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, 23 de dezembro de 2024

Aos pés do Senhor Bom Jesus, peregrinos clamam em favor da vida

10 de setembro de 2024 Arquidiocese

Com gritos de “vida em primeiro lugar”, em defesa do Rio Paraopeba, contra a mineração predatória, entre outros, dezenas de pessoas das diversas cidades da Arquidiocese de Mariana participaram do 30° Grito dos Excluídos e Excluídas na manhã do sábado, 7 de setembro.

A manifestação, realizada em Congonhas (MG), reuniu membros das pastorais sociais, Comunidades Eclesiais de Base (Cebs), catequistas, movimentos populares, sindicalistas, autoridades civis e a Folia de Reis Sagrada Família de Acaiaca (MG). Sacerdotes e seminaristas da Arquidiocese também estiveram presentes.

O ato teve início em frente à Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, quando os presentes participaram de momentos de animação e falas sobre o lema do 30º Grito dos Excluídos e Excluídas: “Todas as formas de vida importam. Mas quem se importa?”.

Durante o Grito, peregrinos carregavam cartazes, faixas e bandeiras. Foto: Thalia Gonçalves

Participando pela primeira vez do ato nesta Igreja Particular, a Irmã Passionista Arlene Simões pontua que o lema proposto para 2024 provoca à reflexão sobre a vida como dom de Deus e chama a atenção para o seu cuidado não somente na Igreja, mas também na vivência da sociedade.

“Esta é a forma que a gente tem de manifestar que a gente se importa com a vida: participando do Grito dos Excluídos e Excluídas. Trazendo o nosso grito, juntando as nossas forças, nós mostramos que a vida se importa, sim”, disse a religiosa que é também assessora da Dimensão Sociopolítica na Região Mariana Sul.

Defensor de uma Igreja encarnada na realidade do povo, Padre José Geraldo da Silva, mais conhecido como Padre Juquinha, afirma que o ato, que ocorre anualmente desde 1995, é uma forma de revigorar as forças.

Foto: Thalia Gonçalves

“Nós vivemos no mundo marcado pelo fascismo, com tanta violência, com tanto desprezo aos pobres e, sobretudo, à vida dos nossos irmãos e irmãos encarcerados, que muitas vezes estão deixados de lado. Então, esse Grito, para nós, é um momento de fortalecer a nossa fé, de caminhar junto com o Papa Francisco e lutar, ainda mais, por uma Igreja Libertadora”, frisa Padre Juquinha.

Na ocasião, a juventude da Arquidiocese de Mariana também esteve representada. Para Giovanni Santiago, a participação dos jovens no Grito é essencial, pois é também um espaço de atuação da Pastoral da Juventude (PJ), da qual faz parte Paróquia Santa Efigênia, em Ouro Preto (MG).

“Já tivemos campanhas como a do ‘Enfrentamento ao ciclo de violência contra os Jovens’ e ocupar espaços em que podemos lutar juntos a outras pessoas que também estão nessa luta para com os excluídos é importante”, defende.

Jovens da Pastoral da Juventude (PJ) estiveram presentes no ato. Ao centro, o jovem Giovanni. Foto: Thalia Gonçalves

Comentando sobre o lema de 2024, Giovanni ainda criticou à degradação ambiental e as queimadas que assolam todo país.

“Uma frase que acho muito pertinente dizer é ‘Vidas Negras importam’ e dizer que, sim, vidas negras importam, mas estender a ‘todo tipo de vida importa’. Seja vida animal, humana e da natureza em si, visto que estamos passando por um momento complicado com o avanço das queimadas na nossa região, um verdadeiro crime ambiental que fere inteiramente a vida da fauna e da flora”, argumenta.

Aos pés do Bom Jesus, uma súplica pela vida

Foto: Thalia Gonçalves

Sob o sol quente e o ar seco, devido às queimadas que atingem a região, os peregrinos caminharam cerca de um quilômetro em direção à Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, onde, aos pés do Bom Jesus, elevaram suas preces e súplicas em favor da vida e da Casa Comum.

