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“A formação dos futuros padres é missão de toda a Igreja particular”, afirmou monsenhor Celso em entrevista ao Dacom

17 de dezembro de 2020 Arquidiocese

No começo de dezembro, monsenhor Celso Murilo Sousa Reis, foi nomeado reitor do Seminário São José da arquidiocese. O Departamento Arquidiocesano de Comunicação (DACOM) conversou com o presbítero sobre essa nova missão. Leia a entrevista completa:

Dacom: No dia 2 de dezembro foi publicada a sua nomeação como reitor do Seminário São José. Como o senhor acolheu o convite para essa missão?

Monsenhor Celso: Antes de tudo, a partir de uma visão de fé, acreditando que a obra é de Deus e na certeza de que Ele usa instrumentos frágeis para realizar seus projetos. Também numa postura de comunhão eclesial. A formação dos futuros padres é missão de toda a Igreja particular, envolvendo o bispo, os ministros ordenados, os cristãos leigos e leigas e os próprios seminaristas, que devem ser os protagonistas desse processo. Cada um em sua função específica tem responsabilidade nesse trabalho. Nas semanas anteriores à minha nomeação, eu havia refletido e rezado uma palavra que muito me tocou: na Igreja, nossas decisões e omissões podem ter consequências significativas tanto em sentido positivo quanto negativo. Diante das necessidades apresentadas e da solicitação de Dom Airton, aceitei a incumbência, mesmo tendo consciência de minhas limitações pessoais.

Dacom: O senhor será reitor do seminário pela segunda vez. Quais os ensinamentos o senhor traz da experiência anterior como reitor para essa nova missão?

Monsenhor Celso: Destaco a importância da equipe de formadores no processo formativo. É uma grande conquista da nossa arquidiocese disponibilizar um grupo de padres para assumirem juntos o acompanhamento dos seminaristas. Aceitei a função acreditando no trabalho que vem sendo realizado e na disposição de Dom Airton de reforçar a equipe e manter essa linha de orientação. Também acredito na pedagogia da presença, ou seja, a necessidade da proximidade, a disposição para escutar e a partilha de vida no cotidiano da casa de formação.

“Nossos seminaristas têm um grande potencial e sede de crescimento e amadurecimento. Precisamos oferecer-lhes o melhor que pudermos para que eles sejam bem preparados para enfrentar os desafios do futuro ministério. Mesmo com as limitações, é importante nosso testemunho de alegria evangélica e de realização pessoal na missão abraçada, para que as novas gerações acreditem que vale a pena seguir Jesus Cristo nesse mesmo caminho.”

Dacom: Como o senhor acredita que deva ser a formação daqueles que se candidatam ao presbiterado? Quais os aspectos mais importantes a serem considerados?

Monsenhor Celso: A Igreja apresentou com clareza as diretrizes do processo formativo num documento aprovado pelo Papa Francisco em 2016 (chamado “Ratio Fundamentalis”). A CNBB aplicou esses princípios gerais à realidade do Brasil, nas orientações que estão vigorando desde 2019 (documento 110). Como formadores, nos inspiramos nessas referências básicas e procuramos apresentá-las nas várias etapas do processo formativo. Os aspectos fundamentais são sempre os mesmos: o amor verdadeiro, intenso, pessoal a Jesus Cristo e a caridade pastoral, o amor solidário que faz o ministro ordenado assemelhar-se àqueles que ama, através de uma vida simples, sóbria e austera e de uma entrega generosa no serviço missionário junto ao povo. Isso é um processo que deve ser bem alicerçado no período da formação inicial no seminário e levado adiante na formação permanente ao longo do exercício do ministério. É importante a integração das várias dimensões da formação (humana, espiritual, intelectual e pastoral missionária) para que o padre seja um homem de comunhão, capaz de construir relacionamentos sadios e sólidos e criar vínculos positivos pela qualidade de sua presença junto às comunidades.

Dacom: Estamos vivendo um tempo diferente, marcado pela pandemia da Covid-19. Como o senhor vê a formação dos presbíteros neste tempo?

Monsenhor Celso: A experiência da pandemia tem sido um tempo forte de novos aprendizados. Desafiou-nos a assumir a realidade com suas limitações e possibilidades, exigindo de nós capacidade de adaptação e criatividade. Veio reforçar a importância da família e das comunidades de origem no processo de amadurecimento vocacional. Nossos seminaristas passaram mais de seis meses do ano em casa e perceberam o quanto foi formativo assumir os vários aspectos da realidade familiar (trabalho, convivência, oração etc.) para serem mais abertos e sensíveis às condições de vida do nosso povo. Muitos puderam acompanhar de perto o dia a dia dos padres na paróquia e aprender com o testemunho deles de atenção, presença e serviço ao povo, não obstante as limitações impostas pelo contexto. Além disso, o seminário precisou reinventar-se, oferecendo acompanhamento online não só com as aulas, mas com encontros de espiritualidade, de formação humana e comunitária, orações, partilhas e orientação pessoal. Outro aprendizado foi a maior valorização por parte dos seminaristas daquilo que o seminário oferece como contribuição específica para a preparação ao ministério ordenado, sobretudo a vida fraterna em comunidade e um ritmo diário que favorece a oração, os estudos, a reflexão, o autoconhecimento. Algumas demandas continuam nos questionando, como a necessidade de uma formação pastoral missionária adaptada ao atual contexto.

Dacom: Em uma arquidiocese tão grande e cheia de vocações sacerdotais, o que o senhor diria para os jovens que têm o desejo de seguir o ministério sacerdotal?

Monsenhor Celso: Diria ao jovem vocacionado que vale a pena acolher o chamado de Deus e abrir-se ao processo de discernimento. Quem escolhe Jesus Cristo não perde nada, ganha tudo! O caminho vocacional é exigente, mas faz você crescer como pessoa e como cristão e encontrar um sentido bonito para sua vida. Não tenha medo de ser generoso e dizer o seu sim com coragem e abertura de coração. Seja fiel à oração pessoal, às celebrações comunitárias e procure conhecer e envolver-se na proposta evangelizadora de sua paróquia.  A todos que lerem esta entrevista peço que apoiem os jovens vocacionados e os acompanhem com as orações e a amizade fraterna. Graças a Deus temos tido um número considerável de seminaristas, mas precisamos trabalhar ainda mais para que surjam vocações em nossas famílias e comunidades paroquiais. Não deixem de oferecer suas preces, sua colaboração e seu testemunho de vida cristã madura e comprometida em favor das vocações sacerdotais. É num ambiente de vivência cristã autêntica e de empenho eclesial que surgem candidatos para o ministério ordenado. Deus continua chamando. Sejamos atentos para acolher, discernir e acompanhar esse processo. Obrigado a todos pelo carinho e cuidado dispensados ao nosso seminário.