Neste tempo de pandemia, com as restrições às quais somos submetidos, muitas pessoas se perguntam sobre o fato de não termos as celebrações litúrgicas com a presença do povo. Alguns pedem a reabertura das nossas igrejas e o retorno do culto público, principalmente a celebração da Santa Missa aberta a participantes. Também nesse mesmo período uma parcela considerável de municípios optou pela reabertura das várias atividades econômicas e sociais, flexibilizando gradativamente as medidas de distanciamento social até então vigentes. Os gestores públicos se viram fortemente pressionados não só pela preocupação com as atividades econômicas, mas pelas reivindicações oriundas de vários setores, inclusive religiosos. Posteriormente, sucedeu o crescimento do número de casos da COVID-19, inclusive com óbitos.
O avanço da pandemia rumo ao interior do país aumentou e é amplamente noticiado pelo Ministério da Saúde e pelos meios de comunicação social. Nos municípios da área mineradora, da região central e da zona da mata mineira novamente reaparece a apreensão, agora com a pandemia já grassando em seus territórios. A Arquidiocese de Mariana abrange parte considerável das mencionadas regiões. Por sua vez, em várias comarcas o Ministério Público tem questionado e até revertido as medidas de flexibilização, movido por fundamentadas preocupações com o bem comum.
A virtude da prudência exige que não colaboremos com a propagação do vírus, induzindo as pessoas a saírem de suas casas, expondo a um risco de contágio massivo, milhares de pessoas que diariamente frequentam os templos e as atividades da Igreja na Arquidiocese de Mariana. Não se trata, de uma injusta privação movida por caprichos humanos ou indiferença gerada pelo medo ou comodismo dos pastores, mas de assumir com responsabilidade, em benefício do povo de Deus, a administração dos Bens Espirituais tendo como referencia o que diz o Senhor Jesus Cristo no Evangelho (cf. Jo 10,10).
Vale a pena ressaltar a dedicação do nosso clero que, manifestada sob as mais variadas formas, se empenha na adaptação ao novo contexto e até mesmo, aprendendo o uso das modernas tecnologias para pregar a Palavra de Deus, para produzir subsídios, conduzir momentos de oração e transmitir a celebração da santa Missa e de outras celebrações, não permitindo que as comunidades cristãs se sintam sem referência e apoio. São belos e numerosos os testemunhos oriundos dessa experiência. Igualmente louvável o zelo daqueles presbíteros que continuam ministrando os sacramentos nas situações de emergência e infatigavelmente assistindo os enfermos graves nos hospitais ou nos seus lares.
Igualmente silenciosa, mas amplamente eficaz é a atuação do serviço da caridade promovido pelas pastorais, movimentos e obras sociais que militam em nossas 136 Paróquias com suas muitas Comunidades. Bendizemos a Deus e agradecemos a essa imensa rede de solidariedade cristã articulada por padres, religiosas(os) e leigos(as). Iniciativas benfazejas que abraçam as crescentes situações de sofrimento e pobreza extrema. Tudo isso mostra como a vida cristã está presente e vibrante em nossas comunidades e afasta a impressão errônea de que a Igreja está inoperante diante da pandemia.
Vamos nos preparar para a volta gradual das celebrações litúrgicas e demais atividades eclesiais, mas não podemos realizar esse processo de forma temerária e precipitada. Tal processo de retorno implica na constatação de um nível razoável de segurança sanitária, o que inexiste no presente momento. Enquanto isso intensifiquemos a vida de oração pessoal e familiar. Nesse ano pastoral dedicado à família, convertamos nossos lares em verdadeiras igrejas domésticas.