“Congonhas é o lugar da romaria, é onde está o Bom Jesus. O Bom Jesus é Aquele que acolhe a todos, a começar dos pequenos, dos mais necessitados. Nada mais eloquente do que o amor do Bom Jesus para incluir aqueles que são excluídos e excluídas”, explica o Coordenador Arquidiocesano da Dimensão Sociopolítica, Padre Marcelo Moreira Santiago, o porquê de a cidade dos profetas ter sido escolhida para acolher o ato nesta Igreja Particular.

Comemorando, em 2024, 30 anos de luta e resistência, o Grito dos Excluídos e Excluídas foi desde o princípio abraçado pela Arquidiocese de Mariana. “São 30 anos de caminhada, de resistência, de luta, de fé, de esperança, de mobilização popular e nós queremos dizer que, sim, todas as formas de vida importam, a começar dos mais sofridos e necessitados, da vida humana e da vida do planeta”, recorda Padre Marcelo.

Foto: Thalia Gonçalves

Segundo ele, o lema deste ano também chama a atenção para os danos causados à vida, como a destruição ao meio ambiente, a violência e as desigualdades sociais. Ainda, faz uma súplica, na perspectiva do Evangelho e da cidadania, para o cuidado com a Casa Comum, a dignidade humana e a justiça social, visando uma sociedade do bem-viver.

“Nós queremos também fazer o clamor, um grito forte, para todos aqueles que entendem, infelizmente, que as ‘várias formas de vida não importam, quem se importa?’. Nós nos importamos e queremos que outros mais se importem: segmentos da sociedade, os governos constituídos […]. É na linha das obras de misericórdia, das bem-aventuranças, que nós dizemos, sim, a essa causa [em favor da vida]”, reforça o Coordenador Arquidiocesano da Dimensão Sociopolítica.

Dom Luciano vive na luta do povo!

Foto: Thalia Gonçalves

Com a sua primeira edição realizada durante o pastoreio de Dom Luciano Mendes de Almeida como Arcebispo Metropolitano de Mariana, o nome e a presença do Servo de Deus foram evocados durante o ato.

Com gritos de “Dom Luciano vive na luta do povo!”, os peregrinos recordaram a vida e ministério do doce e bom pastor de Mariana. “Tudo aquilo que ele nos ensinou, graças a Deus, a gente procura reavivar aqui, no Grito dos Excluídos e Excluídas”, disse, emocionado, Padre Juquinha.

“Ele, para nós, é um grande mestre, pois nós, da nossa Arquidiocese de Mariana, fomos muito agraciados por tê-lo conosco durante 18 anos e nós não podemos deixar sua memória morrer. E, aí, o grito, para nós, também tem esse significado da gente reviver a luta de Dom Luciano e colocar em prática tudo aquilo que ele não nos ensinou e participou aqui conosco”, completou o presbítero.

Celebração eucarística

Ato do Grito dos Excluídos foi concluído com a celebração eucarística. Foto: Thalia Gonçalves

Após mais alguns momentos de fala e animação na Praça da Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, os peregrinos do 30º Grito dos Excluídos e Excluídas participaram da santa missa junto aos demais romeiros do 243º Jubileu de Congonhas.

A celebração eucarística foi presidida pelo Arcebispo Metropolitano de Mariana, Dom Airton José dos Santos, e concelebrada pelos demais presbíteros presentes, incluindo o Reitor da Basílica, Monsenhor Nedson Pereira de Assis, e Padre Marcelo Moreira Santiago.

Dom Airton presidiu a missa do Grito. Foto: Thalia Gonçalves

Na homilia, refletindo sobre o evangelho de Mateus (25, 31-46), que retrata as obras de misericórdia, Dom Airton lembrou que tudo está conectado e que o cuidado com a Casa Comum é também cuidar e amar ao próximo.

“Hoje, ouvindo esse trecho do Evangelho que fala do julgamento final, nós temos que nos perguntar: fome, tristeza, desamor, violência, de quem é a culpa disso? Como nós estamos trabalhando para que isso não aconteça? […] Todos nós temos que ter responsabilidade e lutar para que os dias sejam melhores. […] Tudo isto está conectado: a natureza, o ser humano, aquilo que Deus fez a sua imagem e semelhança, que somos nós, a nossa vida. Tudo está ligado uma coisa na outra e tem consequência”, ponderou Dom Airton.

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Texto e fotos: Thalia Gonçalves/Arquidiocese de Mariana

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