Na Celebração de Ação de Graças pelo Jubileu de Ouro da Ordenação Sacerdotal do Cardeal Dom Raymundo Damasceno Assis, na matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Conselheiro Lafaiete, aos 19 de março de 2018, Dom Geraldo Lyrio Rocha, Arcebispo de Mariana, fez a seguinte homilia:
Elevamos ao Pai nossa ação de graças pelo Jubileu de Ouro de Ordenação Sacerdotal do Eminentíssimo Senhor Cardeal Dom Raymundo Damasceno Assis
Nesta Solenidade de São José, Patrono de toda a Igreja e da Arquidiocese de Mariana que hoje celebramos, ecoam as palavras do Evangelho de Mateus que, ao falar da origem de Jesus, nos diz que “tudo aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor havia dito pelo profeta”. O Evangelho afirma o nascimento virginal de Jesus. O contrato matrimonial entre José e os pais de Maria era um fato, pois ela tinha sido dada em casamento a José. Entretanto, de acordo com os costumes judaicos, a cerimônia do casamento só era considerada completa quando o esposo recebia a esposa em sua casa. Este é o significado da expressão do mensageiro de Deus a José: “não tenhas medo de receber Maria como tua esposa” (cf. Mt 1,20.24).
José é chamado de ‘justo’ porque era considerado observante da Lei de Moisés. A justiça de José estava associada ao seu propósito de não expor sua esposa. Estava em suas mãos a decisão de repudiar o contrato firmado, na presença de testemunhas. Em sonho, José recebe a revelação que lhe é comunicada pelo anjo do Senhor, que lhe anuncia que o menino deverá ser chamado JESUS, que significa o Senhor é salvação. O menino que vai nascer será portador da salvação, pois o povo será salvo de seus pecados e não apenas dos inimigos externos ou dos perigos da natureza.
“Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor havida dito pelo profeta” (Mt 1,22). Mateus nos apresenta esse acontecimento como o cumprimento da profecia de Isaias. O nascimento de uma virgem representa o início da era messiânica da salvação, esperada ao longo do Antigo Testamento. Esta era se inicia com o nascimento de um menino, e Deus se faz presente no meio de seu povo, num modo inteiramente novo.
“Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor havia mandado, e aceitou sua esposa” (Mt 1,24). O evangelista Mateus ao falar da origem de Jesus, afirma que José não é o pai natural de Jesus. O princípio ativo da concepção de Jesus é unicamente o Espírito Santo: “José, filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo” (Mt 1,20), disse o anjo do Senhor.
Amados irmãos e irmãs.
O Senhor não se arrependeu do juramento que fez ao constituir seu Filho Jesus, sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque. Desse sacerdócio, Dom Damasceno foi constituído participante, há 50 anos. A Jesus Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote, de cujo sacerdócio todos nós participamos pelo batismo e, a novo título, os que foram ungidos para o ministério, dirige-se nosso louvor e nossa ação de graças.
Diz o Concílio Vaticano II: “O Senhor Jesus, ‘a quem o Pai santificou e enviou ao mundo’ (Jo 10,36), faz todo o seu corpo místico participar da unção do Espírito pela qual ele foi ungido. Pois nele os fiéis todos tornam-se um sacerdócio santo e régio, oferecem a Deus hóstias espirituais por Jesus Cristo, e anunciam as virtudes daquele que das trevas os chamou para sua luz admirável. Não existe assim membro que não tenha parte na missão de todo o Corpo /…/. O mesmo Senhor porém instituiu como ministros, alguns entre os fiéis, para que estes se unissem num só corpo, em que ‘todos os membros não desempenham a mesma atividade’ (Ro 12,4). Tais ministros deviam assumir o poder sagrado da Ordem, na comunidade dos fiéis, para oferecerem o Sacrifício e perdoarem os pecados, exercendo ainda publicamente o ofício sacerdotal em favor de todos em nome de Cristo.
Ensina-nos, ainda, o Vaticano II: “O sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial ordenam-se um ao outro, embora se diferenciem na essência e não apenas em grau. Pois ambos participam, cada qual a seu modo, do único sacerdócio de Cristo. O sacerdote ministerial, pelo poder sagrado de que goza, forma e rege o povo sacerdotal, realiza o sacrifício eucarístico na pessoa de Cristo e o oferece a Deus em nome de todo o povo” (LG 28).
Louvamos e agradecemos a Deus pelas atividades apostólicas de Dom Damasceno, no exercício do ministério presbiteral: Após sua ordenação, em Conselheiro Lafaiete, aos 19 de março de 1968, o jovem Padre Damasceno assumiu a Paróquia do Santíssimo Sacramento, em Brasília. Ao mesmo tempo, foi-lhe dada a grande incumbência de coordenar a preparação do Congresso Eucarístico Nacional, realizado em Brasília, no ano 1970, por ocasião do 10º aniversário da inauguração da nova Capital da República. Como reconhecimento pelos relevantes serviços prestados no exercício dessa difícil tarefa, foi-lhe concedido o título de Monsenhor, embora contasse com menos de três anos de ordenação sacerdotal. Como presbítero, na Arquidiocese de Brasília, exerceu também as funções de Coordenador Arquidiocesano da Catequese, Chanceler do Arcebispado e Reitor do Seminário maior de Brasília.
