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“Só haverá unidade quando houver a conversão dos corações”, afirma Secretário Executivo de Campanhas da CNBB

17 de fevereiro de 2021

Junto com o início da Quaresma, a Quarta-Feira de Cinzas marca anualmente a abertura da Campanha da Fraternidade. Com o tema “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” e o lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Ef 2,14), neste ano, a 57ª edição da Campanha da Fraternidade é ecumênica, ou seja, tem a preparação e organização do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC).

Para entender melhor o que significa ter uma Campanha da Fraternidade Ecumênica e o tema proposto para reflexão este ano, o Departamento Arquidiocesano de Comunicação (Dacom) conversou com o Secretário Executivo de Campanhas da CNBB, padre Patriky Samuel Batista. Confira: 

Padre Patriky Samuel Batista, Secretário Executivo de Campanhas da CNBB. Foto: Arquivo Pessoal

Dacom: O que significa ter uma Campanha da Fraternidade Ecumênica e o que motivou o seu surgimento no ano 2000?

Padre Patriky: Desde a década de 1980 já existia o sonho de uma Campanha da Fraternidade vivida de forma ecumênica. Por decisão da Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, em 1998, tal sonho tornou-se realidade no ano 2000.  Naquele contexto do espírito do Jubileu dos dois mil anos do nascimento de Jesus Cristo, foi um belo testemunho de aproximação ecumênica no desejo de somar esforços a serviço do bem comum. 

O primeiro tema escolhido foi: “Dignidade humana e paz” e o lema “Novo milênio sem exclusões”. Como dizia Dom Luciano Mendes de Almeida, “uma vez que é a luz do Evangelho que nos permite perceber melhor o fundamento da dignidade humana na certeza de que cada pessoa é amada, criada e regida por Deus”. Desde então, a CNBB realiza a cada cinco anos a Campanha da Fraternidade de forma ecumênica. Isso tem significado que, nestas edições, o tema e a condução dos trabalhos, produção dos textos e materiais têm como responsável o Conselho Nacional de Igrejas Cristã (CONIC).  

Dacom: O tema da Campanha da Fraternidade deste ano é “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor”. Qual deve ser o principal compromisso de amor dos cristãos, especialmente, neste contexto pandêmico em que estamos vivendo?

Padre Patriky: Dialogar! Assumir o diálogo como um estilo de vida. Isso supõe capacidade de escuta, convivência, clareza da própria identidade e abertura de coração. A graça do santo batismo nos compromete com a prática do bem. O tempo quaresmal é uma singular oportunidade para abraçarmos a graça de Deus e recomeçar, a partir de Cristo, uma vida autenticamente cristã. Assim, penso que o primeiro passo para trabalhar e viver a Campanha é assumir com seriedade o período quaresmal como tempo favorável para a conversão de vida. 

Deste modo, à luz do tema da CFE 2021, cada comunidade paroquial pode, dentre tantas coisas, promover a celebração da Palavra de Deus; retiros espirituais; celebrações ecumênicas; preparar celebrações penitenciais; articular campanhas solidárias; promover experiência missionária tantos nas periferias geográficas como existenciais; promover a leitura orante da Palavra de Deus; fazer estudos sobre questões ecumênicas, éticas, paz, unidade, solidariedade; incentivar o estudo da Encíclica “Fratelli Tutti”; e requalificar as relações interpessoais.

Dacom: Qual é a importância da Igreja Católica dialogar e se aproximar de outras religiões, considerando casos de intolerância religiosa no Brasil e que um dos objetivos específicos da CF é fortalecer e celebrar a convivência ecumênica e inter-religiosa?

Padre Patriky: O diálogo e a convivência fraterna, mesmo com tantas diferenças, são nossos maiores testemunhos em um mundo marcado por tantas polarizações, violências e ódio. Lembro aqui as palavras de São João Paulo II, proferidas no encontro com a comunidade luterana, em 11 de dezembro de 1983: Desejamos ardentemente a unidade, e esforçamo-nos por consegui-la sem nos deixarmos desencorajar pelas dificuldades que possam surgir ao longo do caminho… Parece-nos ver surgir ao longe, como uma aurora, neste 500º aniversário do nascimento de Martinho Lutero, o advento de uma restauração da nossa unidade e da nossa comunidade. Esta unidade é fruto do renovamento, da conversão e da penitência quotidiana de todos os cristãos, à luz da Palavra eterna de Deus, e constitui também a melhor preparação para o advento de Deus no nosso mundo.” 

Só haverá unidade quando houver a conversão dos corações. Celebrar e fortalecer a caminhada ecumênica exige de nós clareza do que a Igreja entende sobre o ecumenismo. Eis um dos grandes desafios que vem com a Campanha deste ano.

Foto: Arquivo Pessoal

Dacom: Qual deve ser o papel do verdadeiro cristão no combate ao racismo e a violência religiosa?

Padre Patriky: Amar. Amar e anunciar Jesus Cristo! Desde a sua origem, a Campanha da Fraternidade nos faz um profundo apelo de conversão. Ser fraterno é reconhecer-se irmão. E no esforçar para viver como irmãos, nem sempre conseguimos viver o amor que Cristo nos pediu. Somos necessitados de reconciliação, chamados a viver o dom do perdão e expressar com a vida a força de um coração reconciliado. Por isso, uma vida convertida jamais se torna indiferente diante dos irmãos e irmãs que passam por situações de dor, injustiça e sofrimento ― seja em qual for a situação. 

Diante de racismos, violência religiosa, etc, o papel do cristão é amar o próximo e defender a vida desde a sua concepção, passando pelo fim natural, até a vida eterna! Fortalecidos pela Palavra de Deus, trilhando o caminho de uma vida mais santa, superando o pecado e a morte, a Campanha da Fraternidade nos traz como objetivo geral este desejo de despertar a solidariedade, dos fiéis e dos membros da sociedade, em relação a um problema concreto que envolve a sociedade brasileira, buscando caminhos de solução. Um despertar que brota de um coração convertido; de um coração que quer ser semelhante ao coração de Jesus. 

Por esta razão, a cada ano é escolhido um tema, que define a realidade concreta a ser transformada, e um lema, que explicita em que direção se busca a transformação. Enfim, a CF educa para a vida em fraternidade, com base na justiça e no amor, exigências centrais do Evangelho.

Dacom: O texto-base da Campanha da Fraternidade deste ano tem quatro paradas: ver, julgar, agir e celebrar. O senhor poderia explicar o que é cada uma dessas paradas e qual é a mensagem de reflexão que ela nos convida a ter durante a quaresma? 

Padre Patriky: O método utilizado na campanha da Fraternidade já vem dos seus primórdios: ver, julgar e agir. Este ano foi incluído um último momento que recebeu o nome celebrar que nos apresenta uma proposta de celebração que poderá ser realizada de modo presencial ou virtual. Cada um desses momentos do método é apresentado como parada. O convite é o seguinte: muito provavelmente aqueles discípulos a caminho de Emaús (Lc 24,35) fizeram algumas paradas durante aqueles 11 km. Com eles, queremos fazer uma pequena parada para ver a realidade, iluminá-la à luz da palavra de Deus; parar para conversar, discernir e encontrar caminhos para efetivar o diálogo enquanto estilo de vida. Somos convidados a percorrer este caminho com os olhos fixos em Jesus, caminho, verdade e vida.

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