Ao som de palmas e marcha fúnebre, o corpo do Padre Elias Bartolomeu Leoni deixou a Igreja Matriz de Santo Antônio, em Santa Bárbara (MG), rumo à cidade de Pedra Bonita (MG), sua terra natal. Com o templo lotado, paroquianos santabarbarenses e de outros municípios em que o sacerdote exerceu seu ministério como pároco, bem como padres, diáconos, seminaristas, amigos e familiares, se reuniram para a missa de corpo presente celebrada na manhã desta quinta-feira, 02 de março, às 10h. A celebração foi presidida pelo Vigário Geral da Arquidiocese de Mariana, Monsenhor Luiz Antônio Reis Costa.
Rendendo graças e louvor a Deus pela vida e vocação de Padre Elias, durante a homilia, Monsenhor Luiz Antônio ressaltou a sabedoria, o conhecimento, a vocação e a humildade do sacerdote. Além disso, ele compartilhou com os presentes as memórias e os conhecimentos adquiridos com o presbítero que, por muitos anos, foi professor no Seminário São José.
Ainda durante a reflexão, o Vigário Geral da Arquidiocese de Mariana enfatizou que Padre Elias foi um homem dotado de sabedoria, cultura e humildade que, em seu jeito de ser, sempre colocou o amor à Igreja para servir ao Seminário e às paróquias em primeiro lugar. “A sua cultura e erudição, acompanhados da sua simplicidade e humildade, foram marcas do seu ministério”, disse. Outro ponto enfatizado durante a homilia foi a simplicidade e o carinho que Padre Elias tratava a todas as pessoas, sem distinção de raça, credo ou classe social.
“A nossa vocação sacerdotal não é uma vocação angélica, é uma vocação humana. Sendo uma vocação humana, ela tem todas as luzes, belezas e potencialidades daquilo que é humano, mas tem também todas as limitações, todas as fragilidades e todas as contradições daquilo que é humano. Isso pode ser dito, não só do Padre Elias, mas isso pode ser dito de todos os sacerdotes que já passaram por essa terra e que nela ainda estão. E algo que eu rendo a Deus graças ao contemplar a vida desse nosso irmão, é perceber isso: a sua vocação sacerdotal sempre se manifestou mais forte do que todas as contradições do humano. Sempre mais forte. Porque pode acontecer com qualquer pessoa, com os padres, que as contradições da vida, as contrariedades, as nossas limitações tirem a nossa alegria, tirem o nosso ânimo, roubem o eixo que escolhemos como eixo principal da nossa vida. E esse nosso irmão soube conservar a alegria da vocação sacerdotal”, destacou Monsenhor Luiz Antônio. Por fim, rogou a Deus que a misericórdia divina purifique o sacerdote e o conduza a vida eterna.
Após a comunhão, o presidente da Missa de Exéquias realizou o rito de encomendação da alma de Padre Elias. Em seguida, o corpo seguiu em cortejo por algumas ruas de Santa Bárbara, antes de partir para a sua cidade natal.
Querido por todos nas paróquias pelas quais serviu e pelos presbíteros do Clero Marianense, Padre Elias estava há quase 20 anos como pároco da Paróquia Santo Antônio, em Santa Bárbara (MG), cidade que o acolheu de braços abertos. Para o próximo ano, ele estava preparando as festividades em comemoração dos 300 anos de criação da paróquia que, nas palavras do Vigário Paroquial, Padre Rosemberg Evangelista da Silva, ele “conduziu com maestria e com muito carinho”.
“Eu gosto muito do Padre Elias por muitos fatos que foram elencados na missa, mas, para mim, existe outro que é fundamental: o carinho com as crianças. Ele virava criança no meio das crianças. Até aquelas crianças que subiam no altar e que desobedeciam os pais, ele pegava no colo, parava a missa. Isso aconteceu no sábado antes de ele ser hospitalizado: a criancinha subiu, os pais preocupados, ele pegou a criancinha no colo e parou a missa. O carinho dele com as crianças, com as comunidades rurais, de participar, sempre muito tranquilo. Então, o Padre Elias é muito carinhoso com todos, muito atencioso, um pastor de verdade. Eu creio, resumindo, que é um pastor com cheiro de ovelhas”, sublinhou Padre Rosemberg.
