A Encíclica Laudato Si do Papa Francisco e os cuidados com a Casa Comum foram temas de debate e reflexão do Seminário Sociedade do Bem Viver da Escola de Fé e Política Dom Luciano no último sábado (27). O encontro foi realizado pela plataforma Zoom e foi transmitido pelas redes sociais.
O coordenador arquidiocesano da Dimensão Sociopolítica, padre Geraldo Martins, foi o responsável por abordar os principais pontos do documento do Papa. Em sua fala padre Geraldo destacou a necessidade de pensar o ser humano como parte da natureza e de pensar em qual modelo de desenvolvimento, produção e consumo a sociedade deseja.
“Uma coisa importante, quando falamos dos organismos vivos, falamos de todos os seres vivos e a sua relação com a natureza. Quando falamos de ecologia, muitas vezes tiramos os ser humano dessa relação, como se não fizéssemos parte da natureza. Esse é um aspecto interessante, ao se pensar na Laudato Si”, disse.
Segundo padre Geraldo, dentro do conceito de Ecologia, o Papa lembra do meio ambiente, da relação do meio ambiente com a sociedade que o habita e destaca que o ser humano faz parte da natureza. O presbítero também destacou, que o Pontífice chama atenção para a crise socioeconômica e para o fato de tudo está interligado.
Padre Geraldo também citou sua experiência na Amazônia, na Diocese de Humaitá, e a diferença na relação de tempo dos povos ribeirinhos para as comunidades da arquidiocese. “Por uma questão muito simples, se eu quero ir a Belo Horizonte, eu penso na quilometragem. Para eles é pensar no tempo no barco. Um dia e meio no barco. A noção é outra. Estamos vivenciado a mesma coisa que o povo ribeirinho, que tem missa uma ou duas vezes por ano. A noção é muito diferente e tudo isso está ligado à cultura, aos costumes”, afirmou.
“O Papa Francisco fala que a visão consumista do ser humano, incentivada pelos mecanismos da economia globalizada atual, tende a homogeneizar as culturas e a debilitar a imensa variedade cultural que é o tesouro da humanidade”, disse. Ele ainda destacou, que o Papa afirma, que o desaparecimento de uma cultura pode ser tanto ou mais grave que o desaparecimento de uma espécie animal ou vegetal.
Dilma Ferraz e Maria Francisca Oliveira da Dimensão Sociopolítica na Região Mariana Leste, destacaram a alegria em participar do Seminário. “Alegria por sentir que uma ferramenta tão importante como a rede virtual pode unir tantas lideranças cristãs comprometidas para com a questão ambiental e social. Padre Geraldo Martins, destacou o capítulo 4 do documento, que fala sobre a Ecologia Integral. Segundo ele, o Papa Francisco ressalta que, dependendo do modelo de desenvolvimento que usamos, os meios de produção e a forma de consumo, pode resultar num equilíbrio ou desequilíbrio de todo o ecossistema – beneficiando ou afetando todos os organismos vivos e o meio ambiente. Ele chama a nossa atenção de que, enquanto ser humano não se pode considerar que estamos aqui para “dominar” os bens existentes, mas para o bem de todos, temos que ser aqueles que cuidam de tudo e de todos, pois tudo está interligado, formando uma espécie de ‘teia’”, disseram.
Fórum Permanente da Bacia do Rio Doce
As principais ações e reflexões do Fórum Permanente da Bacia do Rio Doce e da Comissão do Meio Ambiente da Província Eclesiástica, e a importância da organização da Dimensão Sociopolítica nas Regiões foram apresentadas pelo assessor da Pastoral Carcerária, padre Marcelo Santiago, durante o Seminário.
O presbítero disse que iniciativas como esse Seminário fortalecem as lutas no compromisso com a vida, com a ecologia integral e com a construção permanente de uma sociedade mais acolhedora, inclusiva e um mundo melhor para todos.
“Avalio muito positivamente este Seminário, à luz da Laudato Si, nos ajudando a entender que tudo está interligado na natureza e que somos parte dela. Precisamos mudar nossas relações entre pessoas, com os demais seres e com a mãe terra. Em causa está o futuro da vida no planeta. É algo muito sério. O seminário pontuou ações importantes na Arquidiocese que vão ao encontro dessa nova postura assumida na Laudato Si, como em relação à preservação do meio ambiente, combate ao modelo predador da mineração e seus conflitos, investimento na agroecologia e em políticas sociais. O caminho é este. Este tempo de pandemia, nos ajude a refazer nossas ações e a voltar, não do mesmo modo, mas pra viver uma normalidade nova, com a vida em primeiro lugar”, afirmou padre Marcelo. Após sua fala, os representantes de cada região pastoral da arquidiocese apresentaram as ações que estão sendo realizadas.
Para Silene Gonçalves, representante da Escola de Fé e Política, o Seminário foi uma boa experiência. “A participação foi muito boa, e foram muitas experiências positivas acontecendo na Arquidiocese. Claro que temos muitos desafios, e realidades muito distintas na Arquidiocese. A mineração é sem dúvida a maior preocupação. Precisamos urgentemente de um outro modelo de minerar e uma forma de lidar com a nossa terra, precisamos nos entender como parte do ambiente e não como dominadores e exploradores da terra!”, ressaltou.
O Seminário também teve como intuito debater sobre o papel dos cristãos enquanto construtores da Sociedade do Bem Viver em tempos de pandemia e pós pandemia. A Escola de Fé e Política pretende realizar outros seminários.