quinta-feira

, 18 de abril de 2024

Faculdade Dom Luciano entrevista a coordenadora do curso de História da Arte Sacra

30 de setembro de 2019 Arquidiocese

Dedicando-se à organização de mais uma turma do curso de especialização em História da Arte Sacra, a Faculdade Dom Luciano Mendes realizou uma breve entrevista com a idealizadora e coordenadora do curso, e inegavelmente um dos maiores expoentes desta área, no Brasil. As perguntas oferecem a oportunidade de conhecer, resumidamente, o itinerário acadêmico da entrevistada, bem como o perfil do curso, sua importância e atualidade.

Hoje a senhora possui uma longa trajetória na área da História da Arte, tendo escrito vários livros sobre o assunto, conquistado o doutorado e pós-doutorado e sendo professora titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mas quando e como começou a ter interesse nessa área?

Profª. Myriam: Meu interesse na área se firmou nos cursos da Universidade Católica de Louvain, na  Bélgica, onde fiz graduação em Arqueologia e História da Arte, entre os anos de 1965 e 1972.  Segundo o sistema francês, a formação em História da Arte dava-se em um “Instituto Superior” juntamente com a arqueologia, mas já no primeiro ano o aluno fazia a opção por uma das duas áreas e cursava apenas as disciplinas específicas da mesma.

Nesses três anos cursei um total de vinte e seis disciplinas, incluindo, tanto as áreas específicas da arquitetura, escultura, pintura e artes decorativas da pré-história à época contemporânea, quanto os setores conexos ligados à teoria da arte (estética e filosofia da arte), iconologia, análise técnica das obras, conservação de monumentos e museologia. Esta formação me preparou para o exercício profissional, tanto nos setores do ensino e pesquisa, quanto nas áreas mais práticas do trabalho em museus e órgãos de conservação do patrimônio, curadoria de exposições e outras.

Minha dissertação de mestrado foi sobre os Passos do Aleijadinho em Congonhas, obra que conhecia bem por se situar próxima a Entre Rios de Minas, cidade de minha família paterna.  Posteriormente o doutorado teve como tema “O rococó religioso em Minas Gerais” com o intuito de demonstrar as diferenças marcantes entre este estilo que vigorou em Minas a partir de 1760 e o barroco precedente.

Em entrevista ao site da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), a Profª. Dra. Helena Cunha de Uzeda, da Escola de Museologia, disse que a senhora é a professora que mais entende de Aleijadinho no Brasil. Qual a importância do trabalho dele em nosso país, principalmente na região em que a Arquidiocese está?

Profª. Myriam: O Aleijadinho é sem dúvida o artista de maior relevância no cenário da arte brasileira da época colonial. E também o de maior abrangência, já que foi simultaneamente arquiteto, ornamentista sacro e escultor de imagens. É preciso lembrar que o conjunto dos Profetas e Passos de Congonhas obteve o título de Patrimônio Mundial pela UNESCO, no ano de 1985. Praticamente toda a sua obra se situa nos limites da antiga Arquidiocese de Mariana, fundada em 1745, incluindo também as  atuais cidades de Ouro Preto  também Patrimônio Mundial (1980), Mariana, Congonhas, Sabará e São João del Rei.

Além da publicação “O Aleijadinho e o Santuário de Congonhas”, a senhora também publicou um livro específico sobre os passos de Congonhas e guias sobre Barroco e rococó nas igrejas de Ouro Preto e Mariana. Sendo reconhecida a importância histórica desta arte, como podemos descrever a importância religiosa? Este tipo de arte também narra a história da Igreja?

Profª. Myriam: Além dos livros sobre o Aleijadinho, feitos no âmbito de meu trabalho no IPHAN, elaborei também uma obra de referência, O rococó religioso no Brasil (2003) em parte tradução da minha tese de doutorado na Universidade de Louvain, e destinado especificamente aos estudantes das universidades de Minas Gerais (UFMG) e Rio de Janeiro (UFRJ) onde lecionei por mais de 30 anos.

Em época mais recente elaborei guias  de visitação às  igrejas históricas de Ouro Preto, Mariana, São João del Rei, Tiradentes, Congonhas, Sabará e Caeté, entre as mais  importantes no Estado de Minas Gerais.   Esses guias são destinados ao público em geral, e neles os aspectos religiosos e artísticos se entrelaçam, já que a mensagem religiosa é parte integrante da imagem artística.

A senhora diria que, pelo curso ser realizado em um local com amplo patrimônio histórico e artístico, que inclui a chance de se vislumbrar arte sacra por todos os lados, os alunos serão privilegiados?

Profª. Myriam: Sem dúvida e por esta razão o curso inclui também aulas práticas nas próprias igrejas de Mariana e Ouro Preto e excursões às cidades próximas, notadamente Congonhas, São João del Rei e Tiradentes.

Em que os alunos podem aplicar os conhecimentos adquiridos nesta especialização?

Profª. Myriam: Além do ensino e pesquisa em órgãos universitários e até mesmo no ensino médio, a especialização em arte sacra habilita ao trabalho em museus e órgãos de preservação do patrimônio tanto nas esferas federal, estadual e municipal. Outros aspectos importantes são a curadoria de exposições e a organização de eventos.

 

Agenda