Boletim da Santa Sé
Tradução: Liliane Borges (Canção Nova)
Caros irmãos e irmãs, bom dia !
Vinte e cinco anos atrás, nesta mesma data de 25 de março, que na Igreja é a Solene festa da Anunciação do Senhor, São João Paulo II promulgava a Encíclica Evangelium vitae, sobre o valor e a inviolabilidade da vida humana.
A ligação entre a Anunciação e o “Evangelho da vida” é estreita e profunda, como sublinhou São João Paulo em sua Encíclica. Hoje, nos encontramos relançando esse ensino no contexto de uma pandemia que ameaça a vida humana e a economia mundial. Uma situação que torna ainda mais exigente as palavras com as quais a Encíclica tem início. Aqui estão elas: “O evangelho da vida está no coração da mensagem de Jesus. Acolhido pela Igreja todos os dias com amor, deve ser anunciado com corajosa fidelidade, como boa notícia para os homens de todas as idades e culturas” (n. 1).
Como todo anúncio do Evangelho, isso também deve ser testemunhado antes de tudo. E penso com gratidão no testemunho silencioso de muitas pessoas que, de maneiras diferentes, estão fazendo o possível para servir os doentes, os idosos, os solitários e os mais necessitados. Eles colocam em prática o Evangelho da vida, como Maria, que, aceitando o anúncio do anjo, foi ajudar sua prima Isabel, que precisava dela.
De fato, a vida que somos chamados a promover e defender não é um conceito abstrato, mas sempre se manifesta em uma pessoa em carne e osso: uma criança recém-concebida, uma pobre pessoa marginalizada, um paciente solitário e desanimado ou em estado terminal. Alguém que perdeu o emprego ou não consegue encontrar outra oportunidade, um migrante recusado ou guetizado … A vida se manifesta de modo concreto nas pessoas.
Todo ser humano é chamado por Deus para desfrutar da plenitude da vida; e sendo confiado ao cuidado materna da Igreja, toda ameaça à dignidade e à vida humana não pode deixar de afetar seu coração, em suas “vísceras maternos”. A defesa da vida para a Igreja não é uma ideologia, é uma realidade, uma realidade humana que envolve todos os cristãos, precisamente porque são cristãos e porque são humanos.
Os ataques à dignidade e à vida das pessoas continuam Infelizmente mesmo em nossa era que é a era dos direitos humanos universais; pelo contrário, somos confrontados com novas ameaças e nova escravidão, e nem sempre a legislação protege a vida humana mais fraca e vulnerável.
A mensagem da Encíclica Evangelium vitae é, portanto, mais atual do que nunca. Além das emergências, como a que estamos enfrentando, é uma questão de atuar no nível cultural e educativo para transmitir às gerações futuras a atitude de solidariedade, cuidado, acolhida, sabendo bem que a cultura da vida não é um patrimônio exclusivo dos cristãos, mas pertencem a todos aqueles que, lutando pela construção de relacionamentos fraternos, reconhecem o valor adequado de cada pessoa, mesmo quando são frágeis e sofredores.
Queridos irmãos e irmãs, toda vida humana, única e irrepetível é válida por si mesma, constitui um valor inestimável. Isso sempre deve ser anunciado novamente, com a coragem da palavra e a coragem das ações. Isso exige solidariedade e amor fraterno pela grande família humana e por cada um de seus membros.
Portanto, com São João Paulo II, que fez essa encíclica, com ele reafirmo com renovada convicção o apelo que fez a todos, vinte e cinco anos atrás: “Respeite, defenda, ame e sirva a vida, toda vida, toda vida humana ! Somente neste caminho você encontrará justiça, desenvolvimento, liberdade, paz e felicidade! ” (Enc. Evangelium vitae, 5).