A Campanha da Fraternidade (CF) de 2022 vai tomando forma, rosto e poesia. Com o texto base em processo de finalização, o Conselho Episcopal Pastoral (Consep) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) escolheu o cartaz e a letra do hino da próxima edição da CF, cujo tema é “Fraternidade e Educação” e o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Cf Pr 31,26).
De autoria de Eurivaldo Silva Ferreira, a letra do hino da Campanha da Fraternidade 2022 aborda a educação na formação integral da pessoa humana e destaca em seu refrão a imagem de Cristo que “fala com sabedoria e ensina com amor”, cuja vida “em total maestria é pra nós luz, caminho, vigor”.
Confira a letra:
HINO DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE – 2022
Tema: Fraternidade e Educação
Lema: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf Pr 31, 26)Letra: Eurivaldo Silva Ferreira
1. É tarefa e missão da Igreja
Boa Nova no amor proclamar,
No diálogo com a cultura
Para a vida florir, fecundar
O que em redes se vai construir
E a pessoa humana formar.Quando o anseio do conhecimento
Ultrapassa barreiras, fronteiras,
Se destaca o ensinamento
Oriundo da fé verdadeira
Que nos faz nesta ação solidários
Para o bem, condição que é certeira.Refrão: E quem fala com sabedoria
É Aquele que ensina com amor,
Sua vida em total maestria
É pra nós luz, caminho, vigor.2. Educar é a atitude sublime
Que prepara a vida futura
Compreendendo o presente, pensamos:
Ensinar é proposta segura
Para, enfim, destacar-se a atitude
Dos que em Cristo são nova criatura.O convívio em níveis fraternos
Traz em nós o sentido discreto:
Na harmonia com os seres viventes
E no agir o equilíbrio completo
Consigamos também aprender
E educar para o amor e o afeto.3. O caminho nos quer convertidos:
Mergulhar no mistério profundo
Para que em sua Páscoa busquemos
Compaixão no cuidado com o mundo.
Conformados em Cristo seremos
Aprendizes do dom tão fecundo.Quando a plena mudança atingir
Relações tão humanas, libertas,
Novos rumos em redes seremos
Gerações solidárias e abertas
Na esperança de rostos surgirem
Assumindo missões tão concretas.4. E na casa comum que sonhamos
Onde habitam cuidado e respeito
Educar é o verbo preciso
A cumprir neste chão grandes feitos
Para o mundo poder imitar
Quem na vida é o Mestre Perfeito.Pedagogicamente é preciso
Escutar, meditar, compreender
Para que aprendamos com o Cristo
O caminho da cruz percorrer
E na escola da sua existência
O Evangelho seguir e viver
Eurivaldo Ferreira da Silva, “leigo que procura viver o espírito de batizado na Igreja que lhe deu a fé”, é graduado em Teologia pela PUC-SP, especialista em Liturgia pelo Instituto de Filosofia e Teologia de Goiânia (Ifiteg) e mestre em Teologia, com concentração em Liturgia pela PUC-SP. É agente pastoral do canto e da música na arquidiocese de São Paulo (SP). É membro da Rede Celebra de Animação Litúrgica; da Equipe de Reflexão do Setor de Música Litúrgica da CNBB; do Universa Laus, grupo internacional de pesquisadores e especialistas em canto e música litúrgica que se reúnem anualmente desde 1966. Participou, desde 2006, dos Encontros de Compositores da CNBB promovido pelo Setor de Música da CNBB (ocasião em que aprofundou a arte de compor canto e música litúrgica). Foi assessor do Setor Música Litúrgica da CNBB, em 2016.
O autor contou que acolheu “com grande alegria” a notícia de que seu “humilde texto poético foi escolhido para ser o Hino da CF 2022”. E ainda: “Agradeci a Deus por ter me dado forças e inspiração para continuar servindo a Igreja em meio a tantas dificuldades que estamos passando, mas que se torna como oferta para um serviço eclesial ainda maior”.
Eurivaldo quis oferecer uma reflexão aprofundada sobre o processo de criação do hino e sobre os elementos do contexto quaresmal relacionados à música da Campanha da Fraternidade:
Sou convicto da força de uma letra e de uma melodia numa campanha como é a Campanha da Fraternidade, que, desde 1964 vem contribuindo para um projeto de Igreja no Brasil pelo qual se faz necessário uma boa reflexão. De fato, os temas refletivos pelas CFs, a cada ano, contribuem para preencher lacunas que a sociedade ainda não conseguiu alcançar.
Como em toda campanha, uma música nos motiva a vivermos seu sentido e a ampliarmos sua forma de alcance. É um elemento de fácil assimilação e que condensa, com linguagem poética, aqueles elementos que mais podem expressar seu objetivo.
A música é uma forma de arte. Dentre todas as artes, é ela a que expressa com mais beleza os motivos e as razões da nossa fé e enobrece a palavra, dando destaque àquilo que, por sua vez, a palavra sozinha não pudesse fazer.
