“Cuidar da criança e do adolescente é uma responsabilidade de todos nós”, disse o arcebispo de Mariana, Dom Airton José dos Santos, no I Encontro das Comarcas em que já foram instalado o Fórum Intermunicipal de Políticas Públicas para a Criança e ou Adolescente realizado na tarde desta segunda-feira (4), na Faculdade de Direito, em Conselheiro Lafaiete.
“Tudo tem o seu tempo e fazer com que a pessoa amadureça é um grande desafio para nós. Por isso, toda atividade relacionada a infância e a juventude é um trabalho cansativo, pois é um trabalho exigente. Um trabalho de paciência histórica, comprometida, onde nós acompanhamos passo a passo o desenvolvimento dessas crianças, adolescentes e jovens, e devemos fazer com carinho. Essa paciência não é comodismo, ela é exatamente o que estamos fazendo, dando passos significativos e fundamentados” completou o arcebispo.
Segundo Dom Airton, este trabalho de reunir as autoridades e as pessoas responsáveis é importante. “Essa responsabilidade é da sociedade inteira. Se as autoridades e o poder público começarem a pensar em políticas públicas, em gestos concretos para defender, proteger e valorizar as crianças, adolescentes e jovens teremos uma sociedade de cidadãos responsáveis, sabedores dos seus direitos e dos seus deveres” afirmou.
Dom Luciano
O servo de Deus Dom Luciano, bispo que incentivou o trabalho das Pastorais da Criança e do Menor, foi lembrado no encontro. Padre Darci Leão foi convidado a falar um pouco da vida e atuação de Dom Luciano.
“Dom Luciano dispensa apresentação. Mas, neste quesito da criança e do menor sabemos que Dom Luciano via nesta sociedade, com tanta injustiça, a necessidade de haver uma solução. E a solução, para ele, a curto prazo, estava nas crianças. Ele dizia: ‘se quisermos mesmo valorizar a pessoa humana, deveríamos nos voltar para a criança, pois ela é frágil, impotente e não nos pode dar nada. Voltar para a criança e reeducar-se para justiça e para a gratuidade do amor’. Percebemos nesta fala de Dom Luciano que a injustiça presente em nossa sociedade se deu devido a ocorrência da inversão de valores. Para ele, os valores econômicos foram colocados acima dos valores sociais, sendo assim desclassificados, lesando drasticamente a dignidade da pessoa humana e para resolver essa questão ele não só aponta a necessidade de valorizar cada pessoa, como indica concretamente por onde começar para atingir e restabelecer valores fundamentais em toda a sociedade”, disse padre Darci.
O presbítero lembrou que Dom Luciano dizia que o menor não é o problema, que ele era a solução. Ele também destacou uma frase de Dom Luciano em um evento voltado para o menor. “‘É pelas crianças que devemos começar o trabalho. Primeiro porque os menores estão mais exposto ao descaminho da violência e precisam ser, quanto antes, dela preservados. Depois, porque no sentido mais profundo ao voltarmos a atenção para os menores estaremos criando um processo de conversão da sociedade inteira. Essa é uma das componentes mestras da transformação radical pela qual nossa geração deve passar. Na medida em que substituirmos os mecanismos de ambição e ganância pelos de serviço e doação estaremos nos reconhecendo na dignidade dos outros, para além do lucro e proveito pessoal. A dedicação a criança, como princípio dinâmico na sociedade, é simbólica dessa transformação de valores. Essas palavras de Dom Luciano nos mostram um pouco do que vimos aqui na apresentação, outros fizeram, agora somos nós que devemos empenhar os nossos esforços”, lembrou padre Darci.
O encontro
O I Encontro das Comarcas reuniu autoridades, representantes dos municípios, além de estudantes, jovens e agentes da Pastoral. O encontro teve como objetivo promover um espaço de articulação e avaliação da implantação do Fórum Intermunicipal de Políticas Públicas para a Criança e Adolescentes nas Comarcas de Barbacena, Ponte Nova, Viçosa, Conselheiro Lafaiete, além de estimular a troca de experiências entre os atores da rede protetiva da Criança e do adolescente.
Para Aline Alves Gonçalves, Comissariada da Infância em Conselheiro Lafaiete, o encontro foi muito produtivo. “Contamos com a presença de várias comarcas da rede. O encontro foi um grande passo para uma união ainda maior. Ele proporcionou um grande reflexão e avaliação sobre a políticas públicas para a criança e o adolescente”, disse.
O assessor arquidiocesano da Pastoral da Criança e do Menor, padre Dário Chaves Pereira, afirmou que “o encontro foi mais uma porta que abrimos para que os pobres entrem para o exercício da cidadania plena e para a experiência do reino de Deus”.
Atuação da Pastoral
Implantado pelas Pastorais da Criança e do Menor, o Fórum Intermunicipal dos Direitos da Criança e do Adolescente vem se destacando como um espaço de debate sobre políticas públicas. A iniciativa, iniciada em 2013, oferece uma pista de como é possível caminhar no sentido da construção de políticas públicas, segundo os princípios do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
O Fórum tem a missão de mobilizar a sociedade civil, ongs, poder executivo, judiciário e legislativo para elaborar as políticas na área da infância e adolescência que desenvolvam ações transformadoras de resgate da cidadania, consolidando assim a conquista dos direitos da criança e do adolescente no direito à vida digna e exercício da cidadania plena.
Durante o encontro, Dom Airton também destacou o papel das pastorais nessa caminhada. “Pastoral da Criança e do Menor é uma atividade específica da Igreja para trabalhar diretamente com a criança e com o adolescente. De modo especial, como já foi lembrando, aquela criança que está em conflito com a sociedade, através da legislação, é uma criança vulnerável. A Pastoral da Criança e do Menor tem essa preocupação. Fazer com que na sociedade haja respeito por esses irmãos e irmãs que estão começando o seu caminho, para que sejam protegidos e sejam incentivados a seguirem o seu caminho para serem homens e mulher de futuro, já agora. Não lá no futuro, mas agora”, disse.
O arcebispo de Mariana também enfatizou que lembrar a pessoa de Dom Luciano é lembrar essas duas entidades fundamentais, a Pastoral da Criança e a Pastoral do Menor. “Nós temos uma característica específica da arquidiocese de Mariana. Somente aqui existe uma ligação institucional, jurídica entre a Pastoral da Criança e a Pastoral do Menor. Elas são duas entidades distintas, com preocupações distintas, e aqui, Dom Luciano fez isso, juntou, uniu essas duas forças da Igreja em uma única atividade”, afirmou Dom Airton.