Uma oportunidade surgiu para as pessoas que perderam suas casas, estabelecimentos e plantações em novembro de 2015, na tragédia do rompimento da Barragem de Fundão. Todas as quintas-feiras, das 17h às 22h, os ex-moradores dos locais atingidos vão vender seus produtos em uma Feira Noturna, inaugurada na Praça dos Ferroviários, em Mariana. O projeto é uma iniciativa dos atingidos, com o apoio da Arquidiocese de Mariana, do Ministério Público e da Prefeitura da cidade e tem o intuito de gerar empregos e fazer circular renda entre os moradores de Mariana.
Antes de perder o que possuía em Bento Rodrigues, Sandra Quintão vendia suas coxinhas em seu restaurante. Em Mariana, quando estava no hotel aguardando ser transferida para uma casa, utilizou a cozinha para recomeçar a produção, que a ajuda a lutar pelo sonho de ter o seu novo restaurante. Há um pouco mais de um ano, Sandra vende suas coxinhas na feira que ocorre ao lado do Centro de Convenções todo sábado e quinta-feira passada (6) foi a vez de estrear na Feira Noturna.
Desde 2000, Waldir Pollack vende seus legumes e verduras plantados na horta de sua casa, que fica em Paracatu de Baixo. A lama que chegou lá o impediu de dormir em casa por um tempo, mas não o fez desistir da plantação. Para ele, a Feira Noturna pode ser a oportunidade inicial para pessoas que pararam de vender ou que nunca começaram. “Isso aqui tira as pessoas um pouco de casa, da frente da tv, do celular, da internet. Tem os brinquedos, os meninos vão vir ficar aqui, brincar. E as pessoas que foram atingidas vão ter um pouco de renda”, afirma Waldir ao se referir aos brinquedos e atividades recreativas, que acompanham a Feira Noturna com a ideia de gerar um espaço de convivência e lazer.
Segundo Milton Sena, a maior parte dos atingidos vai participar do “Bancão”, uma barraca onde as pessoas podem trazer o que tiver “O pessoal da roça mesmo não está produzindo porque estão aqui na cidade, então no Bancão a pessoa que plantou uma horta e tem quatro pés de alface ou uma dúzia de ovos pode trazer. O pessoal de Paracatu vai mandar queijo, quando não vai mandar queijo, vai mandar quitanda ou artesanato em couro. E enquanto eles não podem vir para cá, eu vou colocando no bancão e a vendas deles saem através do bancão”, explica. Alguns moradores de Mariana também aproveitaram para começar a venda dos seus produtos, segundo Milton a maioria dos selecionados são de baixa renda.
Outro vendedor da Feira é José do Nascimento de Jesus, mais conhecido como Zezinho do Bento, que perdeu sua loja em que vendia biscoitos e artesanatos fabricados pelos seus parentes de São Thiago, cidade próxima a São João Del Rey. “Continuo vendendo, senão a cabeça fica vazia. Eu vendo aqui na barraca que está inaugurando hoje, vendo todo sábado de manhã próximo a prefeitura e vendo como ambulante na rua também”. Na barraca ao lado, a esposa de Zezinho, Maria Irene de Deus, fica encarregada da venda dos artesanatos. “Continuei vendendo como ambulante junto com o Zezinho, na venda dos biscoitos. Agora já que veio as barracas, eu estou aproveitando a oportunidade e colocando aqui. Se Deus me der vida e saúde pretendo vir toda quinta”, diz.