Quando falamos em música não podemos deixar de falar da poesia. Por isso importam vários elementos principais que podem soar como “combustíveis” da poesia: a palavra, o texto e a língua, a inspiração, o ritmo, a voz falada e a voz cantada. Quando nos propomos a fazer uma poesia para um hino de uma campanha, pensamos na função que possui o texto para chamar a atenção para o que está sendo exposto. Na letra de um hino há uma força motivadora própria, caraterizada pela expressão de seu texto poético e pela beleza de sua melodia (que em breve será escolhida também por meio de um concurso).
Para o Hino da CF não se trata de dizer que é um hino litúrgico, trata-se sobretudo de um texto pastoral, cujas realidades presentes em sua letra retratam e refletem
aquela solidariedade que caracteriza os discípulos de Cristo na sua relação com toda a humanidade, pois, “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens e mulheres de hoje, sobretudo dos pobres e de todos e todas que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos e das discípulas de Cristo. Não se encontra nada de verdadeiramente humano que não lhes ressoe no coração. (…) Portanto a comunidade cristã se sente verdadeiramente solidária com o gênero humano e com sua história”[1].
Tendo em vista essas considerações preliminares, elenco então algumas possibilidades e reflexões que encontrei como elementos motivadores e inspiradores para a construção do texto poético do Hino da CF 2022. São formulações que eu mesmo construí através de meus estudos poéticos:
a) deve ser um texto pedagógico que tenha se inspirado ou no Manual da CF de cada ano ou no Edital do concurso do hino daquele ano, lançado pelo Setor de Música da CNBB e pela Equipe da CF;
b) deve ter um conteúdo pedagógico-espiritual cuja vivência quaresmal nos encaminhe segundo o qual o princípio da caridade constitui elemento de um tripé para seguirmos confiantes o caminho até a Páscoa;
c) deve ter um argumento e um fundamento teológicos, pois a cada ano a Igreja se une ao mistério de Jesus no deserto durante quarenta dias, vivendo um tempo de penitência e austeridade, de conversão pessoal e social, especialmente pelo jejum, a caridade e a oração;
d) deve estar dentro de um contexto pedagógico-social, já que estamos num tempo forte e privilegiado, em que, percorrendo o caminho da Páscoa (cume), a fim de renovarmos nossa fé e nossos compromissos batismais, cultivamos com mais amplitude o amor a Deus e ao próximo desdobrando-se numa atitude de solidariedade com e entre os irmãos e as irmãs (fonte). Podemos falar de uma mística que conduz o caminho espiritual.
e) deve partir do sentimento particular para o pedagógico-universal, já que essa solidariedade não se restringe ao âmbito ou ao espaço religioso, ao templo, por exemplo, mas atinge camadas mais universais (o país, a região, a cidade, o município, a comunidade, o bairro, a vila, a vizinhança etc.) como que em graus, a fim de que a Páscoa de Jesus possa atingir também essas realidades.
A título de exemplo, a reconciliação é um elemento próprio do tempo da Quaresma, mas que deve sempre ser antecedida de um anseio caritativo e de uma força comunitária, também eclesial, até atingir o universo, por isso, cada pessoa é responsável em se juntar ao desejo da Igreja, em forma de uma campanha, para poder atingir, de maneira gradual as realidades que ela deseja e tem por meta ou tarefa: a de evangelizar, cuja educação – como nos propõem o tema e lema deste ano – está incluída como parte integrante de sua missão no mundo. Aliás, a reconciliação, se não for vivida na sua plenitude cósmica, não será válida. Afinal, todo o cosmos será atingido pela Páscoa de Cristo.
E, para finalizar, é no tempo quaresmal que essas possibilidades que julgo como elementos inspiradores e motivadores se fazem mais latentes pelo chamamento da Igreja e de outras comunidades de fé que compartilham desse mesmo propósito. Esse é o grau maior de nossa compreensão como aprendizes do Mestre Jesus que nos impulsiona, a partir de pequenas atitudes do dia a dia a atingirmos gradualmente aquilo que ele mesmo fez e continua fazendo continuamente nas nossas vidas, na comunidade, no mundo, no universo: tecer relações humanas e abertas, educando o presente e transformando-o a partir do anúncio do Reino, do seu Evangelho, para recriarmos e conservarmos para as novas gerações a obra da criação que tem por autor o próprio Deus.
Espero que esta pequena contribuição de um poeta aprendiz possa servir como impulso para marcar os principais anseios que a CF 2022 vem nos trazer como reflexão.
[1] CNBB. Princípios da música litúrgica. Do ponto de vista pastoral. In: Canto e música litúrgica. Princípios teológicos, litúrgicos, pastorais e estéticos. Brasília-DF: 2006. Edições CNBB, p. 13
Texto e imagens: CNBB
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