terça-feira

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Batizados e enviados: entrevista com padre Anderson Eduardo

16 de outubro de 2019 Arquidiocese

Dando sequência a série de entrevistas com os padres em missão, a entrevista de hoje é com o padre Anderson Eduardo de Paiva. Juntamente com o padre José Geraldo da Silva (padre Juquinha), padre Anderson está em missão na Arquidiocese de Porto Velho. Leia a entrevista na íntegra:

DACOM: Como está sendo a experiência missionário?  Quais as atividades o senhor está desenvolvendo?

Padre Anderson: Minha Experiência missionária nasce em dois momentos distintos: o primeiro deles quando o arcebispo de Mariana, Dom Airton José dos Santos, chama-me e apresenta a necessidade da Arquidiocese de Porto Velho – RO, em alguém com formação em Direito Canônico, que pudesse auxiliar em terras amazônicas o Tribunal Interdiocesano. Prontamente disse sim, com um misto de surpresa e apreensão. O segundo momento é o que estou vivendo agora, a adaptação. Conhecer a realidade local, os trabalhos concretos a serem assumidos, buscar uma maior proximidade com o clero aqui presente. Em síntese, tem sido um momento de aprendizado diário.

Quanto as atividades desenvolvidas, inicialmente seria o trabalho no tribunal eclesiástico, ou seja, uma missão bem direcionada. Aqui chegando, outras necessidades foram surgindo, de forma que o meu âmbito de atuação se expandiu: atualmente estou lecionando no curso de Teologia a disciplina de Direito Canônico I; colaboro em duas paróquias, exercendo a função de vigário paroquial: paróquia de São Cristóvão, onde resido e a paróquia do Sagrado Coração de Jesus, Catedral e assumi os trabalhos do tribunal eclesiástico ocupado o ofício de Vigário Judicial.

DACOM: Do ponto de vista eclesial e social, como é a realidade da região onde o senhor está em missão?

Padre Anderson: Pode-se dizer seguramente que é uma Igreja viva. Uma presença bonita dos leigos, desejo sincero de viver a fé. Uma realidade que muito chama a minha atenção é a sobriedade do clero presente na Arquidiocese de Porto Velho, sobriedade esta vivida primeiramente pelo Arcebispo Metropolitano Dom Roque Paloschi. Enquanto Igreja pertencente a Amazônia Legal, vive-se uma expectativa para o Sínodo que se avizinha. Muitas das aspirações do Instrumentum Laboris do Sínodo, são aspirações reais e concretas daqueles que moram nesta região. Um desafio aqui na região são as distâncias e as dificuldades para se chegar a certas áreas mais remotas. Para muitas dessas regiões o principal meio de transporte são os barcos. Difícil falar em realidade local, a Arquidiocese de Porto Velho, têm vários rostos: encontramos a população urbana, presente na capital e algumas outras cidades de maior destaque sociocultural; encontramos várias comunidades que estão nos ramais (linhas), estradas secundárias, mais no interior; encontramos comunidades às margens dos rios, principalmente o Madeira, as conhecidas comunidades ribeirinhas; visualizamos, ainda que em menor escala, a presença indígena. O rosto da Amazônia é destarte miscigenado, diverso. Mesma diversidade acontece com o clero presente na Arquidiocese de Porto Velho: presença numerosa de congregações, padres de várias dioceses do Brasil e padres da própria Arquidiocese. Ao mesmo tempo que a diversidade é um ganho, e de fato o é, se não bem compreendida torna-se uma ameaça a incompreensões e imposições ideológicas.

DACOM: Como a experiência missionária pode colaborar com o seu ministério presbiteral?

Padre Anderson: O maior aprendizado até o momento tem sido na abertura do horizonte eclesial, perceber que a Igreja de Jesus Cristo não tem limites, fronteiras ligadas a um território ou a uma cultura específica. A diversidade nós estimula a sairmos de nossas comodidades, o confronto conosco, o diálogo com o outro tornam-se imperativos essenciais para viver a missão. Ajudamos a repensar o exercício do ministério, evidenciar o que é o essencial e deixar de lado coisas secundárias. A mim tem ajudado a ser mais humilde, menos presunçoso. O verdadeiro conhecimento do outro, nos porta ao conhecimento de nós mesmos. Creio que este tem sido o maior aprendizado, buscar respostas convincentes diante dos muitos questionamentos experimentados neste início de missão. Agradeço e muito ao Dom Roque Palosqui pela confiança depositada e testemunho de simplicidade ao Pe. Filip Jacques Cromheecke, pároco da paróquia São Cristóvão, pela convivência fraterna em sua casa, ao casal missionário, Marco e Meire, pela oportunidade da convivência e partilhas. Por fim, a experiência missionária ensina a lidar com a saudade, companhia certeira durante este tempo. Termino pedindo as orações.