No começo de dezembro, monsenhor Celso Murilo Sousa Reis, foi nomeado reitor do Seminário São José da arquidiocese. O Departamento Arquidiocesano de Comunicação (DACOM) conversou com o presbítero sobre essa nova missão. Leia a entrevista completa:
Dacom: No dia 2 de dezembro foi publicada a sua nomeação como reitor do Seminário São José. Como o senhor acolheu o convite para essa missão?
Monsenhor Celso: Antes de tudo, a partir de uma visão de fé, acreditando que a obra é de Deus e na certeza de que Ele usa instrumentos frágeis para realizar seus projetos. Também numa postura de comunhão eclesial. A formação dos futuros padres é missão de toda a Igreja particular, envolvendo o bispo, os ministros ordenados, os cristãos leigos e leigas e os próprios seminaristas, que devem ser os protagonistas desse processo. Cada um em sua função específica tem responsabilidade nesse trabalho. Nas semanas anteriores à minha nomeação, eu havia refletido e rezado uma palavra que muito me tocou: na Igreja, nossas decisões e omissões podem ter consequências significativas tanto em sentido positivo quanto negativo. Diante das necessidades apresentadas e da solicitação de Dom Airton, aceitei a incumbência, mesmo tendo consciência de minhas limitações pessoais.
Dacom: O senhor será reitor do seminário pela segunda vez. Quais os ensinamentos o senhor traz da experiência anterior como reitor para essa nova missão?
Monsenhor Celso: Destaco a importância da equipe de formadores no processo formativo. É uma grande conquista da nossa arquidiocese disponibilizar um grupo de padres para assumirem juntos o acompanhamento dos seminaristas. Aceitei a função acreditando no trabalho que vem sendo realizado e na disposição de Dom Airton de reforçar a equipe e manter essa linha de orientação. Também acredito na pedagogia da presença, ou seja, a necessidade da proximidade, a disposição para escutar e a partilha de vida no cotidiano da casa de formação.
“Nossos seminaristas têm um grande potencial e sede de crescimento e amadurecimento. Precisamos oferecer-lhes o melhor que pudermos para que eles sejam bem preparados para enfrentar os desafios do futuro ministério. Mesmo com as limitações, é importante nosso testemunho de alegria evangélica e de realização pessoal na missão abraçada, para que as novas gerações acreditem que vale a pena seguir Jesus Cristo nesse mesmo caminho.”
Dacom: Como o senhor acredita que deva ser a formação daqueles que se candidatam ao presbiterado? Quais os aspectos mais importantes a serem considerados?
Monsenhor Celso: A Igreja apresentou com clareza as diretrizes do processo formativo num documento aprovado pelo Papa Francisco em 2016 (chamado “Ratio Fundamentalis”). A CNBB aplicou esses princípios gerais à realidade do Brasil, nas orientações que estão vigorando desde 2019 (documento 110). Como formadores, nos inspiramos nessas referências básicas e procuramos apresentá-las nas várias etapas do processo formativo. Os aspectos fundamentais são sempre os mesmos: o amor verdadeiro, intenso, pessoal a Jesus Cristo e a caridade pastoral, o amor solidário que faz o ministro ordenado assemelhar-se àqueles que ama, através de uma vida simples, sóbria e austera e de uma entrega generosa no serviço missionário junto ao povo. Isso é um processo que deve ser bem alicerçado no período da formação inicial no seminário e levado adiante na formação permanente ao longo do exercício do ministério. É importante a integração das várias dimensões da formação (humana, espiritual, intelectual e pastoral missionária) para que o padre seja um homem de comunhão, capaz de construir relacionamentos sadios e sólidos e criar vínculos positivos pela qualidade de sua presença junto às comunidades.
Dacom: Estamos vivendo um tempo diferente, marcado pela pandemia da Covid-19. Como o senhor vê a formação dos presbíteros neste tempo?
Monsenhor Celso: A experiência da pandemia tem sido um tempo forte de novos aprendizados. Desafiou-nos a assumir a realidade com suas limitações e possibilidades, exigindo de nós capacidade de adaptação e criatividade. Veio reforçar a importância da família e das comunidades de origem no processo de amadurecimento vocacional. Nossos seminaristas passaram mais de seis meses do ano em casa e perceberam o quanto foi formativo assumir os vários aspectos da realidade familiar (trabalho, convivência, oração etc.) para serem mais abertos e sensíveis às condições de vida do nosso povo. Muitos puderam acompanhar de perto o dia a dia dos padres na paróquia e aprender com o testemunho deles de atenção, presença e serviço ao povo, não obstante as limitações impostas pelo contexto. Além disso, o seminário precisou reinventar-se, oferecendo acompanhamento online não só com as aulas, mas com encontros de espiritualidade, de formação humana e comunitária, orações, partilhas e orientação pessoal. Outro aprendizado foi a maior valorização por parte dos seminaristas daquilo que o seminário oferece como contribuição específica para a preparação ao ministério ordenado, sobretudo a vida fraterna em comunidade e um ritmo diário que favorece a oração, os estudos, a reflexão, o autoconhecimento. Algumas demandas continuam nos questionando, como a necessidade de uma formação pastoral missionária adaptada ao atual contexto.
Dacom: Em uma arquidiocese tão grande e cheia de vocações sacerdotais, o que o senhor diria para os jovens que têm o desejo de seguir o ministério sacerdotal?
Monsenhor Celso: Diria ao jovem vocacionado que vale a pena acolher o chamado de Deus e abrir-se ao processo de discernimento. Quem escolhe Jesus Cristo não perde nada, ganha tudo! O caminho vocacional é exigente, mas faz você crescer como pessoa e como cristão e encontrar um sentido bonito para sua vida. Não tenha medo de ser generoso e dizer o seu sim com coragem e abertura de coração. Seja fiel à oração pessoal, às celebrações comunitárias e procure conhecer e envolver-se na proposta evangelizadora de sua paróquia. A todos que lerem esta entrevista peço que apoiem os jovens vocacionados e os acompanhem com as orações e a amizade fraterna. Graças a Deus temos tido um número considerável de seminaristas, mas precisamos trabalhar ainda mais para que surjam vocações em nossas famílias e comunidades paroquiais. Não deixem de oferecer suas preces, sua colaboração e seu testemunho de vida cristã madura e comprometida em favor das vocações sacerdotais. É num ambiente de vivência cristã autêntica e de empenho eclesial que surgem candidatos para o ministério ordenado. Deus continua chamando. Sejamos atentos para acolher, discernir e acompanhar esse processo. Obrigado a todos pelo carinho e cuidado dispensados ao nosso seminário.