale sempre lembrar que o homem foi criado e colocado no topo da pirâmide cosmológica, isto é, como representante de Deus na obra criada e, por isso, responsável por cultivar e cuidar do jardim, de todo o planeta (Gn 2, 15).

Com efeito, neste tempo quaresmal, para além de todos os exercícios de piedade — importantes em nosso caminho penitencial — queremos, como Igreja e em comunidade, convertermos o nosso coração às ações práticas, mesmo que pequenas, mas necessárias, que promovam o cuidado e a proteção de nosso planeta, no cultivo de um olhar responsável e grato a Deus pelo dom da criação. Economizar um pouco de água, não desperdiçar alimento, ter um consumo consciente, são pequenos gestos que revelam nosso compromisso com o planeta e com o bem das gerações futuras que, assim como nós, precisam de um planeta para sobreviver.

Inspirados pela Palavra de Deus e motivados pela Campanha da Fraternidade deste ano de 2025 queremos, portanto, nos colocarmos como peregrinos da esperança, sempre conscientes de nosso compromisso batismal em sermos “sal da terra e luz do mundo” (Cf. Mt 5, 13-16), na ocasião, dando nosso testemunho de protagonistas do bem no cuidado de nossa casa comum, superando nosso egoísmo e devolvendo ao nosso coração o olhar amoroso de Deus que tudo cria e que quer vida plena para todos. Como afirmou o Patriarca Bartolomeu: “um crime contra a natureza é um crime contra nós mesmos e um pecado contra Deus”. Que este tempo quaresmal seja uma oportunidade para que todos nós cresçamos em conversão: reestabelecendo nossa comunhão com Deus, com o próximo, e com a criação, fruto do amor de Deus!

Moisés Galinari Tôrres
Seminarista do Ano de Síntese Pastoral
Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima – Viçosa (MG)

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