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Dom João Justino fala sobre ministério ordenado, sua caminhada episcopal e a realidade da sociedade atual

08 de março de 2017 Arquidiocese

O assessor do XXVII Encontro de Presbíteros e Diáconos da Arquidiocese, que está sendo realizado em Cachoeira do Campo, Dom João Justino Medeiros Silva, bispo auxiliar de Belo Horizonte, eleito arcebispo coadjutor de Montes Claros, concedeu uma entrevista ao Departamento Arquidiocesano de Comunicação (DACOM), onde ele apresenta alguns pontos do ministério ordenado à luz do magistério do papa Francisco e fala, também, sobre sua caminhada episcopal e a realidade da sociedade atual.

“O Papa Francisco, em diversas intervenções, tem pontuado a importância de sermos uma Igreja mais missionária, uma Igreja em saída, uma Igreja com coragem de ir ao encontro das pessoas. Neste sentido, esse é o mesmo registro que o Papa tem para os ministros ordenados”, afirma o bispo.

Palavra do Papa

Dom João Justino conta que o pontífice parte sempre da própria experiência de Jesus e que sua palavra é recebida positivamente. “Nós o escutamos pregar, ele parte sempre da palavra de Deus. No entanto, ele acentua mais essa dimensão missionária. Até na linha do que foi a experiência é o texto, para nós, do documento de Aparecida. E naturalmente muitos ficam bastante animados com esse vigor do Papa Francisco, mas também, alguns se setem incomodados ou ainda não compreenderam, com bastante profundidade, o que significa essa insistência e essa necessidade para a Igreja, para ser fiel a Jesus Cristo e ser, de fato, uma Igreja discípula e missionária”, explica o bispo.

Segundo ele, a influência da cultura contemporânea também reflete neste processo de compreensão. “Eu compreendo que a cultura contemporânea tem muita influência. Nós estamos imersos em uma cultura que é muito marcada por aqueles elementos identificados pelo papa emérito Bento XVI, uma cultura marcada pelo relativismo, pelo subjetivismo, pelo individualismo. Características que são dificultadoras para compreender que nosso ministério ordenado deve ser vivido na perspectiva missionária, sair de se mesmo. Há um modelo de sociedade, que insiste muito, eu observo, na autorealização, no conforto e isso está muito presente na sociedade. Infelizmente os discípulos são atingidos por essas mensagens. O que pode acontecer que estejamos em alguns momentos mais propensos a fazer a chamada pastoral da manutenção, que é fazer aquilo que a gente sempre fez e haver pouca disposição para uma pastoral que se dispõem a sair, a ir ao encontro”, ressalta dom João Justino.

Caminhada episcopal

Dom João Justino escolheu como lema episcopal “Para dar testemunho da luz”. “Esta palavra me tocou no momento em que fui nomeado bispo para que eu mesmo compreende-se isso. Eu sou um João e vim para dar testemunho da luz. Não sou a luz, a luz é Cristo”, ressalta.

Recém nomeado arcebispo coadjutor de Montes Claros, Dom João Justino avalia sua caminhada de cinco anos na arquidiocese de Belo Horizonte como enriquecedora. “Eu observo que Belo Horizonte me possibilitou uma experiência muito enriquecedora. Eu destacaria, por exemplo, o contato com os padres, na função episcopal. Como bispo auxiliar, eu estabeleci uma relação que eu considero boa, equilibrada com os padres da região episcopal Nossa Senhora da Piedade. É um grupo bastante grande, aproximadamente 150 padres, e eu pude ouvi-los bastante, acompanhar de perto, visitá-los”, lembra.

O bispo conta não conhecer muito da realidade de Montes Claros, sua nova terra de missão, mas afirma que está indo de coração aberto. “Estou indo de coração aberto para conhecer aquela realidade, escutar e conhecer ali quais são os clamores do povo e o que o senhor pedirá de mim”, ressalta dom João Justino.

Questões sociais

Ao pensar nas questões sociais, o bispo diz que em nenhum tempo o presbítero se coloca alheio as questões sociais.  “Se compreendermos que o ministério dele é um ministério que se configura como um serviço a Deus e as pessoas. O modo de servir a Deus aos ministro é servindo a comunidade de fé. Concretamente a comunidade de fé são as pessoas com seus dramas, suas vitórias, suas alegrias, tristezas e lutas. Nisso aparecem questões sociais de cada tempo e o presbítero precisa estar atento para compreender o que está acontecendo e junto com a comunidade ser solidário. Ele não é solidário sozinho, mas ele é chamado a viver essa solidariedade com a comunidade. É verdade que o comportamento do presbítero tem sempre um tom de exemplo, uma vez que o ministro ordenado, o diácono, o presbítero ou bispo são colocados, de algum modo, à frente da comunidade o comportamento deles ganha uma tonalidade de exemplo”, explica

Reforma da Previdência

A reforma da previdência foi outra questão apontada pelo bispo. “O tema da reforma da previdência é um tema do dia, certamente estamos diante de uma situação que exige de todos nós muita atenção. Existem direitos dos trabalhadores que foram conquistados e isso precisa ser bastante preservado. É compreensivo que alguma reforma seja necessária. No entanto, ela precisa ser feita com mais clareza. A dificuldade de termos dados que poderíamos ser, esses são os dados reais, esses são os dados verdadeiros. Tem circulado muito que grandes empresas estão em débito com a previdência. Então, quando nós temos um caixa a ser administrado nós poderíamos dizer assim, há muitos modos de equilibrar, um deles é cortando despesas, parece que é esse o modo que o governo está indo, a direção que ele está tomando, mas não basta cortar despesas, é preciso ver. Há débitos, quem são os nossos devedores? Por que não estão pagando? Se existem de fato essas grandes empresas, isso significaria que é preciso que as coisas fiquem mais claras para a população. Não tem sentido, não é justo, não é ético que os pobres venham pagar a conta. É preciso garantir muita lisura nesse processo. E nesse sentido cria-se uma grande insatisfação e insegurança, pois o clima que estamos vivendo, essa luta contra a corrupção faz-nos pensar que, também aí pode estar havendo interesses escusos da parte de muitos, que se aproveitando da situação não vão ajudar o país”, disse dom João Justino.

O bispo questionou, também, o papel da mídia nesse atual cenário. “As notícias são um tanto seletivas, de acordo com os editoriais dos jornais nós conseguimos enfases as vezes em uma perspectivas mais do que em outra. Nós podemos dizer que esse aspecto mais inteiro da realidade a gente acaba não percebendo e a mídia não contribui, porque faz opções, opções que estão vinculadas aos interesses. Nós pensamos assim, os grandes grupos de comunicadores também estão vinculados à previdência, porque eles também pagam a previdência de seus funcionários. Quando é que ele abrem as suas contas para dizer como estão as suas contas?”, finaliza.