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Retrospectiva 2020: gestão pastoral, comunicação estratégica e a formação integral formam o eixo prioritário na construção do novo estatuto da CNBB

30 de dezembro de 2020 Igreja no Brasil

A pandemia da covid-19 desafiou o mundo inteiro com novas rotinas para o enfrentamento ao dessa doença infecciosa que paralisou os países e matou milhares de pessoas em todo o mundo. Para conter o avanço do coronavírus foram necessárias diversas medidas de restrição. Entre elas, restrições na operação de empresas e na circulação de pessoas.

Tais medidas forçaram as organizações a adotarem novos métodos de trabalho como o home office e a implantação de sistemas automatizados para dar continuidade ao ofício em vários setores da economia e social. Com a igreja não foi diferente. Para além do atendimento pastoral, que teve de se adequar a novas possibilidades, também a gestão dessas entidades precisou ser repensada.

Nesse contexto, a gestão pastoral, a comunicação estratégica e a formação integral junto com a sinodalidade e missionariedade formam a base do novo Estatuto da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que começou a ser discutido em junho de 2020.

Para colaborar com o processo de construção do novo estatuto, a CNBB por meio do Instituto Nacional de Pastoral Alberto Antoniazzi (INAPAZ), vinculado à entidade produziu seis lives no canal oficial do Youtube que abordaram pontos importantes que serão contemplados novo estatuto.

Na segunda parte deste especial sobre o novo Estatuto da CNBB a gente destaca as temáticas: gestão pastoral, comunicação estratégica e formação integral que foram temas dos últimos três podcasts e lives produzidos para apresentar o novo Estatuto. A sinodalidade e missionariedade foram temas tratados na primeira parte desta reportagem.

No quarto episódio da série de podcasts a conversa foi sobre “gestão pastoral” com o pró-reitor de gestão financeira da PUC-Minas, professor Paulo Sérgio Gontijo do Carmo; o assessor jurídico civil da CNBB, advogado Hugo José Sarubbi Cysneiros Oliveira; e o assessor de gestão da conferência, José Luna.

O professor Paulo Sobre a importância da gestão para o serviço da missão da Igreja. “Penso sempre que falar sobre gestão é falar sobre o óbvio. Porque de maneira geral todos nós temos uma boa noção do que é gestão ou do que é necessário para fazer uma boa gestão. Porque todo mundo tem uma noção muito clara de que a gente não pode gastar mais recursos do que a gente dispõe ou que a gente vai receber. Que gestão é preciso fazer algum tipo de planejamento, que na gestão a gente tem que fazer avaliação de riscos. De forma geral, o tema gestão é um pouco o censo comum porque a final de contas na nossa vida a gente acaba lidando um pouco com a gestão. Tanto a gestão de uma grande empresa ou de uma instituição religiosa ou mesmo da nossa vida pessoal ela passa por determinadas bases”, destacou.

Neste bate papo o professor aponta ainda oito pontos fundamentais para uma boa gestão entre eles: autonomia e controle, planejamento e meta e processos e ressalta que gestão não é esforço é resultado. O advogado Hugo Sarubbi Cysneiros, assessor jurídico civil da CNBB, fala sobre os aspectos jurídicos no contexto de uma gestão pastoral, direcionada a comunidades religiosas e o assessor de gestão da entidade, José Luna, fala um pouco do processo de modernização da gestão pastoral da CNBB e dos seus 18 regionais.

Outro tema amplamente debatido foi a comunicação estratégica no quinto episódio da série que recebeu como convidados os bispos de Nova Iguaçu (RJ), dom Gilson Andrade da Silva e de Tubarão (SC), dom João Francisco Salm, e presidente da comissão para os ministérios ordenados e a vida consagrada da CNBB e a professora Maria Inês de Castro Millen, doutora em teologia e presidente da sociedade brasileira de teologia moral.