Dom Damasceno foi chamado à plenitude do sacerdócio, tendo sido escolhido pelo Papa São João Paulo II, em 1986, para a função de bispo auxiliar de Brasília. Em 2004, foi nomeado arcebispo de Aparecida, onde permaneceu até novembro de 2016, quando o Papa Francisco acolheu sua renúncia ao governo pastoral daquela arquidiocese.
A grande atividade episcopal de Dom Damasceno se entendeu para além dos limites da importante Arquidiocese de Brasília: Ocupou o cargo de secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por dois mandatos. Foi também membro da Comissão Episcopal de Pastoral para a Comunicação, Educação e Cultura. Em 2011, foi eleito presidente da CNBB para o quadriênio 2011–2015.
Pelos dons que Deus lhe concedeu, Dom Damasceno exerceu também importantes funções em nível latino-americano: No Conselho Episcopal para a América Latina (CELAM), Dom Damasceno foi membro do Departamento de Catequese (1987-1991) e secretário-geral (1991 a 1995) Foi também secretário da IV Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, em Santo Domingo, na República Dominicana. Foi também membro do Comitê Econômico do CELAM (1995-1999) e membro da Comissão Episcopal de Comunicação do CELAM (2003-2006), Suplente do Delegado da CNBB junto ao CELAM (2003 a 2006) e Delegado da CNBB à V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho, realizada em Aparecida, em maio de 2007. Em julho de 2007, foi eleito presidente do CELAM, para o quadriênio 2007–2011.
Grande tem sido sua participação em eventos e atividades universais: Participou da 1ª Assembleia especial do Sínodo para a África (1994); para a Vida Consagrada (1994); para a América (1997); da 2ª Assembleia Especial para a África (2009); da Assembleia Especial para o Oriente Médio (2010), da Assembleia Especial (2014) e da Assembleia Ordinária do Sínodo sobre a Família (2015), das quais foi um dos Presidentes delegados, nomeado pelo Papa Francisco.
No dia 20 de outubro de 2010 foi anunciada a sua criação como cardeal pelo Papa Bento XVI e tomou parte no Conclave que elegeu o Papa Francisco.
Caríssimo Dom Damasceno,
Guardo no coração as belas recordações dos bons tempos em que vivemos juntos, em Roma, no Pontifício Colégio Pio Brasileiro. Como irmãos no presbiterado e no episcopado, pudemos viver e compartilhar muitos momentos da vida da Igreja. Sempre apreciei seu testemunho de serviço, sua sincera amizade, seu jeito simples e fraterno, sua facilidade no relacionamento com todos, seu amor e dedicação à Igreja. Deus o conserve! O Senhor o revestiu com a riqueza de seus dons. Olhando para trás, depois de percorrida tão longa caminhada, nesses 50 anos de vida sacerdotal, o querido irmão pode repetir com o Apóstolo Paulo: “Combati o bom combate”! (2Tim 4,7). Com alegria, eleva-se sua ação de graças a Deus que o sustenta na fidelidade ao exercício do ministério que lhe foi confiado.
Recordando o caminho, pontilhando de luz e marcado também por sombras,de momentos de alegria e de tristeza, de júbilo e de sofrimento, de esperança no futuro e de saudades do passado, ao longo destes 50 anos, o dileto irmão certamente tem percebido a presença da mão do Senhor a conduzi-lo. Na intimidade de seu coração, ecoa a voz do Mestre a dizer: “Não mais vos chamo de servos, porque o servo não sabe o que seu amo faz; mas eu vos chamo de amigos, porque tudo o que ouvi do Pai eu vos dei a conhecer” (Jo 15, 15).
Caríssimos irmãos e irmãs,
Partindo o Pão da Vida e erguendo o Cálice da Salvação, nesta Eucaristia que celebramos, invocamos o nome do Senhor, com o coração agradecido pelo dom do sacerdócio concedido à Igreja e há 50 anos confiado ao Senhor Cardeal Dom Raymundo Damasceno Assis. Ergue-se nosso louvor, acompanhado de nossa ação de graças, pois, pela unção do Espírito Santo, o Pai constituiu seu Filho Jesus, Pontífice da nova e eterna aliança e, com inefável bondade, escolheu Dom Damasceno e lhe confiou o sagrado ministério. Por essa razão, celebrando seu Jubileu de Ouro de Ordenação Sacerdotal, com o salmista, proclamamos jubilosos: “Senhor, quero cantar eternamente o vosso amor e vossa fidelidade de geração em geração” (Sl 88,2). AMÉM!
Foto: Fato Real