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Fraternidade e Diálogo: Fratelli Tutti e a CFE de 2021

20 de março de 2021 Arquidiocese

A Campanha da Fraternidade é uma promoção da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante a Quaresma e a Semana Santa, tendo por finalidade principal aprofundar a evangelização entre os fiéis.

Os temas escolhidos são marcados por exigências da ligação da fé e sua vivência. Para este ano o tema é: “Fraternidade e Diálogo: Compromisso de Amor”. Trata-se de uma CF Ecumênica trazendo como lema: “Cristo é a nossa Paz: do que era dividido fez Unidade” (Ef 2, 14a). Trata-se de uma abordagem que pode inspirar-se na Carta Encíclica, Fratelli Tutti, do Papa Francisco, na qual o Sumo Pontífice descreve sobre a fraternidade e a amizade social, inspirado em São Francisco de Assis. Na introdução de sua Carta Encíclica o Santo Padre assim se expressa:

“Somos todos Irmãos, escrevia São Francisco de Assis, dirigindo-se a seus irmãos e irmãs para lhes propor uma forma de vida com sabor do Evangelho. Destes conselhos, quero destacar o convite a um amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço; nele declara feliz quem ama o outro, «o seu irmão, tanto quando está longe, como quando está junto de si». Com poucas e simples palavras, explicou o essencial duma fraternidade aberta, que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas independentemente da sua proximidade física, do ponto da terra onde cada uma nasceu ou habita. (FT, 1).

Este Santo do amor fraterno, da simplicidade e da alegria, que me inspirou a escrever a encíclica Laudato Si’, volta a inspirar-me para dedicar esta nova Encíclica à fraternidade e à amizade social. Com efeito, São Francisco, que se sentia irmão do sol, do mar e do vento, sentia-se ainda mais unido aos que eram da sua própria carne. Semeou paz por toda a parte e andou junto dos pobres, abandonados, doentes, descartados, dos últimos. (idem, 2).

Na sua vida, há um episódio que nos mostra o seu coração sem fronteiras, capaz de superar as distâncias de proveniência, nacionalidade, cor ou religião: é a sua visita ao Sultão Malik-al-Kamil, no Egito. A mesma exigiu dele um grande esforço, devido à sua pobreza, aos poucos recursos que possuía, à distância e às diferenças de língua, cultura e religião. Aquela viagem, num momento histórico marcado pelas Cruzadas, demonstrava ainda mais a grandeza do amor que queria viver, desejoso de abraçar a todos. A fidelidade ao seu Senhor era proporcional ao amor que nutria pelos irmãos e irmãs. Sem ignorar as dificuldades e perigos, São Francisco foi ao encontro do Sultão com a mesma atitude que pedia aos seus discípulos: sem negar a própria identidade, quando estiverdes «entre sarracenos e outros infiéis (…), não façais litígios nem contendas, mas sede submissos a toda a criatura humana por amor de Deus».[3] No contexto de então, era um pedido extraordinário. É impressionante que, há oitocentos anos, Francisco recomende evitar toda a forma de agressão ou contenda e também viver uma «submissão» humilde e fraterna, mesmo com quem não partilhasse a sua fé. (idem ibidem, 3)

Não fazia guerra dialética impondo doutrinas, mas comunicava o amor de Deus; compreendera que «Deus é amor, e quem permanece no amor, permanece em Deus» (1 Jo 4, 16). Assim foi pai fecundo que suscitou o sonho duma sociedade fraterna, pois «só o homem que aceita aproximar-se das outras pessoas com o seu próprio movimento, não para retê-las no que é seu, mas para ajudá-las a serem mais elas mesmas, é que se torna realmente pai».[4] Naquele mundo cheio de torreões de vigia e muralhas defensivas, as cidades viviam guerras sangrentas entre famílias poderosas, ao mesmo tempo que cresciam as áreas miseráveis das periferias excluídas. Lá, Francisco recebeu no seu íntimo a verdadeira paz, libertou-se de todo o desejo de domínio sobre os outros, fez-se um dos últimos e procurou viver em harmonia com todos. Foi ele que motivou estas páginas. (idem ibidem, 4)”.

A Fratelli Tutti é o diapasão que nos garante a afinação da orquestra movida pela fraternidade e diálogo!

*Texto: Padre Paulo Dionê Quintão, pároco de Santa Rita de Cássia, em Viçosa (MG)

*Imagem: Arquidiocese de Campo Grande