O projeto Mesa Solidária, em Congonhas (MG), está ajudando os moradores dos bairros atingidos pela mineração neste tempo de pandemia da Covid-19. A iniciativa está sendo realizada pela Paróquia Nossa Senhora da Conceição e pelo Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB).
“Mesa Solidária é o povo se organizando para ajudar o próprio povo. Evita-se, dessa forma, que oportunistas explorem a sua fome e que os empobrecidos precisem se humilhar por uma cesta básica. A proposta tem um valor humanitário e pedagógico”, explicou padre Antônio Claret, que acompanha o trabalho dos atingidos.
O projeto foi organizado em tem três frentes de ação em diferentes fases. A primeira iniciou-se no começo da pandemia, a partir do bairro Residencial, com produção e distribuição gratuita de máscaras. “Esse bairro fica debaixo do complexo de barragem Casa de Pedra (CSN), que acumula 107 milhões de toneladas de rejeito de minério. Moram ao menos 5 mil pessoas na área de risco as quais, em caso de rompimento, têm 30 segundos para fugir da morte”, ressaltou padre Claret.
A segunda fase teve início na primeira quinzena de junho a partir da Comunidade Novo Rosário, da Paróquia Nossa Senhora da Conceição. Ela é realizada quinzenalmente, aos domingos, pela manhã. “É um espaço de partilha. A equipe organizadora põe uma mesa na rua. Todo mundo pode doar e todo mundo pode levar o que tiver necessidade para sua família. Essa modalidade estendeu-se, agora, para o Residencial, onde ocorreu a primeira Mesa no dia 5 de julho”, disse padre Claret.
A terceira frente, a mais recente, consiste na distribuição de alimento para famílias necessitadas, quatro vezes por semana: segunda, quarta, sexta e domingo. Ela nasceu de um diálogo entre padre Paulo Barbosa e a administração do restaurante Parada de Minas.
“O Restaurante ‘Parada de Minas’ doa a comida não vendida. Quatro equipes se organizam numa escala, buscam o alimento ainda quente no fogão e levam para o destino combinado. O alimento, que pode chegar a 15 variedades, dá para umas 30 pessoas. A logística é garantida por quatro organizações, cada qual com sua equipe: Sociedade São Vicente, CEAMEC (Centro de Apoio ao Menor de Congonhas), Grupo Emanuel e Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB. Uma vez por semana, os serviços são avaliados em reunião virtual”, explicou padre Claret.
Segundo ele, a doação de alimento por um restaurante é uma gota de esperança no oceano da vida, pois os números do desperdício são assustadores. “No Brasil, 41 mil toneladas por dia e 37 milhões de toneladas de alimento por ano vão para o lixo. No mundo, o volume chega a 1,3 bilhão de toneladas/ano. Isso corresponde a 1/3 de todo o alimento produzido. Segundo a FAO, 900 milhões de pessoas passam fome no mundo. Esse número poderá ter um acréscimo de 600 milhões em função da pandemia. Então o alimento que é jogado fora daria para saciar os famintos”, acrescentou padre Claret.
Foto: MAB