O Conselho Episcopal Latino-americano, que encerrou a sua 38ª Assembleia Geral na sexta-feira, 21, escreveu três mensagens nas quais dá a conhecer o que viveu durante quatro dias de reunião virtual. As mensagens são às Conferências Episcopais da América Latina e do Caribe, ao Povo de Deus e ao Papa Francisco.
Ao Santo Padre, o Celam quer “apresentar a nova estrutura pastoral do Celam que aprovamos”, o fruto de dois anos de trabalho. Na sua mensagem, assinada pela presidência do organismo, relaciona o contexto atual, “que expõe a forte inequidade que o nosso continente está experimentando”, algo presente na vida dos pastores, que dizem “colocar um ouvido no grito da terra e o clamor dos pobres com a consciência de que tudo está interligado, e o outro ouvido no Evangelho do Reino de Deus”.
A carta reflete sobre a lógica do transbordamento, presente no pensamento do atual pontífice, algo que se manifesta na sinodalidade que o Celam quer pôr em prática, especialmente com a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, “um transbordamento missionário em saída permanente”.
Nesta dinâmica sinodal, os bispos procuram “exercer um discernimento colegial e sinodal”, baseado na escuta da Palavra de Deus e do grito do povo. Tudo isto em busca de um horizonte que “inclui os quatro sonhos que o senhor quis despregar na exortação apostólica Querida Amazônia”.
Finalmente, agradecem ao Papa Francisco, “pelo seu ministério e pelo seu magistério, particularmente neste tempo de pandemia que nos iluminou com o seu testemunho e a sua palavra”, a quem lhe asseguram as suas orações e pedem a sua bênção paterna.
Confira, abaixo, a carta na íntegra:
CONSELHO EPISCOPAL LATINO-AMERICANO
PRESIDÊNCIA
“Somos todos discípulos missionários em saída”
Bogotá, D.C., 21 de maio de 2021
A Sua Santidade
FRANCISCO
Cidade do Vaticano
Santo Padre:
Na conclusão desta 38ª Assembleia Geral Ordinária do CELAM, que se realizou pela primeira vez presencialmente e virtualmente, gostaríamos de vos apresentar a nova estrutura pastoral do CELAM que aprovámos. Nós, os participantes, reconhecemos o imenso trabalho que tem sido feito durante dois anos sob a liderança da Presidência para cumprir o mandato dado pela Assembleia de Honduras em 2019.
O nosso encontro teve lugar no contexto da pandemia da COVID-19, o que expõe a forte inequidade que o nosso continente está experimentando e que a acentuou, como se pode ver na taxa de pobreza per capita, que cresceu 12%.
Como pastores do Povo de Deus, queremos colocar um ouvido no grito da terra e o clamor dos pobres com a consciência de que tudo está interligado, e o outro ouvido no Evangelho do Reino de Deus com a esperança de sairmos desta crise juntos e melhores, animados pelas suas palavras: “estamos todos na mesma barca”, “ninguém se salva sozinho”.
Ao contemplarmos a situação dos nossos povos, confirmamos a experiência de que a realidade nos transborda e os desafios vencem-nos, mas confiamos que Deus nos surpreende, renova, fortalece e inspira-nos a transbordar de criatividade pastoral. Desejamos seguir a “lógica do transbordamento” que o senhor nos propõe (cf. QA 104-105).
O transbordamento é uma novidade do Espírito Santo que abre a possibilidade de uma superação criativa dos conflitos e das polaridades. O senhor quis promover este tipo de “transbordamentos” dentro da Igreja, reavivando a antiga prática da sinodalidade. A ação discreta e harmoniosa do Espírito ultrapassa os nossos horizontes limitados e abre-nos ao excesso do amor gratuito de Deus, à sabedoria da cruz pascal, e ao dom da vida abundante para todos (cf. Jo 10:10) e leva-nos a um transbordamento missionário em saída permanente.
Partilhamos o nosso apoio esperançoso à primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe: Aparecida, “Memória e Desafios”; com a participação de todos os setores do Povo de Deus, já lançada em janeiro passado, e que se encontra atualmente no processo de escuta. Percorremos este caminho como uma aprendizagem na prática da sinodalidade, que deve ser o talante e o estilo da nossa vida eclesial presente e futura.
Na comunhão do Espírito, procuramos exercer um discernimento colegial e sinodal através a escuta atenta aos “gemidos inexprimíveis” do Espírito Santo (cf. Rom 8,26) e dos clamores do Povo de Deus. Como discípulos missionários estamos tentando escutar a Palavra de Deus, para sentir o clamor dos povos e ouvir os nossos irmãos e irmãs para respirar nas suas vozes a vontade de Deus que nos ama e nos chama (cf. Ap. 366, 454).
O horizonte que propusemos a nós próprios inclui os quatro sonhos que o senhor quis despregar na exortação apostólica Querida Amazônia. Queremos ser uma Igreja que: anima o continente a lutar pelos direitos dos mais pobres e por uma sociedade mais justa (sonho social); preserva o seu património cultural num diálogo intercultural (sonho cultural); custodia sua beleza natural e o valor da vida (sonho ecológico); uma Igreja com comunidades cristãs capazes de lhe dar um rosto latino-americano e caribenho que dê um testemunho claro do Senhor Ressuscitado (sonho eclesial).
Agradecemos-lhe pelo seu ministério e pelo seu magistério, particularmente neste tempo de pandemia que nos iluminou com o seu testemunho e a sua palavra.
Juntamente consigo, unimo-nos em oração por tantos homens e mulheres que estão sofrendo a doença e confiá-los à Mãe de Misericórdia, e para aqueles que perderam entes queridos, com os quais nos unimos na comunhão dos santos.
Asseguramos-lhe as nossas orações por si e pedimos a sua bênção paterna.
Dom Cabrejos Vidarte, O.F.M.
Arcebispo de Trujillo, Peru
Presidente
Card. Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo, Brasil
Primeiro Vice-Presidente
Card. Leopoldo José Brenes Solórzano
Arcebispo de Manágua, Nicarágua
Segundo Vice-Presidente
Arcebispo Rogelio Cabrera López
Arcebispo de Monterrey, México
Presidente do Conselho para os Assuntos Económicos
Arcebispo Jorge Eduardo Lozano
Arcebispo de San Juan de Cuyo, Argentina
Secretário-Geral
Texto e imagem: CNBB