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Igreja São Francisco de Assis, em Mariana, é reaberta após 14 anos

03 de outubro de 2023 Arquidiocese

Foto: Nelson Kon/Acervo Instituto Pedra

Símbolo do barroco brasileiro e berço da espiritualidade franciscana em Mariana (MG), aconteceu na última quinta-feira, 28 de setembro, a cerimônia civil de entrega das obras de restauração da Igreja de São Francisco de Assis na primeira vila, cidade e sede de bispado de Minas Gerais. Na mesma solenidade, também foram entregues as obras da Casa do Conde Assumar e a inauguração do Museu da Cidade de Mariana.

O templo religioso, pertencente à Paróquia Nossa Senhora da Assunção (Catedral da Arquidiocese), esteve fechado por 14 anos. A partir de 2019, trabalhos de restauração dos elementos estruturais e artísticos foram realizados na Igreja que, agora, é entregue à população e aos fiéis completamente restaurada.

Foto: Pedro Henrique Hudson

“Estamos vendo essa igreja em seu máximo esplendor, porque eu acho que ela nunca esteve restaurada de uma forma tão completa, envolvendo as questões estruturais, que eram problemáticas, mas toda a parte artística”, disse Jurema Machado, representante do Instituto Pedra, órgão que conduziu tecnicamente os trabalhos realizados. Segundo ela, as discussões sobre projeto iniciaram-se em 2016, ainda no governo Dilma Rousseff, com o projeto Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Histórica.

À ocasião, o Arcebispo Metropolitano, Dom Airton José dos Santos, o Pároco e Reitor da Catedral, Padre Geraldo Dias Buziani, e demais sacerdotes do Clero Marianense participaram do ato solene. Além disso, o evento contou com a presença de autoridades do Governo de Minas, Prefeitura e Câmara de Mariana, bem como de outras cidades mineiras, do Governo Federal, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e demais instituições parceiras. O destaque da cerimônia foi a presença da Ministra da Cultura, Margareth Menezes.

Foto: Pedro Henrique Hudson

Importância artística e histórica

A construção da Igreja São Francisco de Assis foi autorizada pelo primeiro bispo de Mariana, Dom Frei Manoel da Cruz, e ocorrida entre 1762 e 1794. No templo, que preserva características do período colonial, grandes artistas trabalharam em sua construção como José Pereira Arouca, Manuel Costa Ataíde, Francisco Vieira Servas e Francisco Xavier Carneiro.

“A Igreja de São Francisco de Assis de Mariana, merece um olhar atencioso não só pela beleza artística de sua arquitetura, de seus retábulos, de suas pinturas, adornos e imaginária, mas pela devoção dos Irmãos Franciscanos que a ergueram para louvar e agradecer a Deus os dons que a todos nos concede, sob o patrocínio de São Francisco”, disse Dom Airton em seu pronunciamento durante a cerimônia.

Foto: Thalia Gonçalves

Recordando a beleza e importância artística do templo, o Arcebispo ainda pontuou que “na minúcia de cada detalhe, no corte da madeira e da pedra, deve ser enxergada a beleza de Deus comunicada aos homens. A contemplação do belo nos aproxima do sagrado e, aqui, a beleza está em toda parte. Os artistas de ontem, hoje tão renomados, e os artífices e restauradores de hoje são homenageados e assim devem se sentir, em cada olhar admirado do fiel, do peregrino, do visitante, do turista”.

Dom Airton discursou durante o evento e lembrou às contribuições de Dom Geraldo para a preservação do patrimônio religioso, histórico e cultural da Arquidiocese. Foto: Thalia Gonçalves

Em sua fala, Dom Airton agradeceu as entidades parceiras envolvidas no trabalho de restauração e, de modo especial, a Dom Geraldo Lyrio Rocha. “Meu primeiro agradecimento é póstumo. Com carinho e respeito, agradeço o grande esforço empreendido por meu antecessor, Dom Geraldo Lyrio Rocha, por seu trabalho incansável na proteção, cuidado e dedicação para com o patrimônio religioso, cultural, artístico e histórico desta quase tricentenária Igreja Particular”, expressou, solicitando aos presentes que realizassem um minuto de silêncio em homenagem ao prelado.