Comentando sobre a relação entre eles, uma vez que acompanhou todo o pastoreio de Padre Elias no município, Padre Rosemberg descreveu como fraternal. “Nós tínhamos uma ligação muito grande, muito bonita, até nas pregações das missas que às vezes coincidiam”, disse.
Natural de Santa Bárbara, o novo Diretor Espiritual do Seminário São José, Padre Lucas Muniz Alberto, também deixou sua mensagem de carinho ao presbítero falecido: “o Padre Elias foi em minha vida grande exemplo de sacerdote e incentivador de minha vocação. Desde que aqui chegou, em 2003, sempre me acolheu com grande amizade. Destaco algumas virtudes que levarei para minha vida: a sabedoria, a humildade, a simplicidade e a proximidade com todos”.
Algumas das marcas do ministério sacerdotal de Padre Elias foram, sem dúvida, a sua atenção e generosidade para com todas as pessoas, exercendo o mandamento de Nosso Senhor de “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como si mesmo”. Para a Ministra da Eucaristia e Coordenadora da Comunidade Santa Bárbara, Deusedina Souza Oliveira, o sacerdote abriu um lugar ao sol para todos.
“Olha, é um amor muito grande que eu sinto por ele desde o momento que ele chegou em Santa Bárbara, em 2003, e que eu estava fazendo um encontro de revisão matrimonial. Dessa época em diante, para mim, ele se tornou um pai: um pai de ensinamento, um mestre mesmo. Com ele eu aprendi a ser mais cristã; a amar mais o próximo, porque era isso que ele fazia com todos, indiferente de idade, de cor e de status social. Ele era um padre completo; um padre do povo; um padre que eu vou sentir muita falta, porque o negro, aqui em Santa Bárbara, através dele, conseguiu lugar ao sol e esse lugar foi chegar mais perto do nosso Deus. A ele, o meu muito obrigada e que Deus o acolha”, expressou, emocionada, Dona Deusedina.
Filha de Dona Deusedina e também Coordenadora da Comunidade Santa Bárbara, Glaucia Cristina de Oliveira, recordou a atuação do sacerdote na paróquia. “Eu quero agradecer o Padre Elias por esses quase 20 anos que ele esteve aqui [na Paróquia Santo Antônio] conosco. Nesses 20 anos, ele ensinou para gente muita coisa sobre humildade, sobre igualdade. Ele abriu essa igreja para todas as pessoas, indiferente de qualquer coisa. Sempre foi justo, honesto, esforçado, fez tudo para organizar as comunidades, as celebrações. Uma pessoa inesquecível, maravilhosa, que nós tivemos essa honra de conviver com ele esse tempo e que agora, eu tenho certeza, ele descansa nos braços do pai, mas que nos fez muito bem esse tempo todo que esteve aqui e vai nos fazer muita falta”, ponderou a paroquiana.
Uma das muitas frentes de atuação do presbítero em Santa Bárbara era a presença junto à comunidade cigana que vive no município, realizando trabalhos assistenciais, lecionando a Catequese e celebrando os sacramentos e a festa da padroeira dos ciganos, a Santa Sara Kali. Tomados pelo choro e tristeza, membros do acampamento da cidade foram até à Igreja Matriz a fim de prestar sua última homenagem ao pároco.
“O Padre Elias era um pai que os ciganos perderam. Ele era um pai, não era só um amigo. Quando a gente precisava dele, a gente vinha aqui na igreja… muitas e muitas vezes, eu vim aqui na igreja e pedia ao Padre Elias para ajudar a gente e ele ajudou muitas e muitas vezes. A gente não perdeu um padre, não; a gente perdeu um pai. A minha comunidade cigana está todo mundo chorando por causa do Padre Elias, queria todo mundo está aqui”, afirmou a líder da comunidade cigana, Adenilza Lopes do Carmo Santos.
Nesta sexta-feira, 03 de março, às 10h, Dom Airton José dos Santos preside a missa de corpo presente na Paróquia São José, em Pedra Bonita, seguida do sepultamento.