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Atingidos pela barragem de Fundão enviam carta ao Papa Francisco

05 de novembro de 2021 Arquidiocese

A Comissão de Atingidos pela Barragem de Fundão (CABF) de Mariana enviou, em 27 de outubro, uma carta ao Papa Francisco. Exaustos pela longa luta em prol da reparação, a carta é um apelo para que o pontífice interceda pelas milhares de vítimas do maior crime socioambiental do Brasil.

Segundo Mônica Santos, atingida de Bento Rodrigues e membro da CABF, a ideia de recorrer ao Papa surgiu devido ao abandono das demais instituições, como as próprias empresas causadoras do crime-desastre (Samarco, Vale e BHP), os poderes executivo e legislativo brasileiros, a justiça e a imprensa tanto nacional quanto internacional. “Buscamos ajuda em todas as esferas possíveis… todas sem êxito! Estamos nos seis anos do crime sem uma data para a entrega dos reassentamentos e sem resolução dos problemas enfrentados nesses longos anos”, desabafa a atingida.

Primeira missa celebrada em Bento Rodrigues após o rompimento da barragem de Fundão, em 2017.

São 2192 dias de luta pela reparação integral, como um clamor por justiça, a CABF, representando as comunidades atingidas de Mariana, elaborou a mensagem ao Papa. “Depois de tanto tempo contra o poder das empresas rés precisamos que o mundo volte a olhar por nós, pelas atingidas e atingidos de Mariana”, destaca Angela Aparecida Lino, atingida de Ponte do Gama e membro da CABF, que completa: “Eu acredito que o Papa pode nos dar essa atenção, bem como interceder em orações pela nossa causa, para continuarmos a ter forças para lutar pela reparação justa”.

No texto, os atingidos denunciam os descumprimentos de acordos judiciais cometidos pela Renova e suas mantenedoras; a impunidade que impera nesse processo e; a falta de medidas de não-repetição do crime, uma vez que algumas das famílias atingidas continuam em área de risco com medo constante da barragem de Germano se romper. A carta aponta, principalmente, para as violações de direitos fundamentais como o direito à moradia digna; à saúde; à água em quantidade e qualidade suficientes; à preservação das referências culturais – inclusive do patrimônio religioso; e o direito à comunicação. Além disso, denuncia os maus tratos cometidos contra animais das famílias atingidas, já que a Renova vem realizando cortes no fornecimento de alimentação, entrega de alimentos com péssima qualidade ou ainda em quantidade insuficiente, o que tem provocado adoecimento e morte desses animais.

Para Antônio Pereira Gonçalves (DaLua), atingido de Bento Rodrigues, as empresas tentam silenciar e provocar desunião entre os atingidos “para tentar levar vantagem e enfraquecer a gente”, acrescenta. Segundo ele, o mesmo pode ser dito da justiça que tem beneficiado apenas os poderosos sem atentar para a dor das pessoas atingidas, “tudo em nome da ganância e do dinheiro”, completa. DaLua, que também é membro da CABF, indigna-se com a impunidade e com lucro exorbitante das mineradoras que não promovem a reparação dos danos que causam. “A Samarco voltou a operar rápido enquanto nós não temos nem as nossas casas prontas. Por isso enviamos a carta ao Papa, para que toda a Igreja Católica possa nos escutar. Estamos sendo esquecidos e ninguém quer ouvir a gente, principalmente as empresas que só pensam no seus lucros”, conclui o atingido.

O rompimento da barragem de Fundão matou 19 pessoas no dia 05 de novembro de 2015, desde então, muitas outras vidas foram roubadas pelo descaso e pelas sucessivas violações dos direitos das pessoas atingidas. O crime-desastre despejou na bacia do rio Doce 43,8 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério que chegou até o litoral do Espírito Santo. Em Mariana, são mais de 5 mil pessoas atingidas. Ao longo da bacia do rio Doce até o mar somam-se mais milhares. São seis anos de lutas e de impunidade. O povo clama por justiça!

Por Wan Campos e Ellen Barros, comunicadores da Cáritas em Mariana.
Foto:  Rui Souza – PASCOM / Jornal A Sirene. Edição de fevereiro de 2017.

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