Na data em que se completará 238 anos do aniversário natalício de Dom Antônio Vicente Ferreira Viçoso, a Arquidiocese de Mariana e a Secretaria Municipal de Patrimônio Cultural e Turismo de Mariana (MG) realizará a caminhada de observação “Nos Passos de Dom Viçoso”. Com início no Santuário do Caraça, o trajeto de fé, história e pertencimento conectará Mariana a cidades irmãs entre os dias 13 e 16 de maio.
O percurso será realizado em quatro etapas, somando-se aproximadamente 88 quilômetros, e passará por pontos históricos, trilhas e comunidades rurais, em um projeto que une cultura, espiritualidade e desenvolvimento territorial.
Este será um momento estratégico para observar o percurso, mapear necessidades e colaborar com a estruturação do futuro Caminho Religioso, em articulação com os municípios vizinhos e instituições como Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop), Sebrae e Secretaria de Estado da Cultura.
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Por ocasião do 238º aniversário natalício, comemorado nesta terça-feira, 13 de maio, convidamos aos prezados leitores a conhecerem mais sobre a relação de Dom Viçoso e o Caraça, através do capítulo XI “Missões e Colégio”, retirado da obra “Dom Viçoso Apóstolo de Minas”, escrito por D. Belchior J. da Silva Neto.
No período revelado abaixo o então Padre Viçoso, na companhia do Padre José Matias e Padre Leandro, foram enviados em missão ao Santuário Nossa Senhora Mãe dos Homens, na Serra do Caraça, hoje pertencente a cidade de Catas Altas (MG). Leia abaixo:
Capítulo XI – Missões e Colégio
Na manhã iluminada de abril, em frente à Ermida de Nossa Senhora Mãe dos Homens, os três missionários trocavam suas impressões. Haviam marginado o Rio do Caraça, contemplaram o Calvário, a estrada que se perdia ao longe e, agora, olhavam de frente a monumental construção do Irmão Lourenço. Estava ali qualquer coisa de genial e espantoso, que urgia transformar em juros largos para a Igreja e o país.
— Podemos ter aqui um grande educandário, iniciou o Mestre Padre Leandro.
— Afastado do mundo, protegido pelas bênçãos de Maria, completou o Padre José Matias, quantos jovens poderemos formar aqui, para Minas Gerais e para o Brasil?
— Podemos ter um Ginásio e, também, por que não? Uma Escola Apostólica, como a Escola dos Carmelitas em Portugal, acrescentou o Padre Viçoso.
E veja, Padre Superior, basta-nos começar com um grupo de alunos e V. Revma. verá como todo o Brasil voltará os olhos para o Santuário da Sra. Mãe dos Homens.
Padre Leandro encarou os dois missionários.
Mas afinal, quem assumirá a direção dos Estudos e a disciplina do Colégio?
— Eis-me pronto, Padre Superior. V. Revma, pode mandar, disse o Padre Viçoso.
— Muito bem! Estou a ver pelo país afora os varões sábios e cultos, que sairão do Colégio do Caraça.
— Padre Superior, daqui poderão sair, na verdade, muitos homens de valor. Sairão bacharéis e juristas, sairão sacerdotes e missionários e… até Bispos para a Santa Igreja, quem sabe?
Passaram-se os dias. A ideia latejava no coração dos valentes ministros de Deus. Por que não realizá-la? Uma tarde, visita amiga chegava ao Caraça. Era o Vigário de Catas Altas, acompanhado do Guarda-Mor Inocêncio. Vinham matar saudades, mas vinham sobretudo trazer aos Padres importante convite: pregar missões em Catas Altas.
Veio à baila o assunto do futuro Ginásio, mas, afinal, o que vencia era a máxima evangélica de São Vicente: “Evangelizare Pauperibus!” Precisamos evangelizar os pobres. E voltou-se para o Padre Viçoso:
— Comecemos pelas Santas Missões, meu Padre. Se for da vontade de Deus, o Ginásio ou o Colégio virão depois.
Em princípios do mês seguinte, lá estavam os missionários a pregar a palavra de Deus no Arraial de Catas Altas, início de tantas missões que se haviam de espalhar pelo sertão mineiro. E foram dias de penitência e salvação, onde muitos pecadores regressaram à fé em Cristo, onde se ensinou o Catecismo às crianças e adultos, se reorganizaram associações religiosas e se regularizou muita vida matrimonial. Todo o povo dos arredores invadiu o arraial numa sede ardente de ouvir os missionários, pedir-lhes a bênção, confessar os pecados e participar da Santa Comunhão.
Eram dias de riqueza das graças de Deus. Tão impressionado ficou o Padre Mestre com o feliz êxito das missões que estendeu as pregações até o fim do mês. A despedida foi um protesto geral da multidão que chorava, agradecida, inclusive o próprio Vigário, insistindo pela maior permanência entre aquelas boas famílias.
De Catas Altas, seguiram os missionários para Barbacena. Ai o trabalho foi ainda maior, pois a fama dos homens de Deus já se estendia ao longe, convocando a turba imensa dos fiéis. De manhã à noite, era o trabalho insano das confissões sacramentais, das reuniões catequéticas e das pregações dos Santos Evangelhos.
Um mês de Missões em Barbacena. Estava bem iniciada a vida missionária no Brasil. Antes, porém, do término dos trabalhos, os missionários se reuniram para reatarem o assunto do futuro Colégio do Caraça, pois a messe era, na verdade, desmesuradamente grande e os operários eram pouquíssimos. Urgia aproveitar o Caraça para o futuro da Fé e da civilização no Brasil.
De Barbacena, Pe. Leandro partiu para o Rio, enquanto Pe. Viçoso e Pe. Matias regressavam ao alto da Serra para prepararem as bases do sonhado Educandário. Adaptaram-se os salões e os campos de jogos. E Deus mostrou que os abençoava, enviando-lhes o auxílio de um outro Padre secular, piedoso e dedicado, também futuro missionário: Padre Garcês.
Quando o Padre Mestre voltou do Rio trazia, além de uns poucos meninos, cariocas e mineiros, a aprovação do Ginásio e uma forte contribuição para a didática do Caraça. Pe. Viçoso organizou o programa das aulas e se misturou com os alunos para entusiasmá-los à vida de estudos. Jogos, banhos no rio, passeios e acima de tudo, vida de piedade, de estudos.
Transformara-se o Caraça. E mais uma prova das bênçãos de Deus: chegaram de Portugal mais dois sacerdotes, dois mestres apóstolos: Pe. José Joaquim Alves e Pe. Jerônimo de Macedo.