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Bege e vinho serão as novas cores da catedral

28 de março de 2017 Arquidiocese

A Catedral de Mariana receberá as cores bege e vinho na pintura que será realizada ainda dentro da licitação atual financiada pelo PAC Cidades Históricas. A decisão foi feita pela comunidade da paróquia Nossa Senhora da Assunção que se reuniu no Santuário Nossa Senhora do Carmo na noite dessa segunda-feira (27) para a audiência pública com representantes do Iphan.

A ideia de deixar a comunidade decidir as cores da igreja veio de uma reunião realizada na semana passada pelo Iphan, com a presença de especialistas em conservação e restauração. Após concordarem que poderia haver dois padrões principais de pintura, o grupo achou importante a participação popular no processo. “A gente está numa fase da obra que a gente precisa dessa decisão, que é sim técnica, mas também está muito relacionada com o imaginário da comunidade, com a relação que as pessoas criam com o patrimônio cultural”, explicou Flora Lopes Passos, arquiteta do Iphan. A primeira proposta pretendia manter as cores atuais com tons de cinza claro e escuro e o verde do lado de fora das portas e janelas. A segunda era baseada nas cores encontradas nas prospecções pictóricas, raspagens das camadas de pinturas: bege no lugar do cinza e vinho no lugar do verde. Em votação aberta, a segunda recebeu 51 votos, enquanto a primeira 10.

Ao longo dos trezentos anos, a Catedral da Sé sofreu intervenções que mudaram suas características, por isso foram feitas várias prospecções em diferentes lugares para descobrir se havia outras cores por baixo das atuais. Em uma dessas prospecções, no arremate lateral de uma das torres do sino, encontraram uma camada em tom de bege “esse local provavelmente recebeu menos intervenções em comparação a outros porque o acesso é mais difícil, tem que montar os andaimes para chegar até lá em cima. Então a gente achou que essa peça de madeira é uma peça mais antiga, vamos dizer assim”, relata Flora.

Segundo a arquiteta, a pintura atual representa uma intervenção da sociedade contemporânea em que vivemos. “Se analisarmos as esquadrias (portas e janelas), na porta principal de acesso da faixada frontal, a gente tem o verde do lado de fora e o cinza dentro. Nas sacadas que ficam o segundo pavimento, tem o mesmo padrão. A porta do corredor da sacristia, tem outro padrão: verde claro fora e esse marrom quase que um vinho do lado de dentro”, explica. Na fachada atual de cinza claro, eles também encontraram o mesmo tom de bege das torres.

Atualmente as esquadrias, fachadas, elementos em cima do telhado e outras peças de madeira estão sendo lixadas para receber a nova pintura. “Não pode ser a nossa predição resgatar algo que seja original porque isso é impossível. A igreja tem 300 anos, muitas dessas pinturas as vezes são removidas para receber intervenções”, explica Flora, que ressalta o objetivo: “O importante é que essa pintura seja acima de tudo significativa, de acordo com o embasamento técnico dos estudos feitos para essa obra e, claro, da opinião da comunidade”.

 

A restauração

Antes de apresentar a proposta de cores, Flora detalhou as etapas da restauração da catedral, que está sendo realizada desde janeiro de 2016. Para essa primeira etapa, estava previsto a restauração arquitetônica, estrutura, drenagem e as instalações hidrossanitárias. Um ano e três meses depois, ela adianta os resultados: “Uma das coisas que vocês vão ver é a colocação de tirantes metálicos, tirantes escolhidos de forma bem delicada para que não fosse uma intervenção agressiva esteticamente, mas que garantisse a consolidação da estrutura, algo muito importante”.

Segundo a arquiteta, a estrutura da igreja é toda feita em madeira, por isso foi necessário a substituição das partes que estavam infestadas de cupim. A cobertura está finalizada com as telhas e manta. Muitas dessas telhas foram reaproveitadas após passarem por um processo de higienização.

A previsão de término da primeira etapa era para dezembro de 2016, mas devido a imprevistos como o encontro de vestígios arqueológicos, a obra atrasou. Nas escavações realizadas na calçada da Rua Frei Durão, lateral da Sé, foram encontradas mais de 25 ossadas que possivelmente pertenceram a escravos ou libertos. Essa hipótese foi levantada devido aos artefatos encontrados juntos, como um cachimbo e um facão. Depois de encontrados, os ossos são registrados e removidos para a sede do Iphan na Rua Direita, onde é feita a limpeza e catalogação para destiná-los ao laboratório.

As próximas licitações da obra preveem etapas complementares, como: elétrica, técnica, segurança contra descargas atmosféricas, sistema de proteção de combate a incêndio e outros, além da restauração dos elementos artísticos. O Iphan está trabalhando para que a licitação seja feita ainda esse ano.