Olhando o contexto histórico, à luz da fé, somos capazes de reconhecer que Deus sempre sabe prover o seu Rebanho de Pastores capazes de responder as necessidades de cada época. Faz-nos recordar o Profeta Jeremias: “Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos apascentem com conhecimento e com inteligência.” (Jr 23.3-4).
Eram 13h08. Havia acabado de concluir uma ligação com Eliane, da Secretaria Paroquial e, por isso, o telejornal seguia no modo silencioso. Foi então que, ao voltar os olhos para a tela, vi a fumaça branca começar a se elevar da chaminé da Capela Sistina. Um sinal carregado de significado. A notícia se espalhou com a rapidez de uma centelha: o Conclave havia chegado ao fim. O mundo, num instante, suspendeu a respiração. A Praça de São Pedro, em Roma, se enchia de fiéis em clima de júbilo e expectativa. Enquanto isso, na Sala dos Padres, o Dr. Tiago Santos Oliveira chegava para mais uma sessão de fisioterapia. No entanto, naquele momento, todas as atenções se voltavam para o coração da Igreja. O olhar do mundo repousava na sacada central da Basílica Vaticana.
Logo ressoou a voz solene do Cardeal Proto-Diácono: “Annuntio vobis gaudium magnum; Habemus Papam!”. Anuncio-vos uma grande alegria; temos um Papa! “Eminentissimum ac Reverendissimum Dominum, Dominum Robertum Franciscum, Sanctae Romanae Ecclesiae Cardinali Prevost, qui sibi nomen imposuit Leo XIV”.
Diante da multidão, o novo Sumo Pontífice apareceu sereno, emocionado e firme. Iniciou sua fala com as palavras do Cristo Ressuscitado aos seus discípulos: “Que a paz esteja convosco”. Um gesto simbólico e carregado de esperança: era a Paz do Ressuscitado, que não impõe, mas transforma; que não se impõe pela força, mas pelo amor. Com simplicidade, falou da missão da Igreja, do desejo de caminhar com o Povo de Deus, de mãos dadas, sem medo, em fraternidade. Agradeceu ao Papa Francisco, cuja voz frágil e corajosa ainda ressoava no coração da Igreja, e recordou sua própria caminhada como Bispo em Chiclayo, no Peru, exaltando a fé de um povo simples e generoso que lhe formou o coração pastoral.
Deus nos quer bem. Deus nos ama. O mal não prevalecerá. Caminhemos unidos. O mundo precisa da luz de Cristo. A Humanidade anseia por pontes – de diálogo, de encontro, de comunhão. Ajudem-nos a construí-las”. Com essas palavras, o Papa Leão XIV deu o tom de seu Pontificado: proximidade, escuta, sinodalidade. Fez, então, uma oração à Virgem Maria, pedindo sua intercessão materna para esta nova missão, concedeu sua primeira bênção como papa – a Bênção Urbi et Orbi, do latim, “à cidade [de Roma] e ao mundo, a todo o universo”.
Dom Geraldo Lyrio Rocha, saudoso arcebispo de Mariana, costumava lembrar com sabedoria que o Evangelho de Mateus nos apresenta a entrega da missão de Pedro: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt, 16,18). A ele foram confiadas as chaves do Reino dos Céus e a missão de apascentar as ovelhas do Senhor (cf. Jo 21,15-17). Nesse mesmo espírito, o novo Papa se insere na longa linhagem dos sucessores do Apóstolo Pedro, como sinal visível da unidade da Igreja. Como nos recorda o Catecismo da Igreja Católica: “O Papa, Bispo de Roma e sucessor de São Pedro, é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade, quer dos Bispos quer da multidão dos fiéis. Com efeito, o Pontífice Romano, em virtude do seu múnus de Vigário de Cristo e Pastor de toda a Igreja, possui na Igreja poder pleno, supremo e universal” (CIgC, n. 882).
O Pontificado de Leão XIV nasce da continuidade e do sopro do novo. Sucessor imediato do Papa Francisco, traz consigo não apenas o nome “Francisco” – como segundo nome –, mas também o estilo e a inspiração do Pastor próximo, simples, com cheiro de ovelhas. Não por acaso, Frei Leão foi o amigo mais íntimo de Francisco em Assis, e é com esse espírito de irmandade que o novo Papa deseja caminhar com a Igreja.
Nascido nos Estados Unidos e naturalizado Peruano, o novo Pontífice é um filho de Santo Agostinho – Religioso Agostiniano com o coração Latino-Americano. Sua eleição é também sinal da universalidade da Igreja, da comunhão entre os Povos e da escuta dos clamores que vêm das periferias do mundo. Com ele, ressoa novamente a certeza de que o Espírito Santo guia a Igreja. E de seu primeiro gesto no balcão central, brotou a palavra que reacende a esperança: HABEMUS PAPAM!
Pe. Paulo Dionê Quintão
Pároco e Reitor da Paróquia e Santuário Santa Rita de Cássia, em Viçosa (MG)
Foto: Vatican News