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Papa no Angelus: Jesus é a Palavra, se não paramos para ouvi-lo, Ele passa

06 de setembro de 2021 Igreja no Brasil

“A cada dia um pouco de silêncio e de escuta, alguma palavra inútil a menos e alguma palavra de Deus a mais”, pois “a cura do coração começa pela escuta” (…), e dedicando diariamente um tempo ao Evangelho, “encontraremos um segredo para nossa saúde espiritual.”

A cura do surdo-mudo narrada no Evangelho de Marcos foi a ocasião para o Papa Francisco recordar que a surdez do coração é pior que a surdez física, e que podemos pedir a Jesus para tocá-la e curá-la, ao mesmo tempo que devemos aprender a parar, ouvir quem está próximo de nós e ouvir a Ele, pois “Ele é a Palavra”, e se não o fizermos, “Ele passa”.

Dirigindo-se aos fiéis reunidos na Praça São Pedro, Francisco começa sua alocução chamando a atenção para “a forma como o Senhor realiza este sinal prodigioso: ele afasta-se com o surdo-mudo, para fora da multidão, “coloca os dedos nos seus ouvidos e com a saliva toca a língua dele, depois olha para o céu, suspira e diz: ‘Efatà’, isso é ‘Abre-te!’”

Surdez, também um símbolo

“Em outras curas, para enfermidades igualmente graves, como paralisia ou lepra – observou –  Jesus não realiza tantos gestos. Por que agora faz tudo isso, não obstante tenham lhe pedido somente para impor a mão no doente?”, pegunta.

Porque talvez – explica – “a condição daquela pessoa tenha um particular valor simbólico. Ser surdo-mudo é uma doença, mas é também um símbolo. E este símbolo tem algo a dizer a todos nós (…). Trata-se da surdez”. E Jesus, para curar a causa do seu mal-estar, “coloca primeiro os dedos nos ouvidos, depois na boca. Mas antes nos ouvidos”, salienta o Papa:

Todos nós temos ouvidos – todos! – mas muitas vezes não conseguimos ouvir. Por que? Irmãos e irmãs, existe de fato uma surdez interior, que hoje podemos pedir a Jesus para tocar e curar. A surdez interior é pior do que aquela física, porque é a surdez do coração. Tomados pela pressa, por mil coisas a dizer e fazer, não encontramos tempo para parar e ouvir quem fala conosco. Corremos o risco de nos tornar impermeáveis ​​a tudo e de não dar espaço a quem tem necessidade de ser ouvido: penso nos filhos, nos jovens, nos idosos, em muitos que não têm tanta necessidade de palavras e de pregações, mas de serem ouvidos.

A cura do coração começa pela escuta

Neste sentido, o convite do Santo Padre a nos perguntamos “como está minha escuta”:

Eu me deixo tocar pela vida das pessoas, sei dedicar tempo às pessoas que estão próximas de mim para escutá-las? Isto é para todos nós, mas em modo especial para os padres, para os sacerdotes. O sacerdote deve escutar as pessoas, não ter pressa. Escutar e ver como pode ajudá-las, mas depois de ter ouvido. E todos nós, antes ouvir, depois responder”.

O Papa cita situações na vida familiar, onde se fala muito antes de ouvir, “repetindo os próprios refrões sempre iguais! Incapazes de ouvir, dizemos sempre as mesmas coisa ou não deixamos que o outro acabe de falar, exprimir-se…e nós o interrompemos:

O renascimento de um diálogo, muitas vezes, passa não pelas palavras, mas pelo silêncio, não se impor, pelo recomeçar com paciência a ouvir o outro, ouvir as suas fadigas, aquilo que traz dentro de si. A cura do coração começa pela escutaIsso cura o coração. “Mas padre, tem gente muito chata que sempre diz as mesmas coisas…”. “Escute-os. E depois que acabarem de falar, diga a tua palavra, mas ouça tudo”.

Se não pararmos para ouvir Jesus, Ele passa

O mesmo – chamou a atenção o Papa – vale em relação ao Senhor. “Fazemos bem em inundá-lo de pedidos, mas faremos melhor colocando-nos primeiro à sua escuta. Jesus pede isso”. De fato, quando no Evangelho perguntam a Ele qual é o primeiro mandamento, responde: “Ouça, Israel”, acrescentando a seguir: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração […] e o teu próximo como a ti mesmo”. “Mas antes de tudo Ele diz: “Ouça!”. E Francisco pergunta: “Recordamo-nos de nos colocar à escuta do Senhor?”:

Somos cristãos, mas quem sabe entre as milhares de palavras que ouvimos todos os dias, não encontremos alguns segundos para fazer ressoar em nós poucas palavras do Evangelho. Jesus é a Palavra: se não paramos para ouvi-lo, Ele passa. Se não pararmos para ouvir Jesus, Ele passa. Santo Agostinho dizia: “Tenho medo do Senhor quando Ele passa”. E o medo era de deixá-lo passar sem ouvi-lo”.

Um segredo para a saúde espiritual

Mas – é a receita de Francisco – se dedicarmos tempo ao Evangelho, encontraremos um segredo para nossa saúde espiritual:

Eis o remédio: a cada dia um pouco de silêncio e de escuta, algumas palavras inúteis a menos e alguma palavra de Deus a mais, sempre com o Evangelho no bolso, que nos ajuda tanto.”

O convite então, é para – como no dia do Batismo –  ouvir aquela palavra de Jesus: “Efatà, abre-te!”:

Abre-te os ouvidos, Jesus, desejo abrir-me à tua Palavra, Jesus, abrir-me à Tua escuta. Jesus, cura o meu coração do fechamento, cura o meu coração da pressa, cura o meu coração da impaciência.

Ao concluir sua alocução, antes de rezar o Angelus, o Papa Francisco pediu “que a Virgem Maria, aberta à escuta da Palavra, que nela se fez carne, ajude-nos todos os dias a escutar o seu Filho no Evangelho e os nossos irmãos com um coração dócil, com um coração paciente e com coração atento”.

Texto: Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

Imagem: Vatican News

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