O bispo de Nova Iguaçu (RJ), dom Gilson Andrade da Silva, falou sobre os desafios para a formação integral na Igreja no Brasil

“Eu ceio que a formação integral é uma meta importante hoje que toda a educação procura a ter. Mas também umas realidades mais difíceis de alcançar. O desafio primeiro que eu destacaria seria o desafio cultural. Talvez seja um dos mais provocantes. Nós vivemos numa sociedade bastante complexa, vencemos com relação a esse tema da formação, por exemplo, na problemática da pós verdade, nas diversas crises culturais, sociais em que nos encontramos. Depois nessa imensidade de possibilidades que significa o mundo digital, o chamado continente digital, as perspectivas que temos também sociopolíticas, religiosas. Um mundo bastante complexo e na hora de se falar de formação, se de falar de educação é preciso ter isso bastante presente, porque a formação integral tem a ver com desafio que a educação tem que enfrentar diante de um tempo de tantas mudanças, mudanças continuas, mudanças aceleradas. A gente algum tempo tem falado de mudança de época, agora já se fala até de mudança de era e, portanto, é preciso estar sempre revisando aquilo que a gente aprendeu, aquilo que a gente aprende e ao mesmo tempo renovando as proporias convicções”, ressaltou.

Já o bispo de Tubarão (SC), dom João Francisco Salm, destacou as dimensões desta formação. “Todo o trabalho formativo, o itinerário formativo tem como meta a configuração com a pessoa de Jesus. Isto quer dizer, que nós como batizados temos como meta, ideal ser cada vez mais parecidos com jesus. No nosso modo de pensar, de agir, assumindo, assimilando, interiorizando o espírito que animava Jesus. Isso que torna a pessoa diferente, isso que torna a pessoa grande que dá as condições de maturidade para viver o espírito de Igreja que Evangelho nos sugere” ressaltou.

Este penúltimo episódio ainda contou com a participação da professora Maria Inês que falou sobre o papel da comunidade cristã na formação integral do ministro ordenado e fechando a série de seis episódios temos a temática da “comunicação e diálogo estratégicos com a sociedade” que compõem o terceiro eixo prioritário na construção do novo estatuto da CNBB.

Nesse contexto, a conversa do último episódio da série foi com o padre Paulo Renato Campos, assessor político da CNBB; padre Marcial Maçaneiro, professor doutor da PUC-Paraná e dom José Belisário, arcebispo de São Luís do Maranhão, que refletiu sobre o diálogo estratégico da CNBB e das organizações religiosas da sociedade civil.

“Na evangelização dois grupos de documentos da Igreja de maneira recente vêm nos inspirar a respeito do diálogo. Todos os documentos do Vaticano II. Esses documentos do Vaticano II introduzem um diálogo com a modernidade e a pós-modernidade. Talvez entres os documentos, a gente possa sublinhar a importância do documento ‘a Igreja no mundo de hoje’. Mas, também um outro grupo de documentos são os mais recentes do papado de Francisco”, apontou.

Etapas da construção do novo estatuto da CNBB

O processo foi iniciado em julho com a produção de material de reflexão que foi encaminhado aos bispos. A segunda etapa do processo foi a reflexão, em blocos regionais, dos tópicos presentes no material enviado aos bispos para que fizessem contribuições nos blocos estabelecidos.

A terceira etapa contou com a colaboração dos secretários executivos na sistematização das contribuições dos bispos e ainda foram realizadas, entre outubro e novembro, lives para debater o instrumento de trabalho preparado pelos bispos.

Os encontros aconteceram no canal do Youtube da CNBB e recebeu a cada semana bispos acompanhados de professores e pesquisadores das Universidades Católicas, lideranças e gestores especialistas nos temas e eixos que seriam debatidos.

Construção e aprovação

A partir da quarta etapa do processo, parte-se da reflexão para a formulação. Primeiro, a jurídico-canônica, entre dezembro deste ano e janeiro de 2021. Em seguida, em fevereiro, a apresentação da proposta estatutária e regimental aos bispos, com nova participação dos blocos regionais. Em março, haverá o aprimoramento redacional jurídico-canônico e submissão à prévia aprovação do Conselho Permanente.

A sexta etapa é a discussão final e aprovação do novo estatuto vai ocorrer na 58ª Assembleia Geral da CNBB prevista para ser realizada em abril de 2021, em Aparecida São Paulo (SP). Para o mesmo entrar em vigor, é necessária a sétima etapa do processo, que é a aprovação pela Santa Sé.

Fonte: CNBB