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, 19 de abril de 2025

Quinta-feira Santa: Através de um amor incondicional, Jesus institui a Eucaristia

19 de abril de 2025 Arquidiocese

“Venham comigo, vamos comer minha Páscoa: isto é meu corpo, isto também é meu sangue. Eis o meu testamento, até que se cumpra o Reino de Deus.”

Na noite do dia 17 de abril, na Catedral Basílica Nossa Senhora da Assunção, em Mariana MG), o Arcebispo Metropolitano de Mariana, Dom Airton José dos Santos, celebrou a Santa Missa repetindo os mesmos gestos que Jesus fez com os seus discípulos na noite santa da Ceia do Senhor.

A Igreja celebra o início do Tríduo Pascal cujo encerramento se dará na grande Vigília, no Sábado Santo, com a benção do Fogo Novo e o Anúncio da Ressurreição.

Nesse dia, Jesus instituiu a Eucaristia, o sacerdócio e o Mandamento Novo, ceando e lavando os pés dos seus discípulos. Um gesto de humildade e de serviço ao próximo, “Eu vim para servir e não para ser servido” e disse aos discípulos para fazerem o mesmo. Ele deu o exemplo para ser seguido.

Na cerimônia, o louvor e a gratidão a Deus, é feito através do canto do Glória, uma exaltação ao Deus Uno e Trino por todos os cristãos. Gloria in excelsis Deo. Et in terra pax hominibus bonae voluntatis (Glória a Deus nas alturas. E paz na terra entre os homens de boa vontade).

Durante a Missa, as leituras, o Salmo e o Evangelho, fazem referências às maravilhas que Senhor fez ao seu povo. Na primeira leitura, tirada da passagem do Livro do Êxodo, (Ex 12,1-8.11-14), fala da ocasião em que o Senhor livrou o seu povo da escravidão do Egito, tornando-os livres da maldade alheia.

Na segunda leitura tirada da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, (1Cor 11,26), o apóstolo escreve à comunidade de Coríntios sobre a partilha do pão e do vinho, corpo e sangue de Cristo, uma aliança eterna realizada entre Deus e o ser humano. Que todos sejam um em Cristo.

O Salmo 115(116B) não poderia ser diferente: “O cálice, por nós abençoado, é a nossa comunhão com o sangue do Senhor”. Um louvor em reconhecimento a Deus e de como retribuir a tudo que Ele fez, faz e fará.

O Evangelho de Jesus Cristo segundo João (Jo 13,1-15), convida-nos a fazer parte da vida e da obra de Jesus. Ele lava os pés dos seus discípulos e diz a Pedro: “Se eu não te lavar, não terás parte comigo”, senta-se à mesa com eles para fazer a refeição e os ensina a fazerem o mesmo com todas as pessoas que querem participar das bem-aventuranças de Deus.

Em sua homilia, Dom Airton, ressalta que “Deus age na história através de nós, por isso temos que ter muito cuidado para agir na história, senão nós pensamos que estamos fazendo a vontade de Deus e, no final, estamos fazendo a nossa própria vontade”, ressalta.

Para ele, Deus quer que todos o siga, pois foram escolhidos por Ele para fazerem a boa obra e viver de um modo novo com o objetivo de louvá-lo e reconhecer as suas ações.

 “Isso traz benefícios, quando nós fazemos isso por temor a Deus, nós trazemos grandes benefícios e eles são visíveis e palpáveis. Agora, se nós não cumprimos a vontade de Deus, não andamos nos passos Daquele que nos libertou da morte do pecado, não cumprimos os mandamentos, as consequências serão horríveis. Então é preciso modificar o nosso modo de ser, para que o mundo seja, de fato, segundo a vontade de Deus”, evidencia o Arcebispo.

O prelado explica que o gesto de lavar os pés, na época de Jesus, era um serviço dos servos, que lavavam os pés de seus senhores, e Jesus tomou essa atitude para quebrar o orgulho entre as pessoas e destituir o ego delas, e cita um ditado popular: “Quem não serve para servir, não serve para governar”.

Portanto, quem não sabe se colocar a serviço dos outros, não pode mandar, caso contrário, torna-se um opressor. Logo após, Dom Airton repetiu o gesto de Jesus de lavar os pés dos discípulos.

Ao terminar a Santa Missa, que não se tem a benção final, Jesus Eucarístico é levado para o Sacrário e, ficando em adoração, até as 22h30. Instantes de adoração e reflexão, visto que Jesus, agora, está no Horto da Oliveiras, com os seus discípulos, entregue por Judas Iscariotes, por 30 moedas de prata, e já esperando pelos seus algozes.

