Para milhares de pessoas o 1º de maio, dia do trabalhador, é uma data de luta e resistência. Na arquidiocese, esse dia é celebrado com uma romaria de fé e esperança. Mas, pela primeira vez na história, a Romaria dos Trabalhadores e Trabalhadoras não será realizada devido a pandemia da Covid-19.
“Desde que foi criada, em 1991, pela Forania de Ponte Nova, como gesto concreto da Campanha da Fraternidade daquele ano, a Romaria dos Trabalhadores e Trabalhadoras realizou-se anualmente, ininterruptamente. É, portanto, a primeira vez, que deixamos de realizar esta Romaria que, durante muitos anos, se realizava sempre no Santuário Nossa Senhora das Graças, em Urucânia. Posteriormente, ela se tornou itinerante, tendo sido realizada em outras cidades de nossa Arquidiocese”, afirmou o coordenador arquidiocesano da Dimensão Sociopolítica, padre Geraldo Martins.
Maria José, integrante da Pastoral Afro-Brasileira, foi uma das pessoas que sonhou com a primeira Romaria e ressalta o orgulho de ter participado da primeira edição. “Conseguimos criar essa Romaria como um espaço de denúncia das injustiças no mundo do trabalho e anúncio da boa nova, de mudanças necessárias no país e na região. A comissão organizadora sempre trabalhou no sentido de fazer da Romaria um espaço de junção dos trabalhadores, para celebrar o trabalhador e não o trabalho”, disse.
“A Romaria é um dia para celebrar e refletir sobre o mundo do trabalho. Com ela conseguimos fortalecer as nossas pastorais sociais, os sindicatos, os movimentos. A Romaria continua sendo essa espaço que reúne as pessoas para celebrar o trabalhador. Me sinto muito honrada em ter feito parte da turma que gestou a primeira romaria e de ter participado de todas as edições”, acrescentou Maria José.
Gilson José, que também colaborou com o processo de criação da Romaria, pontuou que, ao longo de sua história, a Romaria dos Trabalhadores e Trabalhadoras se tornou um importante espaço de religiosidade popular e mobilização social. “A Romaria possui um processo reflexivo que potencializa o povo a ser protagonista. Na mobilização, o povo se torna sujeito, aprofunda a interpretação da realidade. Ela sempre atraiu a atenção da imprensa regional, das autoridades, criando certa expectativa e impacto, tornado forte a presença da Igreja, com sua palavra forte de esperança, seus gritos de libertação”.
Chegando em sua 30ª edição, a Romaria dos Trabalhadores e Trabalhadoras de 2020 seria acolhida pela cidade de Acaiaca (MG), na Região Pastoral Mariana Leste.
Um olhar de fé e esperança
Neste ano, as reflexões sobre o Dia do Trabalhador também são pautadas pela pandemia da Covid-19. Para padre Geraldo Martins três palavras resumem os sentimentos que devem marcar a vida dos trabalhadores e trabalhadoras em quaisquer circunstâncias, especialmente neste 1º de Maio de 2020.
“Fé, esperança e luta. Estas três palavras se completam e dão o tom de como devemos enfrentar as crises que atingem, de maneira mais forte e consequente, a classe trabalhadora, os pobres e excluídos”, destacou padre Geraldo.
“A fé porque nos remete ao Transcendente no qual encontramos sentido para nossa existência. Uma fé pascal que nos leva a afirmar que o mal não tem a palavra final. A Ressurreição de Jesus nos garante que, como ele, também nós venceremos o mal e a morte que, muitas vezes, são fruto da ganância e da ambição humanas, resultado do sistema político-econômico que coloca o capital e o lucro no centro onde deveria estar a pessoa humana. A esperança nasce desta nossa fé que, na expressão de São Paulo, nunca decepciona (Rm 5,5). Quem acredita na Ressurreição de Cristo não perde a esperança nunca! Somos movidos por uma esperança que é firmada no concreto da vida enraizada na realidade, por mais dura que seja. Uma esperança que supõe as mediações humanas para superar crises, vencer tormentas e transformar a realidade”, explicou.
O presbítero completou que a luta dos cristãos é alimentada e iluminada por essa fé e esperança. “Traduz o compromisso e o esforço de todos na busca do bem comum, na defesa da vida, dos direitos humanos, da justiça social. Exige estratégia e perseverança para vencer os inúmeros embates que ameaçam a vida e os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. Não desistir nunca da luta! Jamais perder a fé e a esperança! É a mensagem que deve animar os corações dos trabalhadores e trabalhadoras”, disse.
Os impactos da pandemia no trabalho
Além de eventos cancelados, os impactos desta pandemia ainda são incalculáveis. Segundo padre Geraldo essa experiência obriga a sociedade a olhar o mundo e as relações humanas de maneira diferente. “Uma das preocupações é exatamente em relação ao trabalho, numa sociedade em que prevalecem a busca do lucro e o estímulo ao consumo. Preocupam-nos, nesse contexto, medidas que afetam diretamente a vida do trabalhador quando apontam na direção da perda de direitos, da precarização do trabalho. O tempo é de sacrifício para todos, mas não se pode colocar mais peso nos ombros dos trabalhadores/as”, afirmou.
O presbítero destacou que é urgente repensar o modelo de economia em curso no mundo e isso implica reposicionar as relações de trabalho que devem ter a pessoa humana no centro e não o mercado, o lucro, o consumismo. “Se antes da Covid-19 a desigualdade social era uma chaga vitimando milhões de pessoas no Brasil e no mundo, com a pandemia do novo coronavirus, o quadro se agravará e o desafio de superação se torna ainda maior. Análises dão conta de que vai aumentar o desemprego e, muitos que conservarem seus empregos, pagarão um preço por isso como, por exemplo, redução de salário, entre outras coisas. Isso é preocupante. É preciso buscar soluções que garantam vida digna para todos. Diante de tudo isso, a pergunta que não quer calar é: que lições vamos tirar dessa pandemia nos âmbitos político, econômico, social, cultural, ambiental e religioso?”, disse.