Pe. Daniel Fernandes e Pe. Fabiano Milione juntos na Praça São Pedro, no Vaticano
Na tarde da última quinta-feira, dia 8 de maio, o mundo conheceu o 267º papa da Igreja. Após dois dias de Conclave, os cardeais chegaram a um consenso e escolheram o novo sucessor de São Pedro. O novo Romano Pontífice escolheu o nome de Leão XIV.
O Padre Fabiano Milione Honório está em Roma e participou do momento histórico do anúncio do novo papa e detalha para nós como foi poder participar.
DACOM: Pe. Fabiano, você estava no Vaticano no momento em que a fumaça branca começou a pintar os céus da Sé Apostólica? Como foi esse momento para vocês?
Pe. Fabiano: Padre Daniel Fernandes e eu estávamos na Praça São Pedro desde as 15h com um grupo de padres aqui do Colégio Pio Brasileiro. Debaixo de sol forte nos mantivemos ali na esperança de que em algum dos escrutínios da tarde o papa seria eleito. Bem, às 18h08 vimos os primeiros sinais da fumaça branca e o sino de San Marco confirmar: o papa estava eleito. Rapidamente a euforia tomou conta da praça que já começava a se encher. Como saímos em horário adiantado de casa, pudemos ficar em um lugar bem à frente da multidão de modo que acompanhamos cada passo desse momento histórico. Impossível não se emocionar nesse momento, impossível conter o grito de alegria na garganta e não se unir à multidão que gritava “viva il papa”, impossível conter as lágrimas pelo sucessor de Pedro.
Pe. Fabiano Milione na Praça São Pedro, no Vaticano, ladeado por uma multidão.
DACOM: Como foi poder participar do histórico momento do anúncio do novo Papa? Qual foi sua primeira atitude/impressão?
Pe. Fabiano: Foi um momento de profunda emoção e esperança. Como foi lindo ver aquela praça cheia de fiéis, jovens, padres, consagradas que cantavam, rezavam durante a espera pela fumaça branca. Sou grato a Deus por ter me concedido essa oportunidade de ter vivido um momento tão especial para a Igreja. Na ocasião ficamos ansiosos por dois momentos: a espera pela fumaça branca e depois a espera pelo anúncio do novo papa. Os olhos não se cansavam de vigiar o balcão central da Basílica de São Pedro, a famosa varandinha onde aparece o papa, até os primeiros sinais de movimentação. Quando o cardeal proto-diácono pronunciou o “habemus papam”, todos nós, em peso, começamos a gritar de alegria e a aplaudir o anúncio. Depois de uma pausa, veio a surpresa do nome do eleito. Ao ser pronunciado o nome do cardeal eleito, um grande silencio surgiu na praça – imagino que estávamos todos pensando: quem é esse? A euforia e alegria nos impedia de pensar – mas, quando foi anunciado o nome escolhido pelo novo pontífice, os gritos de alegria retornaram. Rapidamente começamos a gritar “viva il papa Leone”. Depois que a adrenalina passou um pouco, cheguei a comentar com Pe. Daniel que parecíamos estar em uma cena de filme, pois aquele momento que antes tínhamos acompanhado pela televisão, agora estava acontecendo ao nosso redor.
Momento em que, da chaminé, sai a fumaça branca indicando-nos “habemus papam”.
DACOM: Porque que um momento desse mexe tanto com os católicos e até não católicos?
Pe. Fabiano: Eu também fiquei me perguntando por isso. Como pode em pleno século XXI, a era digital, o mundo inteiro parar e fixar o olhar para uma chaminé? Certamente tudo isso é muito simbólico, o papa, além de ser o pastor universal da Igreja Católica, é um sinal para o mundo inteiro da presença de Cristo na terra. Na homilia da missa pela eleição do papa, o Cardeal Ré disse algo muito marcante: “A eleição do novo Papa não é uma simples sucessão de pessoas, mas é sempre o Apóstolo Pedro que retorna”.
Como o papa Leão XIV mesmo ressaltou em seu primeiro discurso, o papa é um sinal de comunhão, um sinal de amor e de paz em meio a um tempo tão ferido como o que vivemos. Por isso leio tudo isso na ótica da esperança de que Deus enviou o papa de quem a Igreja precisa nesse momento da história.
DACOM: O que pode nos indicar a escolha do nome Leão XIV?
Pe. Fabiano: Sabemos que a escolha do nome de um papa não é algo aleatório, mas sempre visto como uma homenagem a um antecessor, um sinal de continuidade ou até mesmo um projeto de vida. Essa pergunta, penso eu, se desvelará aos poucos com o seu ministério. A partir do momento em que vivemos e a partir de seu primeiro discurso, penso que esse nome tem uma forte ligação com o seu predecessor Leão XIII, que, dentre outras ações, foi um grande defensor da doutrina social da Igreja com a primeira encíclica social a “Rerum Novarum” (1891). Leão XIII foi o primeiro papa a ser filmado e gravado e se empenhou no diálogo com o mundo moderno e das ciências. Enfim, podemos esperar do papa Leão XIV, uma figura que está alerta às necessidades da Igreja atual e disposta a dialogar com o mundo.
DACOM: O Papa Leão XIV dará continuidade aos trabalhos iniciados por Francisco?
Pe. Fabiano: Três situações em seu discurso me levam a pensar que sim. Primeiro foi a forte insistência na busca pela paz. Várias vezes ele citou o dom da paz do Ressuscitado e a necessidade dessa paz no mundo. Ainda está em nossos ouvidos o forte clamor do Papa Francisco pela paz em relação aos conflitos mundiais que infelizmente ainda estamos vivendo. Clamor esse que o recém-eleito fez memória em seu discurso. Em segundo lugar, Papa Leão XIV citou a necessidade de uma Igreja sinodal, em sintonia com os esforços de Francisco nos últimos anos, principalmente no último sínodo. Por fim, o que também destaco, como terceira situação, foi a palavra, em espanhol, dirigida à sua diocese no Peru: isso indica uma afinidade com a eclesiologia da América Latina na esteira de Francisco.
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Fotografias: Pe. Fabiano Milione Honório