Neste mês de maio a Encíclica “Laudato Sí”, sobre o cuidado com a Casa Comum, do Papa Francisco, completa cinco anos. No Brasil e no mundo, diversas iniciativas estão sendo preparadas para o momento de celebração do documento que convida a refletir sobre o futuro do planeta.
Na arquidiocese de Mariana, desde a sua publicação, a Encíclica foi tema de reflexão e debate de inúmeros eventos e encontros. Segundo o integrante da comissão de meio ambiente da arquidiocese e assessor da Pastoral Carcerária, padre Marcelo Moreira Santiago, esta Exortação Apostólica marca o pontificado do Papa Francisco em colocar a Igreja, na esteira da sociedade, comprometida com a ecologia integral, a vida humana, a vida animal, a vida em todo o planeta, nossa casa comum.
“Em nossa Arquidiocese, ela foi muito bem acolhida e iluminou frentes de trabalhos pastorais, no compromisso com a vida, como em relação às lutas em defesa da água, como direito de todos, combate aos monocultivos, na linha do agronegócio, com uso exagerado de pesticidas, envenenando matas e rios; combate à exploração predatória das mineradoras, empenho pela agroecologia e por uma educação ambiental de base, acreditando que pequenas iniciativas trazem verdadeira sustentabilidade e uma relação mais harmoniosa com toda a natureza. Somos parte dela, da natureza criada por Deus, chamados a ser cuidadores e não usurpadores e destruidores de todo o criado”, disse.
Campanhas da Fraternidade
O presbítera destaca que as últimas Campanhas da Fraternidade, desenvolvidas pela Igreja no Brasil e assumidas pela arquidiocese, contribuíram no processo de conscientização e mobilização social para as questões ligadas à vida humana e do planeta, ligadas ao meio ambiente. “Elas despertaram para iniciativas locais de preservação ambiental, cuidados sanitários como em relação ao uso responsável da água, consumo responsável, coleta seletiva, tratamento de esgoto e dos resíduos sólidos, limpeza urbana, organização de uma pastoral ambiental para que as iniciativas não fossem apenas pontuais, mas mais bem sistematizadas”, afirma.
Romarias
O tema da Casa Comum também foi debatido em várias romarias realizadas pela arquidiocese, a partir da Dimensão Sociopolítica, como a realização das Romarias anuais dos Trabalhadores/as e Grito dos Excluídos, além da participação na Romaria das Águas e da Terra da Bacia do Rio Doce.
“Nesses espaços, esta temática, assumida profeticamente com anúncio e denúncia, é recorrente na linha de luta por direitos, dignidade humana e preservação ambiental, combate a avidez e exploração do agronegócio e da mineração e empenho pela sociedade do bem viver e do conviver em resposta à sociedade do bem-estar que coloca o lucro, o mercado acima do valor da vida e do direito de todos aos bens da natureza e da técnica”, destaca padre Marcelo.
Fórum Social pela Vida
As duas últimas edições do Fórum Social pela Vida realizados em Conselheiro Lafaiete (2016) e em Barão de Cocais (2019) foram eventos desta Igreja particular que caminharam à luz da Laudato Sí, comprometidos com a ecologia integral.
“Os últimos Fóruns foram uma alavanca, com suas decisões e carta compromisso, para os trabalhos populares na Arquidiocese, pensando ‘um outro mundo possível’ de maior interação do ser humano com a natureza e construção permanente da sociedade justa, ‘fraterna e reconciliada”, disse padre Marcelo.
Padre Marcelo também destacou toda a mobilização da Arquidiocese, inclusive aos dias de hoje, passados cinco anos, na defesa dos atingidos/as pela barragem de rejeitos do Fundão, das empresas Samarco, Vale e BHP-Billinton, em Bento Rodrigues. “A realização de semanas sociais, com esta temática e a Criação da Comissão Arquidiocesana do Meio Ambiente, bem como a participação, num processo mais amplo, da Comissão do Meio Ambiente da Província Eclesiástica de Mariana e do Fórum Permanente da Bacia do Rio Doce, nas lutas em favor dos ribeirinhos, dos direitos dos atingidos/as e regeneração desta bacia hidrográfica”, pontua.
Pandemia e Casa Comum
Ao falar sobre a pandemia, padre Marcelo afirma que a ecologia integral é a grande resposta, já profetizada pelo Papa Francisco, para a sociedade pós pandemia do novo coronavírus.
“Venceremos esta pandemia, mas precisamos voltar à ‘normalidade’ de um jeito diferente. Penso, com mais humanidade, mais atentos às pessoas e mais sensíveis em relação ao mundo, ao nosso planeta terra, nossa casa comum. Não somos máquinas e o mundo não pode caminhar nessa aceleração econômica que tem levado, à exaustão, os bens da natureza e aumentado o fosso entre entre ricos e pobres, entre países ricos e pobres, adoecendo o mundo com a produção de vírus muitos piores, comodo egoísmo, da indiferença e da ganância”, disse.
Ele acrescenta que este mal que ora assola o mundo e o Brasil vem mostrando o quanto a vida é frágil e como as pessoas são mais importantes que as coisas. “Precisamos nos converter. Quem sabe haveremos de aprender com a dor que precisamos de muito menos para sermos, todos, felizes, Que a vida, humana e do planeta, é mais importante que o lucro. Que o dinheiro não compra tudo e que o outro é meu irmão. Em causa, acredito, está a gestação de um novo mundo: mais humano, fraterno e justo. Tenho para mim que frente a esse ‘frenesi’ da sociedade contemporânea, marcada pelo consumismo desenfreado, vamos ver nascer tempos novos em que o ‘cuidado’ será a palavra de ordem. Nesse sentido, a Laudato Sí é uma carta magna para a sociedade atual. A ecologia integral é a grande resposta, já profetizada pelo Papa Francisco, para a sociedade pós pandemia do novo coronavírus”, finalizou.
Semana Laudato Si’
Desde o dia 16 de maio, a Comissão Episcopal Pastoral Especial para Ecologia Integral e Mineração (CEEM) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promove a ‘Semana Laudato Si’, 5 anos: Ecologia Integral e Mineração’. Será possível acompanhar as ações pela página da CNBB no Facebook e YouTube/cnbbnacional.
Durante esses dias, a comissão vai realizar debates temáticos diários sobre a encíclica com representantes da comissão, professores e pesquisadores, membros do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Comissão Pastoral da Terra (CPT) e da Comissão Pastoral da Pesca (CPP).