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Campanha da Fraternidade será iniciada na próxima quarta-feira

21 de fevereiro de 2020 Arquidiocese

A Campanha da Fraternidade 2020 será iniciada na próxima quarta-feira (26), quarta-feira de cinzas. Na arquidiocese, Dom Airton José dos Santos irá presidir a celebração de lançamento da Campanha  na Arquidiocese, às 19h, na igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Mariana.

Neste ano, será realizada a 56ª Campanha tem como tema ‘Fraternidade e vida: dom e compromisso’ e lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34). Para contribuir com as reflexões, o Departamento Arquidiocesano de Comunicação (DACOM) conversou com o secretário-executivo de Campanhas da CNBB, padre Patrick Samuel Batista.

Leia a entrevista na íntegra: 

DACOM: A Campanha da Fraternidade tem como tema “Fraternidade: dom e compromisso” e o lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” ( Lc 10, 33-34). O que inspirou o tema deste ano? Quais reflexões essa temática apresenta? 

Padre Patrick: No início da década de 1950 o índice de brasileiros que moravam na cidade era de 36,1%. No senso de 2010 este número chegou em torno de 84%. É inegável que hoje vivemos profundamente inseridos numa cultura urbana. Urbana não somente no seu aspecto geográfico, mas cultural. Este mundo urbano traz consigo inúmeros avanços e também desafios. Novas linguagens, novas formas de compreensão de mundo e até mesmo novos estilos de vida, muitas vezes distintos do convite que nos faz o Evangelho. Neste cenário, a Igreja do Brasil nos convida a lançar um olhar mais atento e detalhado para a vida como dom de Deus a ser cultivado e compromisso a ser assumido no amor. Por isso é preciso nos questionar: temos vivido a vida como verdadeiro dom? Qual nosso compromisso com a vida para além do “corre-corre” do quotidiano? A inspiração é sempre provocante: levar a luz do Evangelho da vida a cada coração necessitado de sentido, presença, horizontes. E para nós, Jesus Cristo não é somente o caminho, a verdade e a vida, mas a inspiração para o nosso viver. Vale a pena lembrar que desde 1964 a Campanha da Fraternidade tem sido um dos modos de viver a espiritualidade quaresmal na Igreja no Brasil. Caminho este capaz de iniciar processos de conversão e de vida nova. Vida mais atenta e comprometida. Frente aos diversos desafios que ameaçam a vida como Dom de Deus, como cristãos não podemos nos acomodar diante dos sinais de morte que ferem a dignidade humana. “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos.” (Rm 12,2). Por isso a CF de 2020 nos ajuda a refletir sobre a importância da vida enquanto dom a ser cultivado, desde a concepção, passando pela morte natural, até a plenitude e compromisso a ser assumido por cada pessoa, por cada comunidade. Ver, sentir compaixão e cuidar! Sinais de uma Igreja Samaritana. A CF 2020 além de ser um forte apelo social diante de uma cultura do descarte e de uma sociedade de Caim profundamente marcada pela indiferença, também aborda as periferias existenciais nos ajudando a ver, compadecer e cuidar de realidades como a depressão, o suicídio, o aborto, a vida dos pobres, a situação das pessoas que se encontram no campo onde ainda existem muitos conflitos.

DACOM: A CF deste ano vem fazer um alerta para os cenários que agridem a vida humana no Brasil? Quais são estes cenários?

Padre Patrick: Sim. O objetivo geral da campanha é claro. Revela o que a Igreja no Brasil pretende com a CF 2020: “Conscientizar, à luz da Palavra de Deus, para o sentido da vida como Dom e Compromisso, que se traduz em relações de mútuo cuidado entre as pessoas, na família, na comunidade, na sociedade e no planeta, nossa Casa Comum.”. Tal objetivo que é explicitado em dez propostas específicas: Apresentar o sentido de vida proposto por Jesus nos Evangelhos; propor a compaixão, a ternura e o cuidado como exigências fundamentais da vida para relações sociais mais humanas; fortalecer a cultura do encontro, da fraternidade e a revolução do cuidado como caminhos de superação da indiferença e da violência; promover e defender a vida, desde a fecundação, passando pelo fim natural rumo à plenitude; despertar as famílias para a beleza do amor que gera continuamente vida nova; preparar os cristãos e as comunidades para anunciar, com o testemunho e as ações de mútuo cuidado, a vida plena do Reino de Deus; criar espaços nas comunidades para que, pelo batismo, pela crisma e pela eucaristia, todos percebam, na fraternidade, a vida como Dom e Compromisso; despertar os jovens para o dom e a beleza da vida, motivando-lhes o engajamento em ações de cuidado mútuo, especialmente de outros jovens em situação de sofrimento e desesperança; valorizar, divulgar e fortalecer as inúmeras iniciativas já existentes em favor da vida; cuidar do planeta, nossa Casa Comum, comprometendo-se com a ecologia integral.

DACOM: Como o texto base da CF 2020 está estruturado? 

