Na manhã desta segunda-feira, dia 21 de abril, a Igreja e o mundo foram surpreendidos com a notícia do falecimento do Santo Padre, o Papa Francisco. No domingo anterior, Solenidade da Páscoa, o Papa apareceu em público, desejou a todos “Feliz Páscoa” e, no papamóvel, caminhou entre os fiéis..
Conversamos com o Padre Fabiano Milione, sacerdote do clero da Arquidiocese de Mariana, que está em Roma estudando no Colégio Pio brasileiro para nos repassar as impressões dos brasileiros que lá residem e dos próximos passos que a Igreja toma a partir de agora.
DACOM: Pe. Fabiano, como receberam a notícia do falecimento do Santo Padre? Roma amanheceu mais triste?
Pe. Fabiano: A segunda-feira depois do Domingo de Páscoa é um feriado tradicional aqui em Roma, conhecido como Lunedì dell’Angelo, no qual as pessoas prolongam a alegria da Ressurreição do Senhor em família, fazendo os chamados piqueniques. Mas esse dia foi diferente, pois logo pela manhã esta triste notícia. No nosso colégio muitos retornavam dos trabalhos pastorais de Semana Santa e foram surpreendidos com as badaladas do campanário da Basílica que confirmaram a morte do Papa Francisco e logo de instaurou o clima de tristeza e orações. Como comunidade do Pio Brasileiro, apenas recebida a notícia, rezamos o ofício dos fiéis defuntos e a Santa Missa em sufrágio pelo Romano Pontífice.
DACOM: O Papa Francisco foi o primeiro papa latino-americano. O senhor como brasileiro e latino-americano sente que Francisco levou nosso jeito de ser Igreja para Igreja do mundo?
Pe. Fabiano: Vivendo aqui em Roma já a quase dois anos, percebo que essa foi uma das grandes insistências do Papa Francisco, em trazer um pouco da nossa eclesialidade para a Europa e para o mundo, principalmente no que diz respeito à acolhida incondicional, a proximidade e a capacidade de escuta, como bem marcou a última assembleia do Sínodo dos Bispos que trouxe grande alegria ao seu coração de Pastor. A característica de ser Igreja na América Latina sempre esteve presente em seus documentos, discursos e homilias, desde a Evangelii Gaudium. Mas principalmente esteve presente em seus gestos.
DACOM: Estudando no Colégio Pio brasileiro, os senhores tinham algum contato com o Pontífice? Alguma vez se encontraram com ele informalmente? Qual contato mais o chamou atenção?
Pe. Fabiano: Além de alguns momentos depois das celebrações na Basílica de São Pedro nos quais ele passava para cumprimentar os fiéis, não tive a oportunidade de nenhum encontro informal. Nós do colégio Pio brasileiro tivemos a alegria e o privilégio de uma audiência privada com o Papa Francisco no ano passado por ocasião dos 90 anos de fundação do colégio. Foi um momento particularmente especial no qual o papa se apresentou com muita proximidade e em um clima de muita descontração e ao mesmo tempo muita paternidade para conosco. Com um bom humor típico brincou sobre o gosto brasileiro por cachaça e elogiou nós mineiros pela nossa bravura que “paga muito dinheiro para não entrar em uma briga e mais dinheiro ainda para não sair de uma”.
DACOM: O que o senhor destacaria do pontificado do Papa Francisco que mais chama atenção?
Pe. Fabiano: A alegria com a qual ele conduziu o seu pontificado e que esteve sempre presente em seus documentos pontifícios, alegria que ele demonstrava também em seus gestos. A misericórdia que ele semeou pelo mundo e sempre presente em suas palavras e em sua vida, desde o lema do pontificado até a última visita ao presídio nessa última quinta-feira. Dois momentos ficarão marcados em mim, o primeiro é a sua oração pelo fim da pandemia no dia 27 de março de 2020 quando, sozinho, em uma Praça de São Pedro completamente vazia, ele rezou por toda humanidade. Creio que emocionou a muitos como a mim. O segundo momento foi a sua última aparição no domingo de Páscoa. Na leitura que faço hoje, reunindo suas últimas forças para se despedir dos fiéis ao atravessar, muito debilitado, a Praça de São Pedro repleta de peregrinos e conceder-nos como pai, a sua última bênção Urbi et Orbe.
DACOM: Como a Igreja se organiza agora pós-morte do Papa?
Pe. Fabiano: Desde ontem a Igreja se mantém em oração pelo Papa Francisco e começa a se organizar para a celebração de seu funeral que acontecerá no próximo sábado. Nesse período até a eleição de um novo papa a Igreja vive um momento chamado Sede Vacante. Ontem à noite (dia 21/04) aconteceu a constatação oficial da morte do Papa Francisco pelo seu Carmelengo, o Cardeal Farrel. Esse mesmo cardeal é incumbido de selar os aposentos e os escritórios papais. Hoje de manhã o corpo do papa foi posto em um caixão simples, conforme a sua vontade em testamento, iniciando o velório, primeiramente privado e amanhã pela manhã seu corpo será conduzido até a Basílica de São Pedro para o velório público e para a última homenagem e despedida dos fiéis. No sábado pela manhã, às 10h, será celebrada a Missa Exequial do papa e a última encomendação. Terminada a celebração seu corpo será conduzido até a Basílica de Santa Maria Maior onde ele desejou ser sepultado. Hoje também aconteceu a Primeira Congregação Geral na qual os Cardeais, que começam a chegar em Roma, se reuniram para a decisão de alguns passos importantes sobre sepultamento do papa, e para o próximo conclave prometendo fidelidade no cumprimento de todas as normas eclesiais sobre o sepultamento de um papa e eleição do outro.
DACOM: E o povo de Deus, como devem se portar a partir de agora e, também, na espera do novo papa?
Pe. Fabiano: Como povo de Deus devemos nesses dias rezar pelo Papa Francisco para que descanse em paz no Senhor mantendo sempre viva a memória de suas palavras e de sua vida para ficarem marcadas em nossos corações. Devemos também rezar, nesse tempo de Sede Vacante para que o Espírito Santo conduza os preparativos e a eleição do novo papa. Sempre é o Espírito do Ressuscitado que conduz a Igreja, e nesses momentos essa realidade fica ainda mais evidente. Ao contrário do que apresenta a grande mídia, devemos especular menos e rezar mais.
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