“A nossa oração é o nosso diálogo com Deus”, afirmou o Arcebispo da Arquidiocese de Mariana, Dom Airton José dos Santos, durante a homilia da missa de Quarta-Feira de Cinzas (17). A celebração, presidida no Santuário de Nossa Senhora do Carmo, em Mariana (MG), marcou também a abertura da Campanha da Fraternidade que, neste ano, tem como tema “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” e o lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Ef 2,14).
Pautando-se pelo tema da Campanha da Fraternidade, que em 2021 é realizada de forma ecumênica, a necessidade de dialogar com Deus e com o próximo foi enfatizada durante toda a celebração. Para Dom Airton, Deus nos concede a capacidade de dialogar com Ele, uma vez que somos capazes de compreendê-lo e de viver segundo a vontade dele.
“Diante de Deus, eu falo o quê? Às vezes, eu fico contemplando-o porque não tem o que falar. Primeiro, porque Deus sabe o que está dentro do coração de cada um; segundo, se eu tenho necessidade de falar é mais para mim mesmo do que para Deus ouvir”, disse o Arcebispo de Mariana. “Deus se dá a conhecer; quando eu começo a dialogar, eu já estou conhecendo a Deus. Deus não dialoga conosco como se nós fossemos um estranho; nós, às vezes, conversamos com Deus como se Ele fosse estranho”, ressaltou.
De acordo com Dom Airton, se para conversarmos com Deus não precisamos falar, pois Ele sabe de todas as coisas, com o próximo é necessário se expressar e torna-se transparente sobre o que pensa e sente. Além disso, ele enfatizou que, por mais que não seja fácil, devemos exercitar a conversa e a escuta atenta. “Diálogo significa ter abertura de coração para acolher o outro. Sentar na frente do outro e ouvir o que o outro tem a dizer. Pode ser que o outro não concorde comigo, mas tem algo a dizer” explicou.
“O diálogo só acontece entre diferentes. Todos nós somos diferentes. A gente acha que a pessoa é igual e às vezes cometemos um equívoco: [achar que] para dialogar, a pessoa tem que aceitar o meu ponto de vista. Se a pessoa não aceitar o meu ponto de vista a gente briga. Então, isso não é falha no diálogo, é falha no caráter da pessoa que não quer aceitar o outro com as suas diferenças. A diferença não é para distanciar as pessoas, é para aproximar”, destacou o Arcebispo de Mariana.
Dom Airton ainda destacou que o diálogo nos leva até o conhecimento da verdade e na mudança do outro, desde que seja baseado na verdade, no respeito e no acolhimento mútuo. “É preciso, portanto, ter muito amor, para dialogarmos com compreensão, com carinho e muita verdade, sinceridade e firmeza”, destacou. “O diálogo necessariamente muda o outro, mas não no sentido de que o outro vai pensar o que ouviu. Pode ser exatamente o contrário: no diálogo, a pessoa pode perceber que a sua convicção não é muito forte, que ela tem que se fundamentar e procurar conhecer melhor aquilo que compreende” finalizou o Arcebispo.
“A esmola, o jejum e a oração são decisões que nós tomamos anteriormente diante de Deus. Claro que nós temos que fazer isso acontecer na prática, mas fazermos isso acontecer na simplicidade e na humildade, não com orgulho e a cabeça cheia; fazermos isso com o coração aberto e simples porque queremos que Deus veja; não é necessário que as pessoas vejam isso”, falou Dom Airton ao refletir sobre o tempo da Quaresma, período em que a Igreja nos convida a intensificar as nossas orações e fazer penitência. Ele ainda explicou que a doação de esmola deve ser seguindo o exemplo da viúva do Evangelho, que doou o que tinha para a sua própria sobrevivência: de forma generosa.
“O Evangelho nos alerta: ‘ficais atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens só para serdes vistos por eles’. Se nós fazemos as coisas em relação a Deus para que as pessoas fiquem sabendo o que estamos fazendo, nós já recebemos a nossa recompensa e não vamos ter a recompensa vinda de Deus”, disse Dom Airton ao recordar a fala de Jesus no Evangelho e enfatizando que os nossos gestos de solidariedade e caridade devem ser por amor a Deus.
Ao fim da missa, que teve a presença do diácono Paulo Isaías, todos os fiéis presentes receberam as cinzas impostas sobre a cabeça.