 

Procissão das Endoenças ou Fogaréus

Nesse mesmo dia, após a celebração da Eucaristia, foi realizada a procissão das Endoenças ou Fogaréus, que saiu da Catedral da Sé em direção a Praça Minas Gerais, em Mariana (MG). Na chegada, houve a meditação alusiva à prisão de Jesus, proferida pelo Cônego do Cabido Metropolitano, Monsenhor Celso Murilo de Souza Reis.

Em seu discurso, ele destacou a noite tenebrosa de sofrimento de Jesus no Jardim das Oliveiras. Todavia, ao estar com os seus discípulos ali, Cristo já esperava pelos soldados romanos, pois Judas Iscariotes o tinha entregue pouco antes.

Com tochas de fogo, lanternas e armas, os soldados iam enfurecidos buscá-lo. Chegando diante d’Ele, perguntaram quem era Jesus e Judas deu-lhe um beijo, indicando à tropa aquele a quem procuravam.

Jesus identifica-se: “Sou eu a quem procuras”. Pedro tira sua espada da bainha e desfere um golpe na orelha do servo do sumo sacerdote e Jesus lhe disse: “Pedro, guarda tua espada, eu não vim por ela”. Naquele instante, Jesus cura a orelha do soldado e se entrega aos guardas.

O Cordeiro manso e humilde de coração é amarrado, chicoteado, arrastado e torturado pelo caminho. Foi levado a um julgamento fajuto e, não satisfeitos, colocaram-no uma coroa de espinhos sobre sua cabeça e uma cruz pesada sobre os seus ombros. Quanta dor esse Homem teve, simplesmente porque amou demais e, além disso, ensinou a todos que esse é o maior dos mandamentos.

Noite escura, triste, de dor e de entrega, segundo Mons. Celso, “essa cena da prisão de Jesus coloca-nos numa necessidade de tomarmos uma posição corajosa e consciente diante da pessoa e da missão de Cristo”.

O sacerdote ressalta que Jesus arrastava multidões com seus ensinamentos, com suas atitudes inovadoras, mostrando o rosto misericordioso do Pai. Ele falava sobre um jeito novo e diferente de amar, um amor sem medida pelos pecadores.

Os guardas armados com tantos apetrechos e Jesus armado, apenas, com sua confiança na palavra d’Aquele que o enviou para salvar o mundo e não julgá-lo.

Na prisão de Jesus, todos os poderes, que são contra Ele, participam do julgamento e de sua morte, “o poder político romano; o poder religioso oficial, representado pelos sumo-sacerdotes; pelos fariseus, os encarniçados defensores da lei e primeiros adversários de Jesus”, destaca o sacerdote.

“Jesus veio ao mundo como luz que brilha nas trevas. A luz brilhou nas trevas, mas o mundo continua preferindo as trevas à luz”, finaliza Mons. Celso.

Por fim, a procissão volta para a Catedral da Sé com a imagem de Jesus amarrado pelas mãos. Momento de silêncio, vigília e muita oração, mas, também, com muita esperança nas promessas de vida eterna, pois a “Spes non confundit”, ou seja, a Esperança não decepciona (Rm 5, 5) e a Esperança da humanidade está na ressurreição de Cristo e na certeza da vida eterna.

 

Tradição da procissão das Endoenças ou Fogaréus

A celebração foi introduzida no Brasil em 1745, pelo sacerdote espanhol Pe. João Perestrello de Vasconcelos Spíndola. Contudo, há historiadores que apontam que ela já poderia estar aqui desde o século XVI, como uma herança cultural trazida pelos ibéricos, consolidando-se na cultura popular.

Suas características compreendem-se como uma encenação da procura e prisão de Jesus Cristo pelos guardas romanos. Composta por farricocos, usando túnicas e máscaras pontiagudas, que teve origem na Idade Média, e são personagens que simulam os guardas romanos, percorrendo as ruas e as igrejas em busca de Jesus.

Em Mariana (MG), neste ano de 2025, essa tradição fora resgatada e agora faz parte do calendário devocional da Semana Santa.

Ela saiu na Quinta-feira Santa, 17 de abril, as 22h30, da Catedral da Sé, seguiu para a Praça Minas Gerais, onde houve a reflexão sobre a procura e a prisão de Jesus. Logo após, ela voltou para a Catedral da Sé com a imagem de Jesus amarrado pelas mãos acompanhado das figuras dos guardas romanos, tochas de fogo e o toque de marcha militar.

Além disso, o povo rezava, silenciosamente, ao toque da marcha militar, acompanhando todo percurso até o final.

Texto: Dacom/Arquidiocese de Mariana
Fotos: Mariana do Amaral e Paulo César Gouvêa

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