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28º Grito dos Excluídos e Excluídas enfatiza o caráter profético em favor da vida

13 de setembro de 2022 Arquidiocese

Unidos na luta por vida, justiça e igualdade social, a cidade de Congonhas (MG), na Região Mariana Oeste, acolheu no dia 07 de setembro, o 28° Grito dos Excluídos e Excluídas. Refletindo o tema “Vida em primeiro lugar” e o lema “Brasil: 200 anos de (in)dependência. Para quem?”, centenas de pessoas, entre padres, fiéis leigos e sociedade civil, participaram do ato. 

A programação do dia teve início com a concentração às 8h em frente à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Esse momento foi marcado por falas de representantes de alguns movimentos sociais e da Dimensão Sociopolítica da Arquidiocese de Mariana sobre a temática e os eixos propostos para a 28ª edição do Grito. 

O Grito de amor pela vida

Padre Marcelo Santiago durante a sua fala no 28º Grito dos Excluídos e Excluídas

Conclamando a participação de todos, uma das falas marcantes desse momento foi a do Assessor Arquidiocesano da Pastoral Carcerária, Padre Marcelo Moreira Santiago. Na sua interlocução, o sacerdote pontuou que as pessoas ali reunidas foram até os pés do Bom Jesus, na certeza que Ele caminha com cada um, para renovar o compromisso de lutar por direitos básicos como saúde, educação, moradia, alimentação e segurança social, e defender, como pede o Papa Francisco, o direito à terra, teto e trabalho, seja no campo ou na cidade, para todas as pessoas, e animar e alimentar os sonhos de um Brasil para todos, construído sobre os pilares da soberania, da independência e da democracia. 

“Celebramos 200 anos de exploração e resistência. Enfrentamos um sistema político-econômico que tem produzido riqueza para uns poucos e gerado desigualdades e exclusões. Temos muito que avançar em políticas públicas, em cuidado com a vida e na promoção do bem comum, com especial atenção em favor dos mais pobres”, exortou Padre Marcelo, frisando que os presentes foram levar o Grito de fé e cidadania, o Grito de amor pela vida

Entoando cânticos e com paradas para reflexões, os presentes realizaram uma passeata pelas ruas da cidade dos profetas em rumo à Basílica do Bom Jesus de Matosinhos. À chegada, a representante leiga da Dimensão Sociopolítica, Silene Gonçalves, apresentou a cartilha “Encantar a política”, iniciativa do Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB) e apoiada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Em seguida, o Coordenador Arquidiocesano de Pastoral, Padre José Geraldo de Oliveira, presidiu a Santa Missa de encerramento do ato. 

Caminhada de fé

“Este momento é coroado pela Celebração da Eucaristia, mostrando para nós que não é um puro ato de protesto; não é uma pura caminhada de reivindicação de direitos, mas é uma caminhada de fé e de esperança numa luta para que todos tenham vida e vida digna como Jesus quer”. Com essas palavras e destacando o caráter profético da Igreja e do Grito dos Excluídos e Excluídas, o Padre José Geraldo iniciou a sua homilia. 

Ainda em sua pregação, ele elencou três pontos que demonstram essa profecia da mobilização. No primeiro momento, o presbítero contextualizou a origem do Grito dos Excluídos e Excluídas, enfatizando que ele nasceu dentro da Igreja Católica, em 1995, quando, inspirada na Campanha da Fraternidade daquele ano que tratava sobre “A Fraternidade e os Excluídos”, aconteceu a primeira edição. Já a partir de 1996, foi adotado pela CNBB. 

Ainda nesse aspecto, Padre José Geraldo ressaltou a pluralidade e a participação ampla e ecumênica do Grito. “Todas as Igrejas são convidadas a participar para dizer que é um trabalho de fé e de esperança. […] É uma caminhada de fé de todos que acreditam em Deus”, pontuou.

Em passeata, os presentes participaram do 28º Grito dos Excluídos e Excluídas e seguiram em direção à Basílica do Bom Jesus de Matosinhos para participarem da Santa Missa

Recorrendo às Sagradas Escrituras, no segundo ponto, o celebrante salientou que o Grito dos Excluídos e Excluídas é tão antigo quanto a sociedade sofredora, afirmando que Deus escuta o clamor do seu povo e liberta-o da opressão. Para isso, o presbítero fez memória aos profetas e do próprio Cristo que, estado na cruz, branda: “meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”. “Ali na cruz, no seu sofrimento, Jesus sintetiza todos os sofrimentos, todos os clamores, que Ele viu, sentiu e ouviu na sua caminhada pela Palestina”, explicou.

Mais uma vez, destacando a profecia do ato, ele apontou sobre a finalidade do Grito dos Excluídos e Excluídas. “Nós estamos aqui para gritar, para testemunhar, que nós somos uma Igreja profética que tem a missão de Jesus, do Cristo sacerdote, do Cristo pastor, do Cristo profeta. […] O nosso Grito não é um Grito ideológico, mas é um viver a vida de Jesus; é assumir na nossa vida a vida de Jesus, fazendo o que Ele fez”, disse Padre José Geraldo, chamando a atenção para, mais do que nunca, a necessidade da Igreja ser profética, seguindo o ensinamento de Nosso Senhor no anúncio e também na denúncia.

Por fim, em seu terceiro apontamento, Padre José Geraldo citou que durante o processo de escuta do Sínodo 2021-2023 um dos pontos levantados foi que as pessoas se sentem excluídas pela Igreja. Diante disso, ele ponderou para reflexão: “Nós excluímos de qual maneira?”. Para ele, a exclusão é praticada por meio das atitudes e palavras. “Nós excluímos as pessoas quando cruzamos os braços diante da injustiça, da maldade e da exploração”, indicou. Por fim, o presbítero evocou o Servo de Deus Dom Luciano que, por meio da sua vida e testemunho, é exemplo de amor e compromisso para com as pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Em sua homilia, Padre José Geraldo destacou o lado profético da Igreja e do Grito

O Grito do Povo de Deus

Neste contexto do bicentenário da independência do Brasil, a militante do Movimento Atingidos por Barragens (MAB) de Congonhas, Fátima Sabará, destaca que o país ainda tem muito a caminhar no sentido de termos liberdade plena. “Quando o negro, a mulher, o indígena, os sem teto, sem trabalho e sem terra, e os pobres não têm o necessário para se viver dignamente é porque a justiça social não está acontecendo; somos todos responsáveis por isso. Somos cristãos, então, recebemos a missão de cuidar uns dos outros e isso envolve tudo. A política séria com pessoas sérias e a organização popular é o começo para a mudança. O Grito dos Excluídos e Excluídas é para que possamos anunciar que precisamos ter esperança e fazer nossa parte e denunciar este sistema que exclui e mata”, afirma.

Por sua vez, a Coordenadora da Pastoral Afro-brasileira da Região Mariana Norte, Solange Palazzi, evidenciou o momento de reencontro da luta, após dois sem acontecer a passeata. “Foi um Grito de avivamento, de mostrar que os movimentos eclesiais e pastorais estão cientes do seu lugar social na construção da democracia, depois de tantos direitos perdidos. Também foi um Grito de amorosidade, de voltar a dar as mãos, olhos nos olhos, fazer a partilha da comida, da música, da caminhada e dizer que estamos juntos; nos reaproximando para construir o futuro. E, principalmente, foi um Grito para celebrar Jesus Cristo em cada um de nós, no companheiro da caminhada, em todos aqueles que são rosto de Cristo na nossa sociedade sofrida. Foi um Grito do Povo de Deus em luta pela vida”, sublinhou.

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Texto e fotos: Thalia Gonçalves

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