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Homilia de Dom Geraldo na Solenidade de Corpus Christi

16 de junho de 2017 Arquidiocese

Na Solenidade de Corpus Christi (15), em Mariana, Dom Geraldo Lyrio Rocha proferiu a seguinte homilia:

Esta Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, no Brasil, vem emoldurada pela celebração do Ano Mariano que marca o tricentenário do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida, nas águas do Rio Paraíba do Sul. Esse evento está sendo celebrado com a peregrinação da imagem da Padroeira do Brasil que tem percorrido as paróquias da Arquidiocese de Mariana e hoje se encontra aqui entre nós, em sua visita a esta Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, de onde irá depois para a Paróquia da Catedral. A peregrinação desta venerável imagem se concluirá no próximo dia 25, na igreja de Nossa Senhora Aparecida, no Bairro das Cabanas, em Mariana, onde será instalada a primeira paróquia de nossa Arquidiocese dedicada à Padroeira do Brasil.

Estamos comemorando, também, os 250 anos do início, na Serra da Piedade, da devoção à Padroeira do Estado de Minas Gerais. Não podemos nos esquecer que, neste ano, celebramos também o centenário das aparições de Nossa Senhora de Fátima aos três pastorinhos, na Cova da Iria.

Estes motivos marianos nos convidam a contemplar na fé os vínculos misteriosos entre Maria e a Eucaristia:São João Paulo II em sua Encíclica sobre a Eucaristia na sua relação com a Igreja, nos diz que “não podemos esquecer Maria porque ela tem uma relação profunda com o santíssimo sacramento. “Maria está presente, com a Igreja e como Mãe da Igreja, em cada uma das celebrações eucarísticas.Se Igreja e Eucaristia são um binômio indivisível, o mesmo é preciso afirmar do binômio Maria e Eucaristia” (EE 57).

Seguindo os passos de Maria, vamos percebendo sua relação com a Eucaristia. Já na anunciação se encontra uma analogia profunda entre o “sim” pronunciado por Maria e o “amém” que o fiel diz ao receber o Corpo de Senhor, na sagrada comunhão. A atitude que une o fiel a Maria é a fé, pela qual Maria acreditou no mistério da encarnação, antecipando a fé eucarística da Igreja. Assim, diz São João Paulo II: “A Maria foi-lhe pedido para acreditar que aquele que ela concebia «por obra do Espírito Santo» era o «Filho de Deus» (cf. Lc1, 30-35). Dando continuidade à fé da Virgem Santa, no mistério eucarístico nos é pedido para crer que aquele mesmo Jesus, Filho de Deus e Filho de Maria, se torna presente nos sinais do pão e do vinho com todo o seu ser humano-divino” (EE, 55).

A visita de Maria a Isabel nos permite vislumbrar seu sentido “eucarístico”. No paralelismo com o transporte da arca da aliança, o evangelista Lucas quer transmitir a convicção que Maria é a arca da nova aliança, o lugar incorruptível da presença do Senhor. A encíclica de São João Paulo II, já mencionada, lê de modo sugestivo o dado bíblico como antecipação do que acontecerá com a Eucaristia. “Na visitação, quando Maria leva em seu ventre o Verbo Encarnado, de certo modo ela serve de «sacrário» – o primeiro «sacrário» da história –, para o Filho de Deus, que, ainda invisível aos olhos dos homens, se presta à adoração de Isabel, como que «irradiando» a sua luz através dos olhos e da voz de Maria” (EE 55).

Relendo, em perspectiva eucarística,o Magnificat cantado por Maria em sua visita a Isabel nos permite descobrir que “na Eucaristia, a Igreja une-se plenamente a Cristo e ao seu sacrifício, com o mesmo espírito de Maria. De fato, como o cântico de Maria, a Eucaristia é primeiramente louvor e ação de graças. Quando exclama: «A minha alma glorifica ao Senhor e o meu espírito exulta de alegria em Deus meu Salvador», Maria traz no seu ventre Jesus. Louva o Pai «por» Jesus, mas louva-o também «em» Jesus e «com» Jesus. É nisto precisamente que consiste a verdadeira «atitude eucarística», (EE 58).

Na infância de Jesus, Maria oferece duas atitudes indispensáveis a uma participação na Eucaristia: o amor e a oferta do sacrifício. Em Belém, a Mãe se revela incomparável modelo de amor quando contempla, com olhar arrebatado, a face de Cristo apenas nascido e o envolve com seus braços. “Ao longo de toda a sua existência ao lado de Cristo, e não apenas no Calvário, Maria viveu a dimensão sacrifical da Eucaristia. Quando levou o menino Jesus ao templo de Jerusalém, «para apresentá-lo ao Senhor» (Lc 2, 22), ouviu o velho Simeão anunciar que aquele Menino seria «sinal de contradição» e que uma «espada» haveria de traspassar também a sua alma(cf. Lc2, 34-35). Assim foi vaticinado o drama do Filho crucificado e de algum modo prefigurado o «stabatMater» aos pés da Cruz. Preparando-se dia a dia para o Calvário, Maria vive uma espécie de «Eucaristia antecipada», dir-se-ia uma «comunhão espiritual» de desejo e oferta, que terá o seu cumprimento na união com o Filho durante a Paixão” (EE 56).

O vértice da participação de Maria no mistério pascal, do qual a Eucaristia é o memorial, é a experiência desse mistério da parte da Santíssima Virgem. Para nós cristãos, viver o memorial da morte de Cristo na Eucaristia implica também receber continuamente este dom. Significa levar conosco – a exemplo de João – aquela que sempre de novo nos é dada como Mãe. Significa ao mesmo tempo assumir o compromisso de nos conformarmos com Cristo, entrando na escola da Mãe e aceitando a sua companhia (EE 57).

Mais uma vez, iluminadoras são as palavras de São João Paulo II: “Se a Eucaristia é um mistério de fé que excede tanto a nossa inteligência que nos obriga ao mais puro abandono à palavra de Deus, ninguém melhor do que Maria pode servir-nos de apoio e guia nesta atitude de entrega. Todas as vezes que repetimos o gesto de Cristo na Última Ceia, dando cumprimento ao seu mandato, (Fazei isto em memória de Mim), ao mesmo tempo acolhemos o convite que Maria nos faz para obedecermos a seu Filho sem hesitação: «Fazei o que ele vos disser» (Jo 2, 5). Com a solicitude materna manifestada nas bodas de Caná, ela parece dizer-nos: «Não hesiteis, confiai na palavra do meu Filho. Se ele pôde mudar a água em vinho, também ele é capaz de fazer do pão e do vinho o seu corpo e sangue, entregando-nos, neste mistério, o memorial vivo da sua Páscoa e tornando-se assim o “pão da vida” (EE 54)».

Um belo hino nos leva a cantar estas maravilhas realizadas por Deus na história da salvação:

 

Vamos todos louvar juntos

o mistério do amor,

pois o preço deste mundo

foi o sangue redentor,

recebido de Maria,

que nos deu o Salvador.

 

Veio ao mundo por Maria,

foi por nós que ele nasceu.

Ensinou sua doutrina,

com os homens conviveu.

No final de sua vida,

umpresente ele nos deu. Isto é, o pão da vida e o cálice da salvação que ele nos oferece na Eucaristia, sacramento do Sacrifício da Cruz. Amém!