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Grito dos Excluídos e Excluídas denuncia a desigualdade social, causa da fome e da miséria

12 de setembro de 2023 Arquidiocese

O Grito dos Excluídos e Excluídas, realizado desde 1995 em todo o país no dia 07 de setembro, reuniu cerca de 500 pessoas em Congonhas (MG), na última quinta-feira, 7, Dia da Pátria. Organizado pela Dimensão Sociopolítica da Arquidiocese de Mariana, o Grito fez eco ao tema da Campanha da Fraternidade 2023 com a pergunta “Você tem fome e sede de quê?”.

Concentrados em frente à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, na Praça Sete de Setembro, os manifestantes vindos das cinco regiões pastorais da Arquidiocese de Mariana proferiram palavras de ordem contra os sistemas político e econômico que causam a fome e a exclusão no país.

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Padre Marcelo Santiago é o atual Coordenador da Dimensão Sociopolítica da Arquidiocese de Mariana.

“Gritamos contra o sistema que exclui, degrada e mata; contra este sistema que concentra riqueza e renda nas mãos de uns poucos e impõe a miséria a milhões”, disse o Coordenador Arquidiocesano da Dimensão Sociopolítica, Padre Marcelo Moreira Santiago.

Padre Marcelo também destacou que a população tem sede e fome “de garantia de direitos básicos”, além de inclusão social e econômica. “Temos fome e sede de combate e erradicação da fome, de acesso à terra, teto e trabalho, no campo e na cidade; de políticas públicas; de democracia e soberania popular; de combate à desigualdade social, ao machismo, ao racismo”, frisou.

Para ele, as mudanças desejadas pelo Grito só ocorrerão com a participação popular, que acontece com a união das forças vivas da sociedade, como grupos religiosos, instituições, movimentos populares e partidos políticos.

Manifestação dos movimentos e lideranças

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Várias lideranças usaram a palavra para manifestar seu repúdio a situações de exclusão no país. A Pastoral Afro-brasileira, por exemplo, denunciou o patriarcado e o machismo. “O patriarcado está nas estruturas públicas, privadas e até nos nossos lares. No patriarcado vemos as formas de machismo e racismo que estão sendo incutidas e desenvolvidas em pessoas que estão próximas de nós”, afirmou a bacharel em direito e membro da Pastoral Afro-brasileira, Hellen Margarida Silva. “Não podemos compactuar de forma nenhuma com o patriarcado, com o machismo, nem com o racismo”, acrescentou.  

O Pároco da paróquia Nossa Senhora Mãe da Igreja, em Congonhas, Padre Geraldo Barbosa, fez memória a Dom Luciano Mendes de Almeida, Arcebispo de Mariana e grande incentivador do Grito, falecido em 2006. Padre Geraldo leu um artigo de Dom Luciano publicado, em 2005, no jornal Folha de S. Paulo sobre o Grito dos Excluídos. (Leia o artigo AQUI)

Pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Fernando Cordeiro criticou a CSN e a mineração “que detém 40% do território [do município de Congonhas]”. Já o sindicalista Edilson Pereira lembrou a luta do Sindicato Metabase, de Congonhas, para impedir que as empresas estabeleçam jornada de doze horas de trabalho, além de defender as comunidades “contra o avanço ganancioso das mineradoras”. Segundo explicou, tem aumentado o grau de exploração dos trabalhadores da mineração. “Esse grau de exploração acontece quando se colocam jornadas de trabalho extensas e [quando] os trabalhadores [são] expostos a condições ruins e em ambientes não favoráveis”, sublinhou.

O deputado federal Padre João Carlos (PT) e o deputado estadual Leleco Pimentel (PT) também destacaram a desigualdade social como uma das causas da fome no país e defenderam a participação popular para transformar a realidade.

Caminhada e Missa

Com faixas, cartazes e muito barulho, os manifestantes do Grito desceram a ladeira da Igreja Nossa Senhora da Conceição rumo à colina da Basílica Bom Jesus, misturando-se com a população que participava das comemorações cívicas do Dia da Pátria e também com os romeiros e romeiras que lotaram a cidade para o jubileu do Bom Jesus, aproveitando o feriado.

Diante da Basílica, sob a sombra de uma extensa tenda, os participantes do Grito participaram da missa presidida pelo Arcebispo Metropolitano de Mariana, Dom Airton José dos Santos, e concelebrada por dez padres, além de outros que ficaram na assembleia. 

Durante o ato penitencial, o comentarista listou alguns pecados sociais dos quais se deve pedir perdão, como o descaso e o preconceito com os indígenas e com as pessoas em situação de rua, a falta de água potável, a fome de milhões de pessoas.

O Arcebispo disse que manifestações como a do Grito só têm sentido se forem por causa de Jesus Cristo. “Por que organizamos as coisas na vida, no trabalho? Fazemos passeata e reivindicações. Por que fazemos isso? Se não for por causa de Cristo, perdemos tempo”, observou.

Dom Airton destacou ainda a importância da missa como mistério da fé. “Jesus não faz parte da mesa, porque ele é a mesa. Ele é o cordeiro, a vítima do sacrífico, o altar e o cordeiro”, explicou.

O Arcebispo também fez referência ao tema do Grito dos Excluídos que lembra a Campanha da Fraternidade deste ano. “A Campanha da Fraternidade e este Grito dos Excluídos nos falam sobre o alimento que dá vida. Sabemos que o alimento para nossa vida de fé é Jesus Cristo”, disse. Ele condenou o desperdício de comida no país. “O Brasil é o país que tem o maior lixo do mundo, e o maior lixo é de comida”, afirmou. “Trabalhemos para que todos tenham acesso ao alimento e à água que são direito de todos nós”, concluiu.

Confira outras fotos AQUI

Texto: Pastoral da Comunicação da Paróquia São João Batista, em Viçosa (MG)

Fotos: Pascom Paróquia São João Batista, em Viçosa, e Marcos Siqueira