segunda-feira

, 21 de abril de 2025

Francisco, o Misericordioso

21 de abril de 2025 Arquidiocese

Francisco foi o 266º pontífice da história da Igreja Católica, um papa que marcou profundamente o seu tempo e o coração dos fiéis. No Domingo de Páscoa, dia 20 de abril de 2025, ele protagonizou sua última aparição pública como líder da Igreja. Como é tradição, surgiu na sacada central da imponente Basílica de São Pedro, no Vaticano, de onde proferiu a bênção Urbi et Orbi, dirigida simultaneamente à cidade de Roma e a todo o mundo. Esse momento, carregado de simbolismo e emoção, foi acompanhado por milhares de fiéis e espectadores em todo o planeta.

Após o pronunciamento, o Papa Francisco surpreendeu os presentes ao fazer um gesto inesperado e profundamente significativo: percorreu a Praça de São Pedro a bordo de seu papamóvel. A presença próxima aos fiéis, característica marcante de seu pontificado, mais uma vez se manifestou com força. Ele circulou pela praça por alguns minutos, sorrindo, acenando e, com ternura, abençoando crianças e bebês que eram erguidos entre a multidão. Como sempre, estava cercado por seguranças, mas sua atitude revelava uma confiança na fé e uma abertura ao encontro humano que sempre o definiram.

Desde o início de seu pontificado, Francisco demonstrou um compromisso profundo com as periferias — tanto físicas quanto simbólicas. Não se limitou apenas às regiões afastadas geograficamente, mas voltou seu olhar sensível às chamadas “periferias existenciais”: as realidades de dor, exclusão, pobreza e sofrimento humano. Ele desejou que essas vozes silenciadas encontrassem lugar no centro da vida da Igreja e nas grandes discussões sociais do nosso tempo. Para Francisco, evangelizar era também ouvir, acolher e incluir.

Foi também um líder que enxergou com clareza a íntima conexão entre as crises que afetam o planeta. Para ele, não existia uma crise ambiental separada de uma crise social; ambas faziam parte de uma única e interligada emergência que exigia respostas conjuntas, humanas e espirituais. Ele não apenas falou sobre essas questões com palavras fortes e proféticas, mas também agiu, promovendo debates, publicando encíclicas como Laudato Si’ e tentando influenciar líderes globais na busca por soluções sustentáveis e justas.

Além de tudo isso, Francisco foi um incansável promotor da paz. Em momentos de tensão mundial, buscou exercer um papel ativo nas negociações e nos apelos por cessar fogos, reconciliação e justiça. Nunca se omitiu diante da dor dos povos, nem das injustiças que sangram o mundo. Sua voz, muitas vezes solitária, ecoava como um clamor evangélico por solidariedade, empatia e reconciliação.

Se pudéssemos atribuir a ele um título que resumisse seu legado, talvez o mais apropriado fosse: “Francisco, o Misericordioso”. Esse traço definidor perpassa todas as suas ações e discursos. Foi um verdadeiro reflexo do amor de Deus, especialmente do amor misericordioso, aquele que não condena, mas acolhe, cura e transforma. Sua vida e sua missão foram, do início ao fim, pautadas pelo serviço, pela simplicidade e pela humildade.

Nunca buscou glórias terrenas, prestígio ou poder. Viveu com autenticidade o Evangelho que pregava. Francisco escolheu o caminho do despojamento, aproximando-se dos que sofrem, dos marginalizados, dos esquecidos. Tornou-se um verdadeiro amigo dos pobres, tanto no discurso quanto na prática. Um papa que andou entre o povo e com o povo, que rompeu protocolos para abraçar o ser humano em sua vulnerabilidade.

Assim como temos São Francisco de Assis, símbolo de humildade, paz e comunhão com a criação, agora temos o Francisco de Roma — um novo testemunho de fé viva, coragem profética e compromisso com os valores do Evangelho. Seu legado, certamente, ecoará por muitas gerações, como um farol que continua a iluminar o caminho da Igreja e da humanidade.

Padre Geraldo Trindade
Vigário episcopal do regional Leste da Arquidiocese de Mariana e pároco da Paróquia de Sant’Ana, em Guaraciaba

Foto: Vatican News

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