Por ocasião da Missa do Crisma, Celebração da Unidade, na igreja de São Pedro dos Clérigos, em Mariana, Dom Geraldo Lyrio Rocha fez a seguinte homilia:
Esta Missa da Unidade está emoldurada pelo Ano do Laicato que celebramos em todo Brasil. Como já tive oportunidade de expressar, depois de celebrarmos, na Arquidiocese de Mariana, o Ano da Vocação Sacerdotal, celebramos, com toda a Igreja no Brasil, o Ano do Laicato. Esta coincidência nos permite aprofundar o que diz o Concílio Vaticano II, na Constituição Dogmática sobre a Igreja: “O sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial, embora se diferenciem essencialmente, e não apenas em grau, ordenam-se um ao outro; pois um e outro participam, a seu modo, do único sacerdócio de Cristo. Com efeito, o sacerdote ministerial, pelo seu poder sagrado, forma e conduz o povo sacerdotal, realiza o sacrifício eucarístico fazendo as vezes de Cristo, e o oferece a Deus em nome de todo o povo; os fiéis concorrem para a oblação da Eucaristia em virtude do seu sacerdócio real, que exercem na recepção dos sacramentos, na oração e ação de graças, no testemunho da santidade de vida, na abnegação e na caridade operosa” (cf. LG 10).
Ao sacerdócio de Cristo corresponde pois o sacerdócio comum dos cristãos, chamados a aproximar-se de Deus e apresentar-lhe a oferta espiritual, com a transformação de todas as circunstâncias da vida, pela prática da justiça e da caridade. Isto se dá na medida em que cada cristão faz sua a missão do próprio Cristo Jesus que se aplica a si mesmo as palavras do Profeta Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação dos cativos; e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor” (Lc 4, 18-19).
O Concílio Vaticano II nos ensina que o Senhor Jesus, ‘a quem o Pai santificou e enviou ao mundo’ (Jo 10,36), faz todo o seu corpo místico participar da unção do Espírito pela qual ele foi ungido. Pois nele os fiéis todos se tornam um sacerdócio santo e régio, oferecem a Deus hóstias espirituais por Jesus Cristo, e anunciam as virtudes daquele que das trevas os chamou para sua luz admirável. Não existe assim membro que não tenha parte na missão de todo o Corpo /…/. O mesmo Senhor, porém instituiu como ministros, alguns entre os fiéis, para que estes se unissem num só corpo, em que ‘todos os membros não desempenham a mesma atividade’ (Rm 12,4). Tais ministros deviam assumir o poder sagrado da Ordem, na comunidade dos fiéis, para oferecerem o Sacrifício e perdoarem os pecados, exercendo ainda publicamente o ofício sacerdotal em favor de todos em nome de Cristo.
O sacerdócio confiado aos ministros ordenados está, pois, a serviço do sacerdócio de Cristo e a serviço do sacerdócio dos fiéis. Sem a relação com o sacerdócio batismal, o sacerdócio ministerial perderia seu sentido. Porém, o sacerdócio ministerial é indispensável porque sem ele, o sacerdócio comum dos fiéis não teria como chegar à sua máxima expressão, especialmente no mistério da Eucaristia.
Irmãos e irmãs, a celebração da Missa do Crisma (ou da Unidade) exalta o Sacerdócio de Jesus Cristo, o Ungido do Pai, ao mesmo tempo que recorda nossa participação no Sacerdócio de Jesus, pela graça do Batismo, e a associação ao seu ministério pastoral pelo sacramento da Ordem. Acabamos de ouvir na primeira leitura, tirada do livro do Apocalipse: “A Jesus que nos ama, que por seu sangue nos libertou dos pecados e que fez de nós um reino, sacerdotes para seu Deus e Pai, a ele a glória e o poder, em eternidade” (Ap 1, 5-6). Somos “a raça eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo de sua particular propriedade” conforme nos diz a Primeira Carta de Pedro (1Pe 1, 9).
Esta realidade eclesial tão sublime se expressa nesta celebração que revela o mistério da Igreja. Aqui se visibiliza a Igreja Particular de Mariana, “que manifesta a Igreja una, santa, católica e apostólica, unida ao seu Pastor e reunida pelo Espírito Santo, pelo Evangelho e pela Eucaristia, sendo assim, representação da universalidade do povo de Deus, que busca ser no mundo o sinal e o instrumento da presença de Cristo” (CD 11).
Nesta celebração, com alegria e disponibilidade, os presbíteros renovam suas promessas sacerdotais. Agradeçamos ao Pai que, pelo dom do Espírito, através do sacramento da ordem, nos concedeu a graça de sermos sinais e instrumentos de Cristo Mediador, fazendo de nós seus ministros e embaixadores para que assim todos cheguem à unidade da fé, na comunhão visível da Igreja, Povo de Deus, Corpo de Cristo e Templo do Espírito Santo. Amém!