Padre Patrick: Tradicionalmente o Texto Base da CF é estruturado a partir do método ver, julgar e agir. Neste ano a novidade é que o método é apresentado na perspectiva bíblica sinalizada pelo lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele.” O que corresponde ao ver apresentamos com o “Viu” do Samaritano. O julgar ao “sentiu compaixão.” e por fim o agir é apresentado pela expressão “Cuidou dele”. Além desses elementos uma outra novidade encontra-se logo no início do texto, antes do julgar. Aqui temos uma proclamação da Palavra de Deus. Uma reflexão sobre o texto bíblico do Bom Samaritano, ícone da compaixão e do cuidado. Somos chamados a lançar nosso olhar para a sociedade como discípulos missionário de Jesus Cristo motivados pela fé no Deus da vida que nos envia em missão.

DACOM: O Cartaz com Irmã Dulce quer dizer que ela é a grande inspiradora para esta Campanha?

Padre Patrick: Sim. Eis aqui um sinal belíssimo da divina providência. No dia 24 de junho o secretário geral da CNBB, Dom Joel Amado, convocou uma reunião para tratar da identidade visual da CF 2020. Estiva presente a equipe das edições CNBB. Logo de início, quando apresentamos o tema e lema, foi-se pensado: quem seria o ícone do Bom Samaritano para o tempo presente? Quem viu, compadeceu e cuidou da vida? Foram levantados diversos nomes, sinal de que a Igreja sempre esteve empenhada no cuidado para com a vida. Foram lembradas de várias mulheres, santas mulheres, que dedicarem-se por inteiro. Aí não teve como negar a escolha quando contemplamos a vida do anjo Bom da Bahia. Santa Dulce dos pobres! A escolha foi imediata e até neste dia a Santa Sé não havia divulgado a notícia da canonização de Ir. Dulce. Semanas depois, quando soubemos das notícias, ficamos imensamente alegres com esta boa notícia. Daí o cartaz: Santa Dulce cuida de todos onde eles se encontram. O cartaz expressa esse cuidado na própria rua, sinal de uma Igreja em saída. Além disso Santa Dulce cuida segurando a cruz de Cristo. Lembramos o quanto ela também sofreu, mas também com ela aprendemos que vida doada é vida santificada. Enfim, a canonização de Santa Dulce foi a confirmação de que a CF 2020 ajudará muitas pessoas a redescobrir a alegria de cuidar uns dos outros como Jesus cuida de cada um de nós. E para cuidarmos dele, basta lembrarmos o trecho de Mt 25. “Tive fome e me destes de comer …”.

DACOM: Qual o papel da coleta da CF?

Padre Patrick: É um dos gestos concretos da Campanha da Fraternidade. A coleta da solidariedade é realizada no domingo de ramos que neste ano será dia  de abril. Do total arrecadado 60 % fica na própria Diocese e compõe o Fundo Diocesano de Solidariedade. Os 40% restantes são enviados à CNBB e compõe o Fundo Nacional de Solidariedade. Estes recursos são revertidos para o fortalecimento da solidariedade nas diferentes regiões do país. A participação nesta grande rede de solidariedade se dá por meio da contribuição na coleta de domingo de ramos, mas também acompanhados os diversos projetos que chegam a CNBB seja por meio do site https://fns.cnbb.org.br/fundo ou também visitando as instituições que recebem estes recursos.

DACOM: Por que a CF acontece durante a Quaresma? 

Padre Patrick: Há mais de cinco décadas a Igreja no Brasil vive a CF anunciando a importância de não separar a conversão do serviço aos irmãos e irmãs, sobretudo os mais necessitados. Desde as suas origens tem o seu principal momento de sensibilização o período quaresmal sinalizando que não há oposição entre uma campanha que promover a fraternidade, incentiva o amor ao próximo, a viver como irmãos com o período quaresmal que vem justamente nos lembra que precisamos vencer o pecado, voltar nossa vida para Deus e voltar a nos reconhecermos como irmãos e irmãs, filhos do mesmo Pai que nos ama e porque nos ama nos envia seu Filho unigênito para nos salvar. Quaresma é voltar a comunhão com o filho primogênito, com o auxílio da graça e a prática do jejum da oração e da esmola. “Reconciliai-vos com Deus!” (2 Cor 6,1-2) Quaresma também é o tempo favorável de deixar o pecado e voltarmos para Deus e para os irmãos. Este voltar para Deus exige uma vida nova, reconciliada e compromissada com a Palavra  e dedicada ao próximo. “Entre eles não haviam necessitados.” (At) Além disso a Campanha da fraternidade é um compromisso não só para um período litúrgico ou mesmo um ano civil, mas, para uma compromisso, uma mudança de vida que atinge toda existência. Quantas campanhas deram origem a inúmeras iniciativas como pastorais, ações evangelizadoras, projetos sociais que continuam até hoje testemunhando a força transformadora do Evangelho. Força esta que muda o coração e coração transformado contribui para a construção de um mundo novo. Entre irmãos, entre cristãos, jamais deverá existir concorrências. Como bem nos lembra o apóstolo Paulo é preciso realizarmo-nos no amor. Talvez seja preciso redescobrir a quaresma como tempo de caridade, tempo de reencontrar com aquele amor que doa sua vida por nós e nos convida a fazer o mesmo: “não há prova maior de amor do que dar a vida pelo irmão.” Este trecho da Palavra de Deus que sempre cantamos na quaresma foi uma das canções que a CF nos presenteou.

Foto: Portal Kairos