Patrimônio do povo

Leandro Grass, presidente do Iphan. Foto: Thalia Gonçalves

Durante a cerimônia, o presidente do Iphan, Leandro Grass, utilizou do seu momento de fala para enfatizar que mais do que um templo religioso, a Igreja de São Francisco de Assis é um espaço que conta a história do povo de Mariana e de Minas Gerais. “Tive a oportunidade de visitar essa igreja durante o processo da obra. Havia aqui vários profissionais: restauradores, operários; mãos que embelezaram, que deram vida, cor de novo a tudo isso que a gente está vendo”, comentou.

“Mas antes dessa restauração, a igreja foi construída lá trás e, aqui, mais uma vez, conectando o passado, o presente e o futuro, quero referenciar e reverenciar as comunidades quilombolas, porque essa igreja foi construída por mãos negras. Foi construída por mãos de pessoas que fugiram dos quilombos. Então, a gente não pode esquecer dessa história porque essa beleza é fruto do trabalho das pessoas, que é o povo brasileiro, e que não podem ser esquecidas jamais”, frisou o presidente Iphan.

“Hoje a gente celebra toda essa arquitetura, toda essa qualidade técnica, mas sem esquecer do passado, porque aqui vai ser um lugar de fé, vai ser um lugar de espiritualidade. Que essa fé e essa espiritualidade nos projetem ao amor, à cultura do encontro, ao acolhimento, à fraternidade e à justiça social, acima de tudo”, concluiu Leandro Grass.

Mais investimentos

Imagens da Catedral Basílica e a Capela de Santana, em Mariana, também serão restauradas. Foto: Pedro Henrique Hudson

Durante a cerimônia, também foram anunciados o repasse da Prefeitura de Mariana de quase R$ 282 mil à Arquidiocese, por meio de termo de fomento, para a restauração das 27 imagens da Catedral, bem como a assinatura do termo de compromisso entre o Ihpan e a Prefeitura para a restauração da Capela de Santana, em Mariana.

Reaberta para a fé e para a apreciação da arte

Para Padre Geraldo Buziani, responsável pela igreja, após os anos fechados, esse momento de entrega e reabertura é descrito como de alegria e bênçãos. “Primeiro lugar, pela importância religiosa: aqui é uma Igreja de São Francisco, onde a Ordem Franciscana Secular se reúne, celebra as festas ligadas à espiritualidade franciscana. Então, é um momento importante porque é um revitalizar da espiritualidade franciscana e da Ordem Franciscana Secular na nossa cidade de Mariana”, disse.

Outro ponto ressaltado pelo sacerdote é também devido ao seu valor artístico, com destaque que para a pintura da Agonia e Morte de São Francisco, no teto da sacristia, feita pelo do Mestre Ataíde, esse momento ganha ainda mais significado.  “Então, do ponto de vista religioso e artístico, é um grande ganho para comunidade marianense, para Minas Gerais e também para o Brasil”, declarou, em entrevista, Padre Geraldo.

Foto: Thalia Gonçalves

Essa opinião foi também compartilhada pelos presentes no evento. “Para nós, comparando com o futebol, é aquele tempo em que no finzinho da partida faz um gol. Então, para nós, foi a maior felicidade porque Mariana conhece os olhos de São Francisco; [os olhos] fechados para o povo eram muito duros”, expressou seu contentamento Dona Hebe Rola, professora emérita da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop).

“O povo de Mariana é um povo católico. Então, ele reza, reza muito, e acredita muito que tem que estar perto da imagem. Então, esse fechamento afastou a sociedade toda, dessa espécie de momento de felicidade que era vir a essa igreja rezar. E, para mim, essa igreja vale muito também, porque aqui está enterrado Manuel da Costa Ataíde, o maior pintor do período colonial que é marianense”, completou Dona Hebe.

Celebração religiosa

Já nesta quarta-feira, 04 de outubro, quando celebra a memória litúrgica de São Francisco de Assis, será realizada a cerimônia religiosa de reabertura da igreja. Enquanto isso, o templo permaneceu fechado para ser preparado liturgicamente para receber as celebrações religiosas.

A programação para o dia 04 prevê uma visita guiada, para a compreensão do trabalho de restauro artístico e estrutural, às 10h. Já às 19h, Dom Airton preside a missa festiva em honra ao patrono do templo, reabrindo oficialmente às portas para os fiéis, turistas e a população em geral.

Segundo o Padre Geraldo, a expectativa é que, com a reabertura, a Igreja de São Francisco de Assis volte a acolher as celebrações de casamentos e a Santa Missa semanal com as crianças.

Texto: Thalia